São Paulo, quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

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CRÍTICA RESTAURANTE

Cozinha bossa nova marca Rothko

De ares contemporâneos, cardápio traz provocações atraentes e muitas referências brasileiras

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

A Vila Madalena acaba de ganhar outro restaurante que pode se enquadrar na cozinha bossa nova: chef de classe média que usa técnicas internacionais para trabalhar ingredientes brasileiros.
Chama-se Rothko (homenagem ao pintor russo) e abriu no final do ano pelas mãos de um chef com algum tempo de estrada -e várias tatuagens, como também ficou em voga. Trata-se de Diego Belda, 35, proprietário também do CB Bar e do extinto Casa Belfiore.
Paulista, formado em artes plásticas, Diego começou trabalhando como artista, mas, ao entrar na área de restaurantes, já foi de tudo, de garçom a cozinheiro.
Ao morar dois anos na Europa, mergulhou na gastronomia, tendo inclusive estudado na escola de cozinha do hotel Ritz de Paris, onde também fez estágio. De volta ao Brasil em 2001, mudou um pouco o foco, para bares: abriu o Casa Belfiore e o CB.
Em suas casas, a cozinha sempre foi bem acima da média -mas balada não é o melhor lugar para se apreciar gastronomia. Então nasceu o Rothko, num bairro também mais acessível do que a Barra Funda de seus bares.
O restaurante tem apenas um salão, com mesas rústicas e ambiente moderno pincelado de cores, ladeado por um balcão de bar e de comer.
O cardápio de ares contemporâneos é curto, mas tem provocações atraentes, com muitas referências brasileiras e algumas influências internacionais. Mesmo servido por uma equipe que requer melhor treinamento, tem boas surpresas.
São tanto "bocadilhos" -pequenas entradas- quanto pratos. Três deles têm um pé em Minas Gerais: caso do porco bebinho (costelinha suína glaceada em caipirinha, que vem à mesa desmanchando, acompanhada de banana-da-terra salteada e mel de laranjeira).
Mesma influência, mas com toque multicultural, está no uramaki mineiro (pancetta fresca envolta em couve-manteiga, difícil de mastigar porém) e a ótima versão da vaca atolada -costela bovina confitada, regada em seu consomê e servida sobre leve musseline de mandioca realçada por especiarias.
Outra das entradas é a língua cozida e depois grelhada, macia e de sabor delicado, com concassé de tomate. Os pratos principais seguem toada semelhante. A paçoca de confit de pato (na verdade, sua carne desfiada) ao molho de mexerica tem o toque surpreendente da espuma de pimenta-de-cheiro, e é servida com mandioca na manteiga-de-garrafa.
Mas, no conjunto, é um prato seco, sem suculência, em contraste com outra opção mais atraente -o stinco de cabrito cozido lentamente em baixa temperatura, glaceado em vinho branco com galete de pamonha, cenouras caramelizadas e cogumelos portobello salteados.
Simples, mas com um toque de vanguarda espanhola na finalização, é o hambúrguer defumado em fumaça de chás aprisionada no prato, sob uma cúpula retirada na hora de servir. Vem com bacon, queijo serra da Canastra e batatas fritas rústicas.
Na sobremesa, pamonha brûlée com calda de frutas vermelhas e sorvete de iogurte com limão-siciliano e uma versão leve de banana split.

josimar@basilico.com.br

ROTHKO  

ENDEREÇO r. Wisard, 88, Vila Madalena, tel. 0/xx/11/ 3032-4295
FUNCIONAMENTO de ter. a sex., das 18h à 0h; sáb., das 12h à 0h
AMBIENTE salão moderno, com balcão em que também se come
SERVIÇO bem cru, precisa de mais treino
VINHOS carta francesa (estranho), com muitos itens em falta
CARTÕES D, M e V
ESTACIONAMENTO R$ 15 PREÇOS entradas, de R$ 8 a R$ 15; pratos principais, de R$ 28 a R$ 42; sobremesas, R$ 12


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