São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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Lenora de Barros brinca com o tempo em mostra

A identidade e a palavra também são temas da exposição que tem abertura hoje

Em "Temporália", na galeria Millan, em São Paulo, a artista cruza linguagens, como vídeo, fotografia e instalação

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Bolinhas de pingue-pongue, ponteiros de relógio, tampas de alçapões e um jogo de palavras são elementos prosaicos que viram a matéria-prima da poética de Lenora de Barros, que elegeu o tempo como o eixo de sua nova exposição na galeria Millan, em São Paulo. "Temporália" tem abertura hoje, às 20h.
Por meio de linguagens e suportes diversos -como a instalação sonora, a fotografia e o vídeo-, a artista, além da discussão sobre o tempo, continua em sua pesquisa a respeito de temas com os quais vêm trabalhando desde o início de sua carreira, no final dos anos 70, como a identidade e a palavra.
"Temporália" tem como uma de suas principais atrações a instalação "Quanto Tempo o Tempo Tem", que coloca o espectador em uma cabine retangular de vidro ouvindo uma performance vocal que vai de um tom violento, logo no início, a momentos mais calmos, mas sempre com uma tensão presente.
"Usei uma brincadeira de criança sobre o tempo e fui retrabalhando essa frase, inclusive com participação da minha mãe [Electra Barros, mulher de Geraldo de Barros, pai de Lenora]", conta.
"Quanto Tempo..." foi colocada na sala principal da galeria próxima a outra obra, também em formato retangular. No teto e no piso da galeria, a artista fixou uma tampa de sótão e outra de alçapão. "Ambas as portas estão fechadas com cadeado e o desenho do espaço entre elas é apenas imaginado por quem as observa", explica Lenora.

Jogos visuais
Outra obra inédita é o vídeo "Tempinho", no qual a artista, com uma pinça, começa a fazer brincadeiras visuais com diminutos ponteiros de relógio, lidando com o acaso e até criando formas mais figurativas, parecidas com pássaros.
O tema da identidade é forte em uma série de quatro fotografias da língua de Lenora, realizadas em quatro momentos (1979, 1990, 1994 e 2008), com nítidas diferenças e que dialogam com outra fotografia, na qual a superfície lunar é mesclada a uma obra retratada por Man Ray. "Há uma conversa visual entre os dois trabalhos e eles lidam com o tempo e suas marcas, seus registros", diz.
A bolinha de pingue-pongue, presente em diversas fases da produção de Lenora, está em "Devolução", objeto formado por três pequenas caixas reunidas, com uma bolinha, e onde está inscrita a frase "Devolver para Lenora na Caixa ao Lado".
As palavras, com inúmeros rearranjos e novos sentidos, são a matriz do que Lenora chama de "placas". "Fiz uma pesquisa intensa para achar essas palavras, que, colocadas nesse contexto, criam novas leituras", afirma a artista, que foi uma das curadoras de grande exposição sobre a poesia concreta no ano passado, no Instituto Tomie Ohtake. "É provável que se veja alguma referência à poesia concreta na mostra.
Mas, na verdade, são alusões muito básicas, quase infantis, ao que se tornou conhecido como poesia concreta."


TEMPORÁLIA - LENORA DE BARROS
Quando:
abertura hoje, às 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 16/7
Onde: galeria Millan (r. Fradique Coutinho, 1.360, tel. 0/xx/11/3031-6007)
Quanto: entrada franca



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