São Paulo, quarta, 19 de novembro de 1997.




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Planet Hemp nega apologia e vê 'perseguição'

da Sucursal do Rio

Os integrantes do Planet Hemp afirmaram ontem, em entrevista no Rio, que estão sendo vítimas de uma "perseguição" causada por seu sucesso e pelo fato de falarem "a sério" com os jovens sobre a questão das drogas.
"As pessoas não estavam preparadas para o sucesso do Planet Hemp. Não esperavam que pudéssemos falar para 7.000 jovens em um show e passar tanta informação. Essas pessoas querem tratar os jovens como imbecis", disse o vocalista Marcelo D2.
A banda suspendeu os planos de uma turnê pela Europa. A intenção do grupo era viajar em fevereiro, mas até que sua situação legal seja resolvida, os músicos decidiram cancelar os shows fora do país.
"Não queremos sair do Brasil sem ter a certeza de que vamos poder voltar. Só saímos daqui depois que tudo estiver certo, depois que pudermos nos apresentar normalmente", disse Marcelo D2.
Para o vocalista, a situação da banda hoje se assemelha a de artistas brasileiros como Caetano Veloso e Gilberto Gil, exilados pelo regime militar no final dos anos 60.
"Eu lia aquelas histórias e achava estranho, ficava imaginando como aquilo podia ter acontecido. Agora acontece com a gente. Eu fico chateado. Queria estar aqui para falar do disco e não para falar de uma prisão política", disse.
A banda já havia anunciado a decisão de cancelar todos os shows no Brasil para evitar novas prisões. Os integrantes do Planet Hemp não sabem exatamente quantos shows foram suspensos.
"Tínhamos cerca de três shows marcados por fim-de-semana até o final do ano", explicou Bacalhau, um dos integrantes da banda.
Os músicos não têm uma estimativa do tamanho do prejuízo com o cancelamento dos shows. "Recebemos uma porcentagem das bilheterias e por isso não dá para avaliar a perda", disse Bacalhau.
Se houve prejuízo por causa do cancelamento dos shows, há o outro lado da questão: desde a polêmica prisão dos integrantes da banda em Brasília, os dois CDs já lançados pelo grupo estão vendendo mais.
"Não temos os números fechados porque isso demora. Mas sabemos que, em Brasília, quando a polícia tentou apreender nossos discos, não encontrou nenhum nas lojas. Ou vendeu tudo, ou estão escondendo. Daqui a pouco, nosso disco vai ser vendido no alto dos morros, como as drogas", disse Marcelo D2.
Para os músicos, a situação da banda virou "uma guerra". "Não sei mais o que nos resta fazer. Não somos bandidos, não queremos trocar tiros com a polícia nem ficar fugindo. Só queremos fazer shows em paz", disse o vocalista.
Ele define a situação da banda como "delicada". "Nem os mais famosos e conceituados juristas conseguem definir se fazemos ou não apologia", afirmou, para logo depois completar:
"E não fazemos. Em nenhuma de nossas músicas falamos da maconha como se fosse uma coisa boa. Quando cantamos 'legalize já' estamos dando nossa opinião e temos esse direito."
A mobilização de artistas e intelectuais em favor da banda -ontem à noite haveria um debate no Rio para discutir a questão da censura intitulado "S.O.S Liberdade de Expressão"- é vista pelos músicos como uma consequência do fato de estarem todos assustados.
"Eles perceberam que isso pode acontecer com qualquer um. Se não for feito nada, a ditadura vai voltar", disse D2.
A polêmica em torno da prisão do grupo já chamou a atenção da rede de TV a cabo CNN. Ontem, minutos antes da entrevista coletiva, o grupo foi entrevistado por uma equipe da emissora.
(CRISTINA GRILLO)


Site oficial do Planet Hemp: http://www.uol.com.br/planethemp/


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