São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

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Obras de Museu Allende aportam em SP

Galeria de Arte do Sesi exibe 130 obras de artistas como Calder, Frank Stella, Jesús Soto e Lygia Clark

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Existe no Chile um conjunto de obras internacionais que, apesar de formado meio desordenadamente, tem muita história para contar. A coleção do Museu da Solidariedade Salvador Allende foi inteiramente composta por doações de artistas norte-americanos e europeus que se solidarizaram com o governo de Allende, que durou de 1970 a 1973, interrompido pelo golpe militar.
Um recorte com as principais obras dessa coleção pode ser visto a partir de hoje na galeria do Sesi, em exposição com curadoria de Emanoel Araujo.
A falta de uma coesão curatorial é notável, mas tem explicação bastante óbvia: as peças não foram reunidas a partir de um centro, segundo o pensamento de um colecionador, de um curador ou de uma instituição: qualquer obra de arte doada era bem-vinda, não importava a origem, o suporte, a representação formal, o país.
Uma comissão encabeçada pelo brasileiro Mário Pedrosa e pelo espanhol José Maria Moreno Galván espalhava o convite. Aos artistas cabia aceitá-los ou não e enviar suas doações.
As primeiras levas a se juntarem aos artistas chilenos (na coleção, Gracia Barrios é a principal deles), aportadas no Chile em 1971, são de espanhóis (Miró, Picasso, Alemany) e argentinos (Manuel Espinosa, León Ferrari). Depois chegam obras de venezuelanos (Jesús Soto), brasileiros (Flávio Shiró, Antonio Henrique Amaral, Lygia Clark), uruguaios (José Gamarra), americanos (Calder, Frank Stella) e franceses (Francis Bernard), entre outros.
Das 2.000 obras que hoje compõem o conjunto e que ocupam um palacete já usado pelos militares durante a ditadura de Pinochet, as 130 mais importantes, que permanecem expostas em Santiago, vieram para a mostra.
Araujo organizou a coleção de modo didático, dividindo-a por questões formais, com destaque para as obras surrealistas, depois as de figuração com discurso político e, finalmente, as de abstração construtivista.
O grupo espanhol Equipo Crónica -com um belíssimo óleo sobre tela sem título, em que três soldados se avolumam às costas de uma presença humana meio borrada-, o francês Gerard Fromanger -com a tela "Martine", em que uma mulher tenta apanhar algo dentro de um amontoado de galhos espinhosos- e uma serigrafia do brasileiro Cláudio Tozzi -"Multidão", retratando o grito de um manifestante anônimo- exemplificam a força com que a figuração, às vezes sob influência da pop arte, se reafirma por uma posição política estratégica nos anos 60 e 70 e é mais eficaz do que a abstração.
Essas obras traçaram caminhos muitas vezes desconhecidos. Algumas até hoje estão sem identificação. Segundo o curador, existe na relação de obras guardadas pelo museu uma lista de 40 peças desaparecidas, doadas por brasileiros. É possível que tenham ficado no MAM do Rio, conta Araujo. Podem, portanto, ter desaparecido em um incêndio que destruiu quase 90% da reserva do museu, em julho de 1978.


ESTÉTICAS, SONHOS E UTOPIAS DOS ARTISTAS DO MUNDO PELA LIBERDADE
Quando:
de ter. a sáb., das 10h às 20h; dom., das 10h às 19h; até 24/6
Onde: Galeria de Arte do Sesi (av. Paulista, 1.313, SP, tel. 0/xx/11/3146-7405)
Quanto: entrada franca


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