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O jantares que não tive
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Como meu trabalho me
"obriga" a visitar restaurantes
em vários pontos do planeta (e
quando não me obriga, eu me
obrigo a fazê-lo), o primeiro
jantar que me vem à cabeça, ao
pensar naqueles que não tive, é
um a que não poderia ter tido
mesmo: no La Pyramide, em
Vienne (França), quando era
dirigido pelo chef Fernand
Point, que morreu em 1955.
A razão é simples. A primeira
grande renovação da cozinha
francesa a que eu pude presenciar (ainda que de longe), a
"nouvelle cuisine" dos anos
1970 e 80, foi protagonizada
por discípulos do monumental
(também corporalmente)
Point. Os Troisgros, Bocuse,
Chapel aprenderam com o
mestre as diretrizes que os levariam a sacudir a dormência
francesa de então. Imagine como deveria ser o coroa...
Também tenho cobiçado um
restaurante em Tóquio chamado Mibu. O preço altíssimo não
é o único obstáculo: trata-se de
um pequeno clube, com uma
dúzia de associados. Abre de
vez em quando e só eles entram, com poucos convidados.
A cozinha é tocada pelo monge
Hiroyoshi Ishida, reverenciado
por onde passa. Em 2003, Ferran Adrià foi aceito num jantar,
e retribuiu levando-o ao elBulli.
Capaz da troca de gentilezas virar lenda no Japão. Por enquanto, já virou um mangá.
Fica também no Japão, mas
em Kyoto, outro objeto de desejo: aquele que é considerado
o melhor kaiseki (menu-degustação) do mundo, o Arashiyama
Kitcho. Problema: o preço, US$
500 por pessoa. Quando resolvi
respirar fundo e ir assim mesmo, encontrei o chef num evento em Tóquio e perguntei se ele
estaria ou não por lá. Ele desconversou. Resolvi não arriscar
-e não fui dessa vez. Uma pena, mas com esses US$ 1.000
comemos muita coisa boa!
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