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Escritora fugia dos holofotes
CRÍTICO DA FOLHA
Como repórter, ela entrevistou
James Joyce, Coco Chanel e D. W.
Griffith. Expatriada na Europa,
conheceu Marcel Duchamp, Samuel Beckett e Charles Chaplin.
Escritora, foi admirada por Truman Capote, Anaïs Nin, Dylan
Thomas e, é claro, T.S. Eliot.
Mas a mulher que parecia ter
nas mãos as chaves douradas do
século 20 nunca se aproximou
muito dos holofotes. Talvez por
isso Djuna Barnes (1892-1982)
gostasse de se considerar a mais
famosa escritora desconhecida do
mundo.
Filha de uma violinista e de um
pintor frustrado, que entretinham em casa Jack London e
Franz Liszt, e neta de uma sufragista, Barnes cedo se associou à
boêmia do Greenwich Village, em
Nova York, escrevendo poemas,
peças de vanguarda (trabalhou
com Eugene O'Neill) e colaborando em jornais como desenhista e
repórter.
Em 1921, viajou à Europa, onde
permaneceu até o início da Segunda Guerra. Tornou-se correspondente das revistas "Vanity
Fair" e "New Yorker". Com trânsito livre nos círculos modernistas
de Paris, fez parte de um grupo de
senhoras que ficou conhecido como a Academia de Mulheres e ao
qual pertencia Gertrude Stein.
Esse círculo feminino, feminista
e abertamente homossexual serviu de inspiração para Barnes escrever o panfleto satírico "Ladies"
Almanack" [Almanaque das Senhoras]. A heroína lésbica da história, Dame Musset, é apoiada em
Natalie Barney, que comandava
um salão literário parisiense. Os
Estados Unidos proibiram a obra.
Destino semelhante teria tido
"No Bosque da Noite", não fosse a
intervenção de T. S. Eliot. Barnes,
que acabara de romper com a escultora Thelma Wood, foi curtir a
fossa na casa de campo de Peggy
Guggenheim, na Inglaterra, onde
escreveu o romance. O título original, "Nightwood", é trocadilho
com o nome da ex-namorada.
Djuna Barnes sempre foi arredia. Chegou a responder ao periódico literário "The Litte Review",
que lhe enviara um questionário:
"Desculpem-me, mas tenho pouco interesse em responder a essas
perguntas. Nem tenho muito respeito pelo público".
Sobre o crescente interesse lésbico por sua obra, ela tergiversava, com receio de que seus livros
se reduzissem a rótulos. "Eu não
era lésbica; apenas amava Thelma", afirmou, na década de 70.
(MP)
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