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CRÍTICA
Dilema entre ser ou não comercial se traduz em delicadeza
DA REPORTAGEM LOCAL
O dilema entre comercialismo e anticomercialismo parece acometer 11 em cada dez artistas jovens do pop nacional dos
anos 2000 e, sob esse prisma, é
preciso de cara dizer que "A Farsa
do Samba Nublado" não traz novidades em relação aos dois discos anteriores de Wado. Para que
o disco ganhe o mercado, quem
terá de mudar é o público, porque
o artista permanece intocado.
A senha é distribuída desde o
início, quando Wado aponta um
suposto "samba nublado", contradição em termos que indica a
vinda de um álbum soturno, melancólico, nublado. Uma farsa,
Wado parece querer "brincar"
-mas não, não há farsas aqui, e
então volta à tona com rapidez o
vértice comercial/anticomercial.
Não sendo farsesco e não procurando adornos e fantasias, "A
Farsa" acaba primando pela delicadeza, tanto em arranjos como
em composições e letras.
Fugindo de estigmas regionais,
ele habita ora o reggae ("Gargalhada Fatal"), ora o samba triste
("Amor e Restos Humanos", "Se
Vacilar o Jacaré Abraça"), ora o
coração tranqüilo de Walter
Franco ("Fuso"), ora a poesia de
faro raro dos fluminenses Luis
Capucho e Suely Mesquita ("Vai
Querer?"). Fugindo de cercas e
cercados na arte, faz do cinema
fonte de inspiração, na literal
"Amor e Restos Humanos" e na
arrastada "Tormenta", que cita a
chuva de sapos de "Magnólia".
As referências todas perseguem
um percurso de desencanto, que
encontra ponto poético forte na
bela imagem autoral de "era carteiro de favela/ que coisa bela,
contradição" (em "Carteiro de
Favela"). "Vai Querer?", dos colegas do Rio, soma ponto e contraponto: "O mundo é dos comerciantes/ por isso é que antes/
quando eu vendia tridentes/ a loja
era cheia". De volta ao começo, ao
primeiro dilema: será mesmo assim?
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
A Farsa do Samba Nublado
Artista: Wado e Realismo Fantástico
Lançamento: Outros Discos
Quanto: R$ 25, em média
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