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"SPARTAN"
Mamet faz festa com política dos EUA
Divulgação
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Val Kilmer (à frente) em cena do filme "Spartan", dirigido por David Mamet, que estréia hoje |
CLAUDIO SZYNKIER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O espartano do título é Val
Kilmer, agente formado no
Exército norte-americano. Ele é
chamado quando a filha de um
membro do governo desaparece.
As possibilidades de paradeiro
mostram-se bizarras.
É essencial notar que "Spartan"
é uma festa de fantasias. Mamet
sempre teve crença nos tecidos da
artificialidade. Em pessoas que
não existem fisicamente ou que se
fazem passar por algo. É uma tendência reveladora, sobretudo
quando vemos que "Spartan"
abre com imagens militares de
mata e camuflagem. Um filme de
guerra, portanto. Só que logo entramos na zona do thriller de seqüestro, que terá seus protocolos
remixados com os do filme de espionagem e, depois, com os do
"cinema de conspiração".
E há Kilmer, que se traveste de
bandido carniceiro para se unir a
um preso; que se disfarça de funcionário de um aeroporto para
operar uma espécie de contrabando. Se Mamet usa diferentes registros de gênero como máscaras para seu filme, Kilmer faz o mesmo,
se constrói e se reconstrói como
imagem. Só que as grandes fantasias -e a construção "fantasiada"
de Kilmer e dos registros existe
para evidenciá-las- são as do
carnaval político americano. Uma
folia de aparências e atrocidades
que visa a proteção do poder nas
mãos de um círculo.
Assim, a Esparta americana não
estaria bem na indumentária de
guerra, mas nos nobres castelos
políticos e em seus subterrâneos,
nas gravatas. Se a guerra é uma
instituição hedionda, ela modelou Kilmer e outros soldados para, ironicamente, desnudar esses
EUA -manipuladores de sua
própria história- em seus figurinos, em sua maquiagem democrática.
Mamet, travestido de militar,
maneja a câmera como se esta
fosse um fuzil: ele é o próprio Kilmer, no exercício de uma estética
do "treinamento bélico". Só que o
diretor conduz um fluxo narrativo e visual tão lúgubre quanto o
enredo de desaparecimento e nos
coloca em um mar de pistas falsas
e desencontros. Há uma usina de
manipulação de informações, e
não seria errado entender que
Mamet, para bem e para mal, imita também o governo americano.
Curiosamente, "Spartan" se
sustenta em uma chave dramática
de "fim dos tempos", que inflama
personagens e denuncia, no discurso sobre a política caseira, certo caráter de filme de momento. O
que não mina totalmente o esforço de Mamet como alfaiate.
Spartan
Spartan
Direção: David Mamet
Produção: EUA/Alemanha, 2004
Com: Val Kilmer, William H. Macy, Derek
Luke
Quando: a partir de hoje nos cines
Central Plaza, Cine Morumbi, Espaço
Unibanco e circuito
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