São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2010

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cinema

CRÍTICA DRAMA

Solondz mantém seu repertório limitado

Esquemático e sem ritmo, "A Vida Durante a Guerra" pretende chocar cena após cena, mas provoca torpor


O ESPECTADOR ACABA ANESTESIADO PELAS REVELAÇÕES BOMBÁSTICAS


ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

O cinema de Todd Solondz é um samba de uma nota só. Todos os seus filmes são explorações ácidas das perversões e segredos sexuais da classe média norte-americana. Seus personagens são pedófilos, drogados, tarados e racistas escondidos sob a pele de cidadãos comuns.
"A Vida Durante a Guerra" é uma espécie de continuação de "Felicidade" (1998), seu filme mais conhecido.
A história gira em torno de Trish (Allison Jenny), uma dona de casa que começa um romance com um homem mais velho, Harvey (Michael Lerner).
O filho de Trish, de 13 anos, descobre que o pai, Bill (Ciarán Hinds), não está morto, como dizia a mãe, mas preso por pedofilia. A história se complica quando Bill sai da cadeia.
Enquanto isso, Joy (Shirley Henderson), irmã de Trish, se separa do marido, um delinquente sexual atormentado pelo passado.
Joy tem alucinações eróticas em que vê um antigo caso, Andy (Paul Reubens), e vai pedir ajuda à irmã, Helen (Ally Sheedy), uma roteirista de cinema milionária.
Solondz demonstra, mais uma vez, grande dificuldade em contar uma história com desenvoltura. Seus filmes são esquemáticos e sem ritmo. Os diálogos têm sempre a mesma fórmula, em que uma conversa entre dois personagens invariavelmente termina com alguma revelação chocante.
Assim, vemos Trish pedindo um favor à filha de seis anos: "Benzinho, vai ao banheiro e pega meus antidepressivos, por favor. Aliás, me traz o frasco todo!" Em outra cena, ela conta ao filho de 13 anos sobre um jantar romântico que teve com Harvey. No fim, revela que ficou "toda molhada".

ANESTESIA
Tudo é feito para chocar. Mas Solondz abusa tanto do recurso que o efeito é oposto: o espectador acaba anestesiado por tantas revelações bombásticas. Nada mais surpreende.
Na décima vez em que Solondz mostra a fachada de uma típica casa de classe média suburbana, como se dissesse que a beleza exterior esconde segredos pavorosos, a sensação não é de surpresa, mas de torpor.
O filme mais parece um "sitcom" de humor negro. Os personagens são arquétipos da miséria humana. Não são apenas detestáveis, mas desprovidos de qualquer humanidade ou interesse. E fica difícil ser cativado por um filme quando ninguém se importa com os personagens.
"A Vida Durante a Guerra" toca em temas polêmicos: terrorismo, antissemitismo, homofobia, incesto. Como desfile de aberrações, é um prato cheio. Pena que os assuntos parecem estar ali apenas para dar estofo a uma suposta "seriedade", que Solondz, com personagens tão rasos, não consegue atingir.

A VIDA DURANTE A GUERRA

DIREÇÃO Todd Solondz
PRODUÇÃO EUA, 2009
COM Allison Jenny, Shirley Henderson e Michael Lerner
ONDE nos cines Belas Artes, Espaço Unibanco Augusta, Reserva Cultural e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO ruim


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