São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2006

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MÚSICA

Compositor gaúcho cult faz temporada tocando guitarra em porão de bar de SP; local abriga apenas 20 pessoas

Wander Wildner cria templo punk brega

NINA LEMOS
XICO SÁ
COLUNISTAS DA FOLHA

Um dos melhores shows de rock em cartaz em São Paulo trafega pelos subterrâneos da cidade, entre as ruas Augusta e Piauí, na região central. Não se trata de uma superprodução. Mas de um homem sozinho tocando guitarra. O show do gaúcho Wander Wildner, que lança o disco "Dez Anos Bebendo Vinho", acontece semanalmente em um porão do Café Camalehon, um bar com ares de república estudantil, e é assistido por cerca de 20 devotos. E só. Hoje, com banda, W.W. toca no Outs, clube na rua Augusta.
Quem toca para 20 pessoas e se sente feliz com isso não é um indie dos anos 00, mas um homem de 46, com vários discos, líder da banda Replicantes e adorado no circuito alternativo nacional. Ele é o criador do que definiu como punk brega. Faz músicas de amor, mas que fogem do romantismo da MPB. "Tenho músicas tristes, como "Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro". Mas no final a música acaba positiva. Eu falo: "Eu vou fazer um iê-iê-iê". É isso aí. Não é pra morrer de amor", diz.
A devoção a Wildner deve-se à sua peregrinação no estilo beatnik por todos os Estados. W.W. viaja sozinho, às vezes de ônibus, e monta bandas onde chega, quando não toca sozinho. Isso acontece graças a uma rede que ele chama de "sociedade alternativa". Em Fernando de Noronha, por exemplo, é possível deparar-se com um show do trovador punk.
Baseado em São Paulo, procurou um bar para uma temporada semanal. "Quando cheguei, pensei: "Tenho que arrumar um lugar para tocar que nem eu toco em Porto Alegre". Gostei do lugar e falei com o dono. Ele não conhecia meu trabalho e me pediu para tocar. Sentei e toquei uma música." Foi assim que o Camalehon virou o templo do punk brega.
Filho de alemães e virginiano, Wildner usa do pragmatismo punk para dirigir sua carreira: "Se quiser ganhar dinheiro, arrumo um bar, plugo a guitarra, penso em quanto cobrar e pronto". Mas não é só isso, ex-iluminador de teatro e produtor-executivo de si mesmo, tem os seus caprichos: "Para esse show, comprei umas luzinhas. São coisas simples, mas que fazem o show ser especial".
Ele não pensa em tocar para milhões e fazer o que chama de "trabalho neoliberal". "Toquei em 13 cidades no Nordeste. Se não tinha hotel, ficava na casa de amigos, com a mãe fazendo a comida. Sucesso não é ganhar dinheiro. Se você entrar em uma loja e encontrar uma maçã legal para comprar, você teve sucesso."


Wander Wildner
Onde: Café Camalehon (r. Piauí, 103, tel. 0/xx/11/3237-0225); terça, às 22h; R$ 10; Outs (r. Augusta, 486, tel. 0/xx/11/ 3237-4940), hoje, às 23h; R$ 12



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