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Osgêmeos assinam cartaz do festival
Dupla paulistana também indicou ao festival filme sobre grafiteiros alemães, um dos quais mora em SP
FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Rua e cinema se encontram
nesta edição da Mostra, que
convidou os grafiteiros mais
populares do país para criar o
cartaz do festival. A dupla de artistas Osgêmeos, formada pelos
irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, desenhou um de seus famosos garotos amarelos, que
podem ser reconhecidos em
grafites espalhados por toda a
cidade. Ele será posteriormente animado para a vinheta que
antecede as exibições dos filmes da Mostra.
"A inspiração foi nosso universo da rua mesmo", disse
Gustavo. "A gente adora cinema, é uma das nossas paixões.
Somos ecléticos, mas gostamos
bastante de documentários."
No cartaz do festival, o garoto
amarelo segura uma bicicleta,
cujas rodas são feitas de latas de
filmes. Ele solta um rojão do
qual saem diversos rolos de filmes ao estourar.
Dois dias depois da abertura
da Mostra, em 24 de outubro,
os artistas abrem uma exposição no Museu da Faap, na qual
seus personagens ganham forma 3D e os grafites viram telas.
Esta é a terceira vez que os
personagens amarelos de Osgêmeos acabam em animação. A
primeira foi através de um projeto com uma empresa de bebida energética, e a segunda foi
no episódio final do seriado da
Globo "Cidade dos Homens",
criado por Fernando Meirelles,
quando os protagonistas Acerola e Laranjinha se transformam em desenho, em 2005.
Filmes sobre pichação
Gustavo e Otávio também foram responsáveis por apresentar aos organizadores da Mostra o documentário alemão
"Art Inconsequence - Advanced Vandalism" (arte inconsequência, vandalismo avançado), que segue cinco artistas em
seus ataques aos trens vermelhos e brancos da extensa rede
ferroviária que cruza diversas
cidades da Alemanha.
A Mostra terá ainda mais um
documentário do gênero, o brasileiro "Pixo", de Roberto T.
Oliveira e João Wainer. Exibido em julho em Paris, o filme
segue pichadores escalando
edifícios de São Paulo.
No filme do diretor alemão
Robert Kaltenhauser, todos os
artistas aparecem mascarados
e nem nome ou apelidos são divulgados. Um ator local foi convidado só para fazer a voz de todos os cinco, tamanho é o medo
de aparecer e se encrencar ainda mais com a polícia alemã.
Dessa forma, o longa se foca
menos nos autores e mais na
produção dos trabalhos, com
um vaivém intenso de trens
pintados, parecendo muitas vezes um grande videoclipe.
Entre os trabalhos, há quem
escreva grandes manifestos em
letras amontoadas nas portas e
interior dos trens, ou singelas
linhas finas coloridas bem
compridas. Há o que produz
com estêncil centenas de bombas caindo ou ainda aquele que
nega ser grafiteiro -ele faz
grandes murais geométricos
nas laterais dos trens.
"Não são os artistas mais conhecidos da Alemanha, na verdade, porque tudo o que eles fazem nos trens é apagado em
dois, três dias, ou cinco se tiverem sorte", diz o coprodutor do
filme, Peter Michalski, editor
da "Graffiti Magazine".
Alemão em SP
Um desses artistas, que não
quer ter seu nome publicado,
está há oito meses morando em
São Paulo, entre viagens pelo
Brasil e América do Sul.
"Na Alemanha, podemos fazer o que quisermos, desenhar
uma suástica ou fazer uma flor,
um coração, ninguém vai gostar de jeito nenhum, vão te dedurar, chamar a polícia. Aqui
em São Paulo, não. As pessoas
gostam se você fizer algo legal.
Então passei até mesmo a fazer
umas coisas coloridas", disse o
artista à Folha.
Morando no Cambuci, o alemão se integrou rapidamente
aos grupos de grafites, como a
turma de Osgêmeos, e já aprendeu as manhas dos brasileiros.
"Aqui não tem problema nenhum. Se o policial chega, é só
dizer que tem licença para pintar, não precisa mostrar nada",
contou. "Também já me pararam umas 20 vezes na rua, enquanto eu fazia um trabalho,
para me pedir informação de
direções. Se fosse na Alemanha, já teria sido atropelado."
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