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"CAPITÃO SKY E O MUNDO DE AMANHÃ"
Filme com Jude Law e Gwyneth Paltrow traz cenários criados por computadores
Fantasia saudosista necessita de atualidade
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
São bem contraditórios os sinais que "Capitão Sky e o
Mundo de Amanhã" emite. Estamos num mundo pretérito, mas
reorganizado segundo um uso
maximalista da computação gráfica. Estamos em um filme de animação, no entanto há atores para
animá-lo. Estamos rodeados de
clichês de velhas histórias em
quadrinhos (e do cinema também), mas eles nos remetem a algo de inusitado.
Esses sinais tornam a experiência de assistir a "Capitão Sky" um
tanto incômoda, já que o espectador ora é remetido a um passado
já vivido (ou não, tanto faz), ora se
sente transportado a um mundo
efetivamente de amanhã, onde os
filmes provavelmente prescindirão não só de lugares e cenários
verdadeiros -como este-, mas
também de atores. Há um excesso
de realidade em que somos chamados a descrer. Há um excesso
de técnica em que somos chamados a crer.
Em termos de ficção, estamos
no fim dos anos 30. O imaginário
apocalíptico corre solto. Nova
York é invadida por robôs gigantes que parecem saídos dos gibis
do Tio Patinhas. O capitão Sky entra em ação. Enfrentará montanhas de obstáculos antes de chegar ao gênio maluco que, do Nepal, orquestra a insânia.
Ele tem uma namorada, claro,
que é jornalista, claro. Intrépida
jornalista com rosto de Veronica
Lake, sensual e fálica como a Rosalind Russell de "Jejum de
Amor", com um chapéu de
Humphrey Bogart.
Sky e a namorada, Polly, vivem
num mundo que lembra "Metrópolis". É todo o imaginário futurista concebido no começo do século 20 e que nos anos 30 parecia
se voltar ameaçadoramente contra os homens.
Quem melhor do que o Zepellin
para expressar esse sentimento? É
como o filme começa: com o Zepellin chegando a uma Nova York
encarvoada, parece até que fotografada por Chick Fowles. Sabemos o que aconteceu com o Zepellin. Desastre, desgraça. E lá está
ele, pairando sobre Nova York, sinistro, à espera de um incêndio.
Essa imagem dá o tom de um
mundo em que o sentido vem do
progresso técnico. Mas há uma
distância no tempo. Estamos em
2004. Sabemos que "o mundo de
amanhã", isto é, a utopia técnica,
deu no que deu: em Hitler e no dr.
Totenkopf (o vilão do filme).
No entanto, estamos em 2004 e
de volta às utopias cientificistas: a
um mundo em que a ciência se arvora a explicar tudo (como no fim
do século 19) e, com a força do critério de autoridade, vende como
verdades insofismáveis o que não
passa de ideologia.
É essa atualidade que faz falta,
no fim das contas, a "Capitão
Sky". Na ausência dela, temos
diante de nós um simpático, porém anódino, folhetim saudosista. Mas quem quiser, no lugar de
"saudosista", ler a palavra regressivo não estará longe da verdade.
Capitão Sky e o Mundo de Amanhã
Sky Capitain and the World of Tomorrow
Direção: Kerry Conran
Produção: EUA/Inglaterra/México, 2004
Com: Jude Law, Gwyneth Paltrow,
Angelina Jolie
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Butantã, Tamboré e
circuito
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