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O francês é minha pátria, diz escritora
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
"Onde quer que eu estivesse
-na França, no Líbano ou no
Brasil-, sempre fui vista como
estrangeira. Assim, a única pátria
que tenho é a língua francesa."
A afirmação é de Yasmina Traboulsi, 28, escritora francesa vencedora do Prix du Premier Roman 2003 por "Les Enfants de la
Place" (As Crianças da Praça),
uma história ambientada no Brasil contemporâneo, cujo pai é libanês e a mãe é brasileira.
Ela estará no Brasil na sexta-feira para participar de um evento
que faz parte da Jornada da Francofonia (adoção da língua francesa como língua de cultura ou língua franca por quem não a tem
como vernácula), festival organizado pelos consulados da França,
da Bélgica, do Canadá, da Suíça e
do Líbano, que ocorre neste mês.
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - O que significa representar a francofonia no mundo?
Yasmina Traboulsi - Quando me
questionam sobre a francofonia,
sempre tenho a impressão de ser
uma traidora, já que, embora
meus pais sejam estrangeiros, fui
alfabetizada em francês. Não posso, portanto, dizer que adotei o
francês por livre e espontânea
vontade, pois se trata de uma língua que aprendi desde criança.
Folha - Mesmo assim, deve ser interessante representar a francofonia nos quatro cantos do planeta?
Traboulsi - Sinto muito orgulho
de representar a francofonia, pois,
apesar de ter vivido a maior parte
de minha vida na França, sempre
fui uma estrangeira onde quer
que estivesse. Tenho um nome
árabe, o que significa que as pessoas sempre me viram como uma
estrangeira na França. No Líbano
e no Brasil, também não sou considerada alguém do país. Com isso, sou apátrida, o que considero
positivo, já que não sou nacionalista e creio que o nacionalismo só
leve à radicalização. Assim, a única pátria que tenho realmente é a
língua francesa.
Folha - O que o futuro reserva para uma jovem escritora premiada?
Traboulsi - Pretendo continuar a
escrever. Na verdade, comecei a
escrever por acaso, mas trata-se
da coisa mais importante para
mim. Há alguns anos, fiz uma viagem à Bahia e me apaixonei por
Salvador. Quando voltei à França,
percebi que meu trabalho não era
o que eu queria fazer na vida. Eu
trabalhava no departamento jurídico de uma empresa. Decidi escrever porque sentia saudade do
Brasil. Era como se vozes distantes me dissessem o que eu devia
escrever. Escrevi 15 páginas numa
madrugada e percebi que era
aquilo que tinha de fazer. Busquei
recriar o ambiente brasileiro em
francês. Para mim, o português é
uma língua passional. Já o francês
permite que eu mantenha certa
distância das coisas.
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