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Coetzee inclui brasileiros em livro
"Summertime", que acaba de sair no Reino Unido, é o terceiro tomo de uma trilogia com as memórias de um duplo do autor
"Capítulo brasileiro" do novo livro de J.M. Coetzee é a história política de um exílio e a narrativa melancólica de um amor frustrado
ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Uma família brasileira constitui um dos núcleos narrativos
de "Summertime", o novo romance de J. M. Coetzee, Prêmio Nobel de 2003 e um dos
mais importantes escritores
em atividade. O livro foi lançado neste mês no Reino Unido
-e ganhará em 2010 edição
brasileira, pela Companhia das
Letras.
Nos Estados Unidos, onde só
será publicado em dezembro,
"Summertime" foi destaque na
edição deste mês da revista
"Harpers", que reproduziu um
trecho da obra -justamente o
que traz a história das personagens Adriana Teixeira Nascimento e suas duas filhas, Joana
e Maria Regina.
A obra é o terceiro tomo de
uma trilogia com as memórias
de um duplo do escritor, chamado John Coetzee.
Os volumes anteriores foram
"Infância" (1997) e "Juventude" (2002). Quando começa o
novo livro, porém, o personagem Coetzee está morto, e o
que se lê são extratos de uma
obra que ele deixou sem terminar, narrando o seu retorno à
casa do pai, nos anos 70, na
África do Sul.
A elaboração narrativa do livro se torna ainda mais complexa por incluir, em meio aos
excertos da obra inacabada,
uma série de entrevistas que
um biógrafo do escritor, Mr.
Vincent, faz décadas depois
com mulheres que conviveram
com o personagem Coetzee e
foram amadas por ele.
Uma dessas mulheres é a bailarina Adriana, que deixou o
Brasil na década de 70 com o
marido e as filhas, por causa do
golpe militar, mudou-se para
Luanda (Angola) e, mais tarde,
refugiou-se na Cidade do Cabo
(África do Sul), onde conheceu
Coetzee, então jovem professor
de inglês.
Na entrevista a Mr. Vincent,
Adriana conta de seu exílio e
descreve a sua suspeita de que o
professor estaria tentando seduzir a filha mais jovem, Maria
Regina. Por fim, revela que
Coetzee, de fato, desejava não a
filha, mas ela mesma, Adriana,
que decidiu rejeitá-lo, porque
ele parecia um homem "desencarnado" e não especialmente
destinado à vida conjugal.
Bastante vigoroso, o "capítulo brasileiro" do livro é ao mesmo tempo a história política de
um exílio e a narrativa melancólica de um amor frustrado.
Cita São Paulo, o golpe de 1964
e fala da prisão do marido de
Adriana por "militares", uma
das palavras usadas em português na obra, além de "caminhonete", "mamãe" e "brevidades" -os tradicionais biscoitos
que Coetzee talvez tenha saboreado no país quando esteve na
Flip (Festa Literária de Paraty),
em 2007.
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