São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2005

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FILMES TV PAGA

Carnaval só é transgressão em Hollywood

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Batman Eternamente" (Max Prime, 12h45) sempre foi considerado a pior das adaptações de "Batman" para o cinema. Não há dúvida de que este filme de Joel Schumacher seja de doer, mas ele é pior que o recente "Batman Begins"? Duvido, mas os fãs julgam este longa de Christopher Nolan o melhor da série, sobretudo porque foi mais fiel aos quadrinhos.
O que é um grande problema, porque um filme tem de ser fiel à sua própria imagem, ou seja, àquilo que foi filmado e que ele está nos mostrando na tela e jamais àquilo que ele está reproduzindo (um livro, a vida real). Essa cobrança alucinada dos fãs, então, é como por uma biografia autorizada, pouco atenta à imagem, que é quem destaca os bons filmes dos fiascos.
É com esse tipo de olhar, por exemplo, que cinebiografias como "O Aviador" foram atacadas. Porque Martin Scorsese queria menos falar sobre a vidinha dândi e digna de revista "Caras" de Howard Hughes e mais sobre a efemeridade da arte num mundo alucinado. E, assim como Scorsese e Tim Burton -que rodou "Batman" e "Batman - O Retorno", os dois melhores da série-, Schumacher não foi atrás de uma história oficial. Na impossibilidade de dar conta do universo do célebre personagem, ele optou pela carnavalização de tudo, um reverso estético que resultou, com perdão da palavra, num considerável vômito visual. Assim, "Batman Eternamente" tem de tudo: Batman e Robin quase enamorados, combatendo um vilão, o Charada, que mais parece um arlequim anfetaminado, predominância de um cor-de-rosa e um verde-bebê um tanto suspeitos e cenas de ação um tanto desengonçadas.
É um desastre como cinema, mas também é a negação a uma história oficial asfixiante, uma transgressão respeitável numa indústria como a de Hollywood. "Batman Eternamente" é, acidentalmente ou não, um longa-metragem quase marginal, um quase filme de Rogério Sganzerla pichado por um arlequim.

O pior defeito de John Ford

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

John Ford tirava sarro de Howard Hawks, lembrando-lhe sempre que ganhara o Oscar de melhor direção por "Como Era Verde o Meu Vale" (Telecine Classic, 22h), que era um filme inferior ao "Sargento York" de Hawks.
É verdade, mas a base de comparação é muito frágil. "Como Era Verde" está intoxicado até a raiz do pior defeito de Ford, que era o sentimentalismo, aplicado aqui a uma família de mineradores do País de Gales.
Mas a base de sua comparação também não é assim tão forte. "Sargento York" não é um dos maiores Hawks, e naquele ano de 1941 existia um outro filme no pedaço, "Cidadão Kane", de Orson Welles. Ainda assim, Ford ganhou: impossível falar de cinema ignorando seus filmes. Ou seja: apesar dos pesares, vamos ao "Vale".

TV ABERTA

Acertando as Contas com Papai
Record, 14h.
(Getting Even With Dad). EUA, 1994, 108 min. Direção: Howard Deutsch. Com Macaulay Culkin, Ted Danson, Glenne Headly. Filho (Culkin) esconde o dinheiro do pai ladrão (Danson) a fim de fazer pequena chantagem: caso não se comporte por uma semana como um pai normal, não verá mais a cor do dinheiro. Idéia, no mínimo, revolucionária, mas Deustch ("Assassinos Substitutos") mata na direção.

Joey - Um Canguru em Apuros
Globo, 15h53
(Joey). Austrália, 1997, 96 min. Direção: Ian Barry. Com Ed Begley Jr., Jamie Croft, Alex McKenna. Bebê canguru, o Joey do título, tem os pais seqüestrados. Um adolescente será seu ajudante na missão de salvar seus amados progenitores. Sessão, obviamente, da tarde.

Intercine
Globo, 1h50.
Os inéditos "Um Criminoso Decente" (1999, de Thaddeus O'Sullivan, com Kevin Spacey, Linda Fiorentino), policial, e "Conspiração Internacional" (1999, de Olin Bucksey, com Gordon Currie, Ekaterina Rednikova), suspense, são os dois filmes que compõem o cardápio à escolha do público.

G-2 - O Guardião do Universo
Globo, 3h30.
(G2 - Mortal Conquest). EUA, 1998, 93 min. Direção: Nick Rotundo. Com Daniel Bernhardt, Meeka Schiro. Aqui não temos mais Conan, mas sim Conlan, herói cuja espada invencível os inimigos cobiçam. Não é uma comédia, o que faz merecer outro canal no televisor.

A Fogueira das Vaidades
SBT, 2h40.
(The Bonfire of the Vanities). EUA, 1990, 126 min. Direção: Brian de Palma. Com Tom Hanks, Melanie Griffith, Bruce Willis. Executivo atropela jovem negro e se dá mal na tal fogueira midiática norte-americana que faz das relações humanas aberrações circenses. De Palma não ser fiel ao notável livro de Tom Wolfe e preferiu o viés cômico, que, no caso, é bem mais crítico que o livro. Poucos entenderam isso, o que não deixa de ser uma grandissíssima pena. Dos melhores filmes da semana. Somente para São Paulo. (PSL)

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