São Paulo, sábado, 19 de dezembro de 2009

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Filarmônica de NY apresenta estreias e Twitter

Durante concerto de anteontem, que contou com obra de brasileiro, orquestra convidou internautas a interagirem

Experiência começou de forma tímida; "Macunaíma", de Arthur Kampella, causou surpresa, curiosidade e risos nos espectadores presentes


JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

"Macunaíma" encontrou o Twitter no concerto. A estreia da série Contact!, da Filarmônica de Nova York apresentou anteontem quatro estreias de novas composições, entre elas, "Macunaíma", do brasileiro Arthur Kampela. A série de música contemporânea contou com um elemento a mais: um seleto grupo de blogueiros e espectadores que traduziam o evento para a fórmula concisa de 140 caracteres do Twitter.
A experiência da Filarmônica de Nova York começou de maneira tímida. Os "twitteiros" deviam se sentar no balcão para não atrapalhar o espetáculo. A maior parte do público ocupou o primeiro andar, mas, aos poucos, celulares e até mesmo um laptop começaram a sair das bolsas para descrever música.
Quando a concisão é a tônica, nem sempre o didatismo é prioridade. "Uma nova esperança: Arthur Kampela entrega uma "jungle boogie'", afirma um internauta.
A obra do brasileiro causou surpresa, curiosidade e, em alguns espectadores, reverência. A simples explicação de Kampela de que Macunaíma é um herói sem caráter, que nasce negro e vira branco, causa risos na plateia. E a surpresa não parava aí. A disposição da orquestra em semicírculo, como explicou Kampela, não é gratuita. Ele procura explorar novas possibilidades acústicas e novos usos para instrumentos.
Os músicos se movem durante a apresentação, alguns vão para a coxia, de onde continuam a tocar, outros tocam instrumentos pouco comuns. Kampela explica que está interessado na diferença entre escutar e ouvir atentamente, o que está ligado à imaginação. Apresentado à plateia como um virtuose no violão, ele mora em Nova York e fez doutorado na Universidade Columbia.
A primeira parte da apresentação começa com a obra "Game of Attrition" (jogo de atrito, em tradução livre), da americana Arlene Sierra. Ou como define outro internauta: "Todo mundo usando roupa preta, como de hábito. Magnus Lindberg entrevistando Arlene Sierra para uma conversa de atrito antes do concerto, seleção natural". A obra de Sierra foi inspirada no trabalho de Charles Darwin, e soa como um duelo de sons e instrumentos.
Lindberg é o compositor-residente da orquestra na temporada 2009-2010, e durante a apresentação fez pequenas entrevistas com cada um dos compositores. É assim que o público fica sabendo, por exemplo, que a bela "Verge", do chinês Lei Liang, foi inspirada no nascimento do filho do compositor. Liang explica que enquanto via a mulher ganhar presentes, decidiu criar um "cobertor sonoro" para o filho. A obra "Melodia", do francês Marc-André Dalbavie, também fez parte da apresentação.


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