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MÚSICA
Compositor gaúcho cult faz temporada tocando guitarra em porão de bar de SP; local abriga apenas 20 pessoas
Wander Wildner cria templo punk brega
NINA LEMOS
XICO SÁ
COLUNISTAS DA FOLHA
Um dos melhores shows de rock
em cartaz em São Paulo trafega
pelos subterrâneos da cidade, entre as ruas Augusta e Piauí, na região central. Não se trata de uma
superprodução. Mas de um homem sozinho tocando guitarra. O
show do gaúcho Wander Wildner, que lança o disco "Dez Anos
Bebendo Vinho", acontece semanalmente em um porão do Café
Camalehon, um bar com ares de
república estudantil, e é assistido
por cerca de 20 devotos. E só. Hoje, com banda, W.W. toca no
Outs, clube na rua Augusta.
Quem toca para 20 pessoas e se
sente feliz com isso não é um indie
dos anos 00, mas um homem de
46, com vários discos, líder da
banda Replicantes e adorado no
circuito alternativo nacional. Ele é
o criador do que definiu como
punk brega. Faz músicas de amor,
mas que fogem do romantismo
da MPB. "Tenho músicas tristes,
como "Eu Não Consigo Ser Alegre
o Tempo Inteiro". Mas no final a
música acaba positiva. Eu falo:
"Eu vou fazer um iê-iê-iê". É isso aí.
Não é pra morrer de amor", diz.
A devoção a Wildner deve-se à
sua peregrinação no estilo beatnik
por todos os Estados. W.W. viaja
sozinho, às vezes de ônibus, e
monta bandas onde chega, quando não toca sozinho. Isso acontece graças a uma rede que ele chama de "sociedade alternativa".
Em Fernando de Noronha, por
exemplo, é possível deparar-se
com um show do trovador punk.
Baseado em São Paulo, procurou um bar para uma temporada
semanal. "Quando cheguei, pensei: "Tenho que arrumar um lugar
para tocar que nem eu toco em
Porto Alegre". Gostei do lugar e falei com o dono. Ele não conhecia
meu trabalho e me pediu para tocar. Sentei e toquei uma música."
Foi assim que o Camalehon virou
o templo do punk brega.
Filho de alemães e virginiano,
Wildner usa do pragmatismo
punk para dirigir sua carreira: "Se
quiser ganhar dinheiro, arrumo
um bar, plugo a guitarra, penso
em quanto cobrar e pronto". Mas
não é só isso, ex-iluminador de
teatro e produtor-executivo de si
mesmo, tem os seus caprichos:
"Para esse show, comprei umas
luzinhas. São coisas simples, mas
que fazem o show ser especial".
Ele não pensa em tocar para milhões e fazer o que chama de "trabalho neoliberal". "Toquei em 13
cidades no Nordeste. Se não tinha
hotel, ficava na casa de amigos,
com a mãe fazendo a comida. Sucesso não é ganhar dinheiro. Se
você entrar em uma loja e encontrar uma maçã legal para comprar, você teve sucesso."
Wander Wildner
Onde: Café Camalehon (r. Piauí, 103, tel.
0/xx/11/3237-0225); terça, às 22h; R$ 10;
Outs (r. Augusta, 486, tel. 0/xx/11/ 3237-4940), hoje, às 23h; R$ 12
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