São Paulo, sábado, 20 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LITERATURA

SALÃO DO LIVRO DE PARIS

No "ano da China", evento traz escritores da República Popular, Taiwan e Hong Kong

França abriga multiplicidade chinesa

BETTY MILAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

A entrada da China no concerto das nações é um dos fatos marcantes do terceiro milênio. Em 20 anos, o país saiu do confinamento a que o maoísmo o condenou, e 2004 é o seu ano na França.
Como era de esperar, o Salão do Livro de Paris recebe autores de língua chinesa. República Popular da China, Hong Kong, Taiwan e Diáspora.
O Salão do Livro de Paris respeita o universo sem fronteiras da literatura, convidando escritores de diferentes origens e não apenas da República Popular, que se viu obrigada a aceitar a tradição ecumênica do Salão.
A maioria dos convidados já foi publicada na França. Sobretudo por Picquier, o grande editor das literaturas da Ásia, e Bleu de Chine, que se ocupa exclusivamente da literatura chinesa. Novos autores também serão traduzidos depois do encontro que, além de criar laços entre os países, aproxima os editores estrangeiros dos franceses.

Escritores convidados
Entre os chineses mais velhos está Liu Xinwu, autor de "A Morte de Lao She", obra sobre as últimas horas de vida do grande escritor. Entre os que se tornaram conhecidos ao longo da década de 80 estão a irreverente Fang Fang, autora de "Início Fatal", romance sobre o conformismo dos revolucionários, e o escritor Mo Yan, cujo nome significa "não fale" e que foi camponês, operário e soldado. Ele é o autor de "Belos Seios, Belo Traseiro" e também de outras sagas familiares.
Os chineses mais jovens, que passaram pelo 4 de junho de 1989, retratam a sociedade com total desencanto. A exemplo de Dai Lai, para quem as surpresas nas relações humanas são invariavelmente ruins.
De Hong Kong, ex-colônia britânica, centro de negócios e de passagem, encontram-se escritores representativos de uma literatura produzida no cruzamento dos caminhos e centrada na questão da identidade. Como Leung Ping-Kwan, que focaliza a história de Hong Kong e tem inúmeros livros em francês.
A Diáspora conta no Salão do Livro com Bei Dao, o corajoso poeta que ousou escrever uma petição assinada por 30 intelectuais chineses pela liberação dos prisioneiros políticos, e que hoje vive nos Estados Unidos.
Entre os representantes de Taiwan está Li Ang, que se interessa pela psicanálise e denuncia fervorosamente o machismo na literatura e na vida.
A língua desses autores, que não é o chinês clássico -demasiadamente ligado à sociedade antiga-, se forjou pelo encontro com as literaturas estrangeiras.
Há nas suas obras uma grande diversidade de temas e eles tanto se voltam para o passado quanto se debruçam sobre a história moderna, analisando as conseqüências da mundialização, do mercantilismo e do desenvolvimento tecnológico.
Para acolher essa literatura, há um pavilhão de honra, que tem a forma de um barco a vela e introduz os visitantes do Salão no caminho do Oriente, mostrando máscaras da ópera chinesa, um retrato de Confúcio, uma sala do Templo do Céu. Os livros apresentados, no contexto de lanternas vermelhas, celebram a antiga amizade franco-chinesa e podem intermediar novas amizades com a China. Porque a escrita propicia o encontro dos amigos, como diz um antigo adágio chinês, que faz pensar na figura secular do calígrafo, mas também na do internauta, sem o qual a modernidade não se concebe.


Betty Milan é escritora, psicanalista e autora de "A Paixão de Lia", entre outros


Texto Anterior: Rodapé: Afogamento às avessas
Próximo Texto: O francês é minha pátria, diz escritora
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.