São Paulo, quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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O jantares que não tive

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Como meu trabalho me "obriga" a visitar restaurantes em vários pontos do planeta (e quando não me obriga, eu me obrigo a fazê-lo), o primeiro jantar que me vem à cabeça, ao pensar naqueles que não tive, é um a que não poderia ter tido mesmo: no La Pyramide, em Vienne (França), quando era dirigido pelo chef Fernand Point, que morreu em 1955.
A razão é simples. A primeira grande renovação da cozinha francesa a que eu pude presenciar (ainda que de longe), a "nouvelle cuisine" dos anos 1970 e 80, foi protagonizada por discípulos do monumental (também corporalmente) Point. Os Troisgros, Bocuse, Chapel aprenderam com o mestre as diretrizes que os levariam a sacudir a dormência francesa de então. Imagine como deveria ser o coroa...
Também tenho cobiçado um restaurante em Tóquio chamado Mibu. O preço altíssimo não é o único obstáculo: trata-se de um pequeno clube, com uma dúzia de associados. Abre de vez em quando e só eles entram, com poucos convidados. A cozinha é tocada pelo monge Hiroyoshi Ishida, reverenciado por onde passa. Em 2003, Ferran Adrià foi aceito num jantar, e retribuiu levando-o ao elBulli. Capaz da troca de gentilezas virar lenda no Japão. Por enquanto, já virou um mangá.
Fica também no Japão, mas em Kyoto, outro objeto de desejo: aquele que é considerado o melhor kaiseki (menu-degustação) do mundo, o Arashiyama Kitcho. Problema: o preço, US$ 500 por pessoa. Quando resolvi respirar fundo e ir assim mesmo, encontrei o chef num evento em Tóquio e perguntei se ele estaria ou não por lá. Ele desconversou. Resolvi não arriscar -e não fui dessa vez. Uma pena, mas com esses US$ 1.000 comemos muita coisa boa!


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