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MÚSICA
Criada nos anos 70, sucesso nos 80 e 90, banda põe os pés fora da Europa para, como diz sua vocalista, garantir o sustento
Por bom dinheiro, Human League vem ao país
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
"Será um show ótimo. Tocaremos canções que vocês provavelmente já ouviram." A própria Susan Ann Sulley, a vocalista loira
do Human League, resume o que
esperar da apresentação da banda, em 24 de setembro, no Nokia
Trends, que acontece no Pavilhão
Oeste do Anhembi, em São Paulo,
e nos galpões 5 e 6 do Cais do Porto, no Rio -o Human League toca na versão paulista do evento.
"Don't You Want Me", "Heart
Like a Wheel", "Human", "(Keep
Feeling) Fascination"... Essas são
o tipo de canções citadas por Sulley, músicas que teimavam em
não sair das rádios nos anos 80/
começo dos 90.
Em conversa por telefone com a
Folha, Sulley é bem honesta e direta. "É assim que tiramos nosso
sustento agora, saindo em turnês
pelo mundo, não apenas pela Europa. Fomos à África do Sul, Argentina, Chile, Austrália, Estados
Unidos... Se o dinheiro for bom e
tivermos tempo, nós iremos!"
E eles vêm ao Brasil, pela primeira vez, desde que o grupo foi
formado, no final dos anos 70 em
Sheffield, na Inglaterra. Sucesso
até o começo dos 90, o Human
League viveu, até uns três anos
atrás, numa hibernação forçada,
mas nunca acabou oficialmente.
"A banda nunca se separou.
Sempre trabalhamos, gravamos
alguns discos que não fizeram
muito sucesso como os anteriores... Às vezes não conseguíamos
excursionar o quanto queríamos.
É triste estar em uma banda com
mais de 25 anos de vida e nunca
ter ido ao Brasil... Eu e Joanne
[Catherall, a vocalista morena do
grupo] sempre estivemos com a
banda, nunca tivemos outro trabalho, mas sem termos sucesso
todo o tempo."
É o caso de "Secrets", o último
disco de estúdio do Human League. Lançado em 2001, passou em
branco pelas lojas. "Tivemos as
melhores resenhas de nossa carreira com "Secrets", poucas pessoas falaram mal, até nos surpreendeu. Mas ninguém comprou o disco, e, quando não compram seu disco, não há muito o
que fazer. Somos orgulhosos do
álbum, mas não vendeu..."
Segundo Sulley, "Secrets" mostrou uma nova cara da banda, que
não aparecia desde o final dos
anos 70. Uma cara diferente do
synth-pop dos álbuns "Dare!"
(1981), "Hysteria" (84) e "Romantic?" (90). "O Human League começou antes de eu e Joanne entrarmos para a banda nos anos 80,
mas todos só se lembram das músicas mais pop, esquecem da instrumentação que havia antes."
"Secrets" não foi suficiente para
impulsionar a carreira da banda,
mas o revival do electro e da celebração aos anos 80 deram uma
empurrada, e o Human League
virou banda quente de novo. Voltaram aos principais centros de
shows da Europa, como os festivais V2004 e Homelands. "Deixamos de tocar em festivais nos últimos anos, mas gostamos desse tipo de festa. É ao vivo que somos
bons", alegra-se Sulley.
Novos nomes, como Scissor Sisters e Fischerspooner, cujos sintetizadores e visual mais do que
emanam Human League, também ajudaram. "Fico orgulhosa
quando pessoas mais jovens dizem que se inspiraram em nós. Já
ouvi alguém do Scissor Sisters dizer que uma de nossas canções,
"(Keep Feeling) Fascination", é
uma das melhores que já ouviram...", diz. Mas: "Não é meu tipo
de música, devo confessar que
não ouço essas bandas, gosto de
r&b, essas coisas".
Criado por Ian Craig Marsh e
Martyn Ware -que em 1980 deixariam o grupo-, o Human League ganhou em Phil Oakey um
frontman carismático. Logo depois, ele conheceu Susan e Joanne
num clube e as chamou para cantar na banda.
Ao lado de grupos como Ultravox, o Human League deu aspecto mais dançante e menos político
ao pós-punk de Gang of Four e
PIL -até por isso, muitas vezes
são colocados em escala inferior.
"Muita gente realmente não dá
crédito para o que bandas como
nós fizemos. Quando o punk apareceu, eles usavam instrumentação conservadora: bateria, guitarra, baixo. Quando começamos,
mudamos a forma como a música
era feita, porque ninguém havia
usado sintetizadores daquela forma, pensavam que sintetizadores
eram seres estranhos, coisa de
grupos de rock progressivo. O
Human League tornou o sintetizador um instrumento popular,
assim como a bateria eletrônica.
Mas muita gente não se lembra
disso", lembra Sulley.
O pós-punk voltou ao topo do
pop graças a bandas como Franz
Ferdinand, Bloc Party, Rapture.
Mas Sulley vê esse renascimento
com ironia: "Franz Ferdinand
pós-punk? Não! Talvez possa parecer pós-punk para muita gente,
mas eu vivi tudo aquilo e, para
mim, Franz Ferdinand e Bloc
Party não se comparam a Gang of
Four. Dão muito crédito a eles.
Não me entenda mal, eu até gosto
de Franz Ferdinand, mas, para
mim, eles são uma banda pop".
Nokia Trends
Com: Human League, Carl Craig, The
Glimmers, Alter Ego e outros
Quando: 24 de setembro
Onde: Pavilhão Oeste do Anhembi (av.
Olavo Fontoura, 1.209, São Paulo) e
galpões 5 e 6 do Cais do Porto (praça
Mauá, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 60 (até 31/8) e R$ 90
Inf.: www.nokiatrends.com.br
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