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LITERATURA
SALÃO DO LIVRO DE PARIS
No "ano da China", evento traz escritores da República Popular, Taiwan e Hong Kong
França abriga multiplicidade chinesa
BETTY MILAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
A entrada da China no concerto
das nações é um dos fatos marcantes do terceiro milênio. Em 20
anos, o país saiu do confinamento
a que o maoísmo o condenou, e
2004 é o seu ano na França.
Como era de esperar, o Salão do
Livro de Paris recebe autores de
língua chinesa. República Popular
da China, Hong Kong, Taiwan e
Diáspora.
O Salão do Livro de Paris respeita o universo sem fronteiras da literatura, convidando escritores
de diferentes origens e não apenas
da República Popular, que se viu
obrigada a aceitar a tradição ecumênica do Salão.
A maioria dos convidados já foi
publicada na França. Sobretudo
por Picquier, o grande editor das
literaturas da Ásia, e Bleu de Chine, que se ocupa exclusivamente
da literatura chinesa. Novos autores também serão traduzidos depois do encontro que, além de
criar laços entre os países, aproxima os editores estrangeiros dos
franceses.
Escritores convidados
Entre os chineses mais velhos
está Liu Xinwu, autor de "A Morte
de Lao She", obra sobre as últimas
horas de vida do grande escritor.
Entre os que se tornaram conhecidos ao longo da década de 80 estão a irreverente Fang Fang, autora de "Início Fatal", romance sobre o conformismo dos revolucionários, e o escritor Mo Yan, cujo nome significa "não fale" e que
foi camponês, operário e soldado.
Ele é o autor de "Belos Seios, Belo
Traseiro" e também de outras sagas familiares.
Os chineses mais jovens, que
passaram pelo 4 de junho de 1989,
retratam a sociedade com total
desencanto. A exemplo de Dai
Lai, para quem as surpresas nas
relações humanas são invariavelmente ruins.
De Hong Kong, ex-colônia britânica, centro de negócios e de
passagem, encontram-se escritores representativos de uma literatura produzida no cruzamento
dos caminhos e centrada na questão da identidade. Como Leung
Ping-Kwan, que focaliza a história
de Hong Kong e tem inúmeros livros em francês.
A Diáspora conta no Salão do
Livro com Bei Dao, o corajoso
poeta que ousou escrever uma petição assinada por 30 intelectuais
chineses pela liberação dos prisioneiros políticos, e que hoje vive
nos Estados Unidos.
Entre os representantes de Taiwan está Li Ang, que se interessa
pela psicanálise e denuncia fervorosamente o machismo na literatura e na vida.
A língua desses autores, que não
é o chinês clássico -demasiadamente ligado à sociedade antiga-, se forjou pelo encontro com
as literaturas estrangeiras.
Há nas suas obras uma grande
diversidade de temas e eles tanto
se voltam para o passado quanto
se debruçam sobre a história moderna, analisando as conseqüências da mundialização, do mercantilismo e do desenvolvimento
tecnológico.
Para acolher essa literatura, há
um pavilhão de honra, que tem a
forma de um barco a vela e introduz os visitantes do Salão no caminho do Oriente, mostrando
máscaras da ópera chinesa, um
retrato de Confúcio, uma sala do
Templo do Céu. Os livros apresentados, no contexto de lanternas vermelhas, celebram a antiga
amizade franco-chinesa e podem
intermediar novas amizades com
a China. Porque a escrita propicia
o encontro dos amigos, como diz
um antigo adágio chinês, que faz
pensar na figura secular do calígrafo, mas também na do internauta, sem o qual a modernidade
não se concebe.
Betty Milan é escritora, psicanalista e
autora de "A Paixão de Lia", entre outros
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