São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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Só no sapatinho

Designers brasileiras de calçados conquistam fatia do mercado de luxo

As grifes internacionais de calçados ainda fascinam -e muito- os pés mais descolados do Brasil. Mas as consumidoras do país estão se rendendo cada vez mais aos encantos dos sapatos de luxo brasileiros. Eles também estão ganhando espaço no exterior e já podem ser encontrados em megastores internacionais, como Saks e Harvey Nichols.
Lá fora, os sapatos de luxo levam em geral nomes masculinos -Manolo Blahnik, Salvatore Ferragamo ou Louis Vuitton. Aqui, eles estão sendo produzidos por uma brigada de mulheres. Francesca Giobbi, Constança Basto, Serpui Marie, Paula Ferber, Sandra Silveira e Sarah Chofakian são algumas das designers que comandam o boom do calçado fino no país.
Queridinha da socialites, Constança já viu suas criações desfilarem nos pés de atrizes como Nicole Kidman e Sarah Jessica Parker. Francesca Giobbi coleciona clientes famosas, como Paris Hilton e Naomi Campbell. Para as sapateiras, ter suas criações usadas por estrelas faz toda a diferença. "Eu lanço as minhas tendências, e isso não é fácil. Muitas vezes os meus sapatos só são compreendidos após serem vistos em celebridades", diz Francesca.
A atriz Carolina Ferraz, por exemplo, é fã de Paula Ferber, cujas criações ela já usou em cenas de "Belíssima". "Designers como a Paula estão resolvendo o sério problema de acabamento dos calçados brasileiros. Isso ajuda na divulgação do produto. Acho tudo lindo, e uso dentro e fora da novela", afirma Carolina.
"A mentalidade das brasileiras está mudando", diz Constança. "Elas estão cada vez mais antenadas no que acontece na moda do país, e eu acredito que a tendência é mudar mais ainda. Nós temos características fortes e isso tem sido cada vez mais valorizado."
Para Sarah Chofakian, que atua como designer desde 1997, a valorização do calçado de luxo brasileiro está ligada tanto à melhoria da qualidade do design quanto ao conforto. "A fôrma do sapato estrangeiro é mais estreita, por isso, não é muito adequado aos pés das brasileiras", diz.
Apesar do crescimento das vendas, como alardeiam as sapateiras, os calçados mais elaborados -e, portanto, mais caros- ainda têm muito o que conquistar no Brasil, cujo mercado de luxo é pequeno. "Existem no máximo 150 lojas que podem revender produtos com a nossa qualidade e preço", reclama Paula Ferber, que, ao lado da sócia Renata Paternostro, abriu sua primeira loja neste ano, na Vila Olímpia, em São Paulo. "Isso dificulta a produção e o desenvolvimento. Em muitos casos, a quantidade fabricada inviabiliza o preço final." Nas lojas dessas top designers, os calçados não saem por menos de R$ 200. Os mais caros ultrapassam R$ 1.000.
A qualidade do couro é outra preocupação das sapateiras. Para aprimorar sua criação, Francesca Giobbi investiu na construção de seu próprio curtume, no Rio Grande do Sul, e em parcerias com produtores italianos. "Uso o couro mestiço de exportação. A curtição da matéria-prima é feita com tecnologia de ponta", afirma. O couro mestiço, considerado muito nobre, é a pele do animal resultante do cruzamento de caprinos com ovinos.
Já Serpui Marie, uma das pioneiras do setor no país, investe em materiais alternativos. Ela usa fibras naturais, como palha de milho, ráfia e buriti. "São opções que valorizam o jeito de fazer moda brasileiro. Isso faz um sucesso absurdo tanto aqui quanto na França, nos EUA e no Japão", diz.
Na mesma linha, a designer Sandra Silveira, dona da fábrica de sapatos Henaghan, resolveu apostar nos solados de borracha nesta temporada. Ela já produziu calçados para grifes como Glória Coelho, Reinaldo Lourenço e Huis Clos. Agora, resolveu abrir a sua primeira loja, nos Jardins, com sua própria marca, aproveitando a maré de sucesso das sapateiras brasileiras, que cada vez pisam mais alto.


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