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Só no sapatinho
Designers brasileiras de calçados conquistam fatia do mercado de luxo
As grifes internacionais de
calçados ainda fascinam
-e muito- os pés mais
descolados do Brasil. Mas
as consumidoras do país estão
se rendendo cada vez mais aos
encantos dos sapatos de luxo
brasileiros. Eles também estão
ganhando espaço no exterior e
já podem ser encontrados em
megastores internacionais, como Saks e Harvey Nichols.
Lá fora, os sapatos de luxo levam em geral nomes masculinos
-Manolo Blahnik, Salvatore Ferragamo ou Louis Vuitton. Aqui,
eles estão sendo produzidos por
uma brigada de mulheres. Francesca Giobbi, Constança Basto,
Serpui Marie, Paula Ferber, Sandra Silveira e Sarah Chofakian são
algumas das designers que comandam o boom do calçado fino
no país.
Queridinha da socialites, Constança já viu suas criações desfilarem nos pés de atrizes como Nicole Kidman e Sarah Jessica Parker. Francesca Giobbi coleciona
clientes famosas, como Paris Hilton e Naomi Campbell. Para as sapateiras, ter suas criações usadas
por estrelas faz toda a diferença.
"Eu lanço as minhas tendências, e
isso não é fácil. Muitas vezes os
meus sapatos só são compreendidos após serem vistos em celebridades", diz Francesca.
A atriz Carolina Ferraz, por
exemplo, é fã de Paula Ferber, cujas criações ela já usou em cenas
de "Belíssima". "Designers como
a Paula estão resolvendo o sério
problema de acabamento dos calçados brasileiros. Isso ajuda na divulgação do produto. Acho tudo
lindo, e uso dentro e fora da novela", afirma Carolina.
"A mentalidade das brasileiras
está mudando", diz Constança.
"Elas estão cada vez mais antenadas no que acontece na moda do
país, e eu acredito que a tendência
é mudar mais ainda. Nós temos
características fortes e isso tem sido cada vez mais valorizado."
Para Sarah Chofakian, que atua
como designer desde 1997, a valorização do calçado de luxo brasileiro está ligada tanto à melhoria
da qualidade do design quanto ao
conforto. "A fôrma do sapato estrangeiro é mais estreita, por isso,
não é muito adequado aos pés das
brasileiras", diz.
Apesar do crescimento das vendas, como alardeiam as sapateiras, os calçados mais elaborados
-e, portanto, mais caros- ainda
têm muito o que conquistar no
Brasil, cujo mercado de luxo é pequeno. "Existem no máximo 150
lojas que podem revender produtos com a nossa qualidade e preço", reclama Paula Ferber, que, ao
lado da sócia Renata Paternostro,
abriu sua primeira loja neste ano,
na Vila Olímpia, em São Paulo.
"Isso dificulta a produção e o desenvolvimento. Em muitos casos,
a quantidade fabricada inviabiliza
o preço final." Nas lojas dessas top
designers, os calçados não saem
por menos de R$ 200. Os mais caros ultrapassam R$ 1.000.
A qualidade do couro é outra
preocupação das sapateiras. Para
aprimorar sua criação, Francesca
Giobbi investiu na construção de
seu próprio curtume, no Rio
Grande do Sul, e em parcerias
com produtores italianos. "Uso o
couro mestiço de exportação. A
curtição da matéria-prima é feita
com tecnologia de ponta", afirma.
O couro mestiço, considerado
muito nobre, é a pele do animal
resultante do cruzamento de caprinos com ovinos.
Já Serpui Marie, uma das pioneiras do setor no país, investe em
materiais alternativos. Ela usa fibras naturais, como palha de milho, ráfia e buriti. "São opções que
valorizam o jeito de fazer moda
brasileiro. Isso faz um sucesso absurdo tanto aqui quanto na França, nos EUA e no Japão", diz.
Na mesma linha, a designer
Sandra Silveira, dona da fábrica
de sapatos Henaghan, resolveu
apostar nos solados de borracha
nesta temporada. Ela já produziu
calçados para grifes como Glória
Coelho, Reinaldo Lourenço e
Huis Clos. Agora, resolveu abrir a
sua primeira loja, nos Jardins,
com sua própria marca, aproveitando a maré de sucesso das sapateiras brasileiras, que cada vez pisam mais alto.
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