São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007

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Baterista Art Blakey é tema da Coleção Folha

Obras do músico que fundou a banda Jazz Messengers e ajudou a consolidar o hard bop estão no 5º volume da série

"O instrumento mais próximo da alma humana é a bateria, porque, se o seu coração não bater, você está morto", dizia o baterista

DA REPORTAGEM LOCAL

Órfão, ele trabalhou em minas de carvão, casou-se quatro vezes, teve sete filhos e adotou outros sete. Um dos músicos mais influentes da história deste gênero musical, o baterista Art Blakey (1919-1990) é o tema do volume 5 da Coleção Folha Clássicos do Jazz, que chega às bancas neste domingo.
"O instrumento mais próximo da alma humana é a bateria, porque, se o seu coração não bater, você está morto", Blakey disse à revista "Down Beat", em 1979. "Se você não andar no ritmo, não consegue andar. Você precisa mastigar sua comida no ritmo. Todas as coisas têm um ritmo próprio."
Abandonado pelo pai e órfão de mãe aos 5 meses de idade, Arthur Blakey foi criado pela melhor amiga de sua progenitora. Aprendeu piano de ouvido, mas acabou trocando o instrumento pela bateria, que tocou, nos anos 40, nas bandas de alguns dos maiores nomes daquele período, como Fletcher Henderson, Mary Lou Williams e Billy Eckstine.
Em uma viagem à África, em 1948, aprendeu a rítmica complexa (polirritmia) que seria a marca registrada de seu estilo. E, de quebra, converteu-se ao islamismo, adotando o nome de Abdullah Ibn Buhaina -de onde vem o apelido Bu, pelo qual ficou conhecido.

Hard bop
Foi nos anos 50, ao lado do pianista Horace Silver (tema do volume 10 da Coleção Folha), que ele criou os Jazz Messengers, grupo fundamental da consolidação do hard bop, novo estilo que, incorporando elementos do gospel, do blues e do rhythm'n'blues, se contrapunha à suavidade do cool jazz. Para alguns, o hard bop enfatizaria os elementos "africanos" do jazz, em oposição à inflexão "européia" do cool.
Cheio de energia, o baterista comandou os Jazz Messengers até o final da vida -nos últimos anos, usando um aparelho auditivo no ouvido direito.
"Eu sinto as vibrações do chão, como Beethoven", explicou, já quase surdo, em uma entrevista, quatro meses antes de morrer. "Isso é que a música é, de todo modo: vibrações."

Álbum
As sete faixas do CD da Coleção Folha foram gravadas nas décadas de 1950 e 1960 e lançadas originalmente pelo selo Blue Note. Elas trazem diversas formações dos Jazz Messengers e mostram Blakey tocando ao lado de craques do trompete como Lee Morgan e Freddie Hubbard e saxofonistas do quilate de Benny Golson e Wayne Shorter.
O disco já abre com o tema de assinatura dos Messengers: "Moanin'", de Bobby Timmons e Jon Hendricks, e traz obras-primas como "A Night in Tunisia", de Dizzy Gillespie e Frank Paparelli -uma homenagem à geração do bebop, aberta por um solo extrovertido de Blakey, em seu melhor estilo.
O baterista improvisa extensivamente ainda em "Mosaic", de Cedar Walton, enquanto abre espaço para o brilho de Shorter em "Lester Left All" e "Free For All", temas de autoria do saxofonista.


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