São Paulo, sábado, 19 de setembro de 2009

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Osgêmeos assinam cartaz do festival

Dupla paulistana também indicou ao festival filme sobre grafiteiros alemães, um dos quais mora em SP

FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Rua e cinema se encontram nesta edição da Mostra, que convidou os grafiteiros mais populares do país para criar o cartaz do festival. A dupla de artistas Osgêmeos, formada pelos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, desenhou um de seus famosos garotos amarelos, que podem ser reconhecidos em grafites espalhados por toda a cidade. Ele será posteriormente animado para a vinheta que antecede as exibições dos filmes da Mostra.
"A inspiração foi nosso universo da rua mesmo", disse Gustavo. "A gente adora cinema, é uma das nossas paixões. Somos ecléticos, mas gostamos bastante de documentários."
No cartaz do festival, o garoto amarelo segura uma bicicleta, cujas rodas são feitas de latas de filmes. Ele solta um rojão do qual saem diversos rolos de filmes ao estourar.
Dois dias depois da abertura da Mostra, em 24 de outubro, os artistas abrem uma exposição no Museu da Faap, na qual seus personagens ganham forma 3D e os grafites viram telas.
Esta é a terceira vez que os personagens amarelos de Osgêmeos acabam em animação. A primeira foi através de um projeto com uma empresa de bebida energética, e a segunda foi no episódio final do seriado da Globo "Cidade dos Homens", criado por Fernando Meirelles, quando os protagonistas Acerola e Laranjinha se transformam em desenho, em 2005.

Filmes sobre pichação
Gustavo e Otávio também foram responsáveis por apresentar aos organizadores da Mostra o documentário alemão "Art Inconsequence - Advanced Vandalism" (arte inconsequência, vandalismo avançado), que segue cinco artistas em seus ataques aos trens vermelhos e brancos da extensa rede ferroviária que cruza diversas cidades da Alemanha.
A Mostra terá ainda mais um documentário do gênero, o brasileiro "Pixo", de Roberto T. Oliveira e João Wainer. Exibido em julho em Paris, o filme segue pichadores escalando edifícios de São Paulo.
No filme do diretor alemão Robert Kaltenhauser, todos os artistas aparecem mascarados e nem nome ou apelidos são divulgados. Um ator local foi convidado só para fazer a voz de todos os cinco, tamanho é o medo de aparecer e se encrencar ainda mais com a polícia alemã.
Dessa forma, o longa se foca menos nos autores e mais na produção dos trabalhos, com um vaivém intenso de trens pintados, parecendo muitas vezes um grande videoclipe.
Entre os trabalhos, há quem escreva grandes manifestos em letras amontoadas nas portas e interior dos trens, ou singelas linhas finas coloridas bem compridas. Há o que produz com estêncil centenas de bombas caindo ou ainda aquele que nega ser grafiteiro -ele faz grandes murais geométricos nas laterais dos trens.
"Não são os artistas mais conhecidos da Alemanha, na verdade, porque tudo o que eles fazem nos trens é apagado em dois, três dias, ou cinco se tiverem sorte", diz o coprodutor do filme, Peter Michalski, editor da "Graffiti Magazine".

Alemão em SP
Um desses artistas, que não quer ter seu nome publicado, está há oito meses morando em São Paulo, entre viagens pelo Brasil e América do Sul.
"Na Alemanha, podemos fazer o que quisermos, desenhar uma suástica ou fazer uma flor, um coração, ninguém vai gostar de jeito nenhum, vão te dedurar, chamar a polícia. Aqui em São Paulo, não. As pessoas gostam se você fizer algo legal. Então passei até mesmo a fazer umas coisas coloridas", disse o artista à Folha.
Morando no Cambuci, o alemão se integrou rapidamente aos grupos de grafites, como a turma de Osgêmeos, e já aprendeu as manhas dos brasileiros.
"Aqui não tem problema nenhum. Se o policial chega, é só dizer que tem licença para pintar, não precisa mostrar nada", contou. "Também já me pararam umas 20 vezes na rua, enquanto eu fazia um trabalho, para me pedir informação de direções. Se fosse na Alemanha, já teria sido atropelado."





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