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Crítica/"História das Prisões no Brasil Vols. 1 e 2"
Coletânea de ensaios amplia conhecimento da história prisional
LUÍS FRANCISCO CARVALHO FILHO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A história das prisões no
Brasil é uma coleção de
ensaios. Não se trata de
narrativa linear, cronológica.
São textos produzidos a partir
de pesquisas acadêmicas.
A historiografia das prisões é
bastante acanhada no Brasil. O
livro tem o mérito de mostrar
que esta barreira de conhecimento está se rompendo.
Há textos desiguais, alguns
ainda contaminados pelo pensamento estreito que insiste
em ter como principal fonte de
reflexão a dominação das classes populares pela elite, outros
bastante inovadores são capazes de descobrir aspectos marcados pelas relações pessoais e
pelo instinto de sobrevivência.
Caso fosse necessário identificar um ponto de conexão entre os estabelecimentos prisionais investigados, este seria a
insalubridade. Em qualquer
canto, em qualquer época, as
prisões sempre foram marcadas pelo acúmulo de gente e pela absoluta ausência de condições sanitárias.
Até mesmo nos momentos
de esforço para que a questão
penitenciária no Brasil fosse
tratada de forma "civilizada", a
improvisação e a superlotação
fizeram com que estabelecimentos idealizados como "modelos" logo se corrompessem.
A maioria dos estudos se concentra no Rio (a cadeia da Corte, a presiganga real, navio
transformado em cárcere, ancorado na baía da Guanabara
entre 1808 e 1831, o Calabouço,
o Aljube, a Casa de Correção
inaugurada em 1850, a Casa de
Detenção do Rio de Janeiro na
Primeira República), mas há
espaço para ensaios sobre prisões no Ceará, Pernambuco,
São Paulo e Rio Grande do Sul.
Os textos cuidam da modernização dos códigos e do sistema carcerário, da transição iluminista, do seu fracasso, da visão científica dos criminosos,
do trabalho dos presos e dos
presos sem trabalho, da prisão
como estabelecimento para a
guarda de escravos, para serem
submetidos ao açoite, de presos
por vadiagem ou por "razões
desconhecidas", da prisão como único contato substancial
dos detentos com o Estado,
perpassando um período que se
estende do final do século 18 a
meados do século 20.
Particularmente interessante é o ensaio de Marcos Paulo
Pedrosa Costa sobre o presídio
de Fernando de Noronha no século 19: "Tinha por paredes o
mar e a própria ilha era a prisão". Além da pena a cumprir,
laços sociais prendiam ainda
mais os detentos ao lugar. Muitos exerciam função capitalista,
ocupavam casas, exploravam
imóveis, comércio, emprestavam dinheiro. "Não era incomum soldados e oficiais festejarem o aniversário de um galé
jantando na casa dele." Nesse
contexto, o regime disciplinar e
os conflitos entre condenados e
sistema de vigilância eram absolutamente atípicos.
Lacunas
Algumas lacunas podem ser
notadas em uma obra com título tão ambicioso: a prisão no
período colonial recebe tratamento bastante ligeiro.
Como contar a história das
prisões no Brasil, sem cuidar da
Bahia, a antiga capital, responsável pelos grandes julgamentos, que já em 1551 tinha uma
cadeia "muito boa e muito bem
acabada"? E Minas Gerais?
E como contar a história das
prisões no Brasil sem investigar o maior sistema penitenciário do país, localizado em São
Paulo a partir da segunda metade do século 20? Outros volumes serão muito bem-vindos...
HISTÓRIA DAS PRISÕES NO BRASIL VOLS. 1 E 2
Organização: Clarissa Nunes Maia,
Flávio de Sá Neto, Marcos Costa e
Marcos Luiz Bretas
Editora: Rocco
Quanto: R$ 37 (320 págs.), cada vol.
Avaliação: bom
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