São Paulo, sábado, 19 de junho de 2004

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Escritora fugia dos holofotes

CRÍTICO DA FOLHA

Como repórter, ela entrevistou James Joyce, Coco Chanel e D. W. Griffith. Expatriada na Europa, conheceu Marcel Duchamp, Samuel Beckett e Charles Chaplin. Escritora, foi admirada por Truman Capote, Anaïs Nin, Dylan Thomas e, é claro, T.S. Eliot.
Mas a mulher que parecia ter nas mãos as chaves douradas do século 20 nunca se aproximou muito dos holofotes. Talvez por isso Djuna Barnes (1892-1982) gostasse de se considerar a mais famosa escritora desconhecida do mundo.
Filha de uma violinista e de um pintor frustrado, que entretinham em casa Jack London e Franz Liszt, e neta de uma sufragista, Barnes cedo se associou à boêmia do Greenwich Village, em Nova York, escrevendo poemas, peças de vanguarda (trabalhou com Eugene O'Neill) e colaborando em jornais como desenhista e repórter.
Em 1921, viajou à Europa, onde permaneceu até o início da Segunda Guerra. Tornou-se correspondente das revistas "Vanity Fair" e "New Yorker". Com trânsito livre nos círculos modernistas de Paris, fez parte de um grupo de senhoras que ficou conhecido como a Academia de Mulheres e ao qual pertencia Gertrude Stein.
Esse círculo feminino, feminista e abertamente homossexual serviu de inspiração para Barnes escrever o panfleto satírico "Ladies" Almanack" [Almanaque das Senhoras]. A heroína lésbica da história, Dame Musset, é apoiada em Natalie Barney, que comandava um salão literário parisiense. Os Estados Unidos proibiram a obra.
Destino semelhante teria tido "No Bosque da Noite", não fosse a intervenção de T. S. Eliot. Barnes, que acabara de romper com a escultora Thelma Wood, foi curtir a fossa na casa de campo de Peggy Guggenheim, na Inglaterra, onde escreveu o romance. O título original, "Nightwood", é trocadilho com o nome da ex-namorada.
Djuna Barnes sempre foi arredia. Chegou a responder ao periódico literário "The Litte Review", que lhe enviara um questionário: "Desculpem-me, mas tenho pouco interesse em responder a essas perguntas. Nem tenho muito respeito pelo público".
Sobre o crescente interesse lésbico por sua obra, ela tergiversava, com receio de que seus livros se reduzissem a rótulos. "Eu não era lésbica; apenas amava Thelma", afirmou, na década de 70.
(MP)


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