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POR QUE UM HOMEM CHORA NO SHOW DE WANDER?
Ele nos lembra que somos carentes
COLUNISTA DA FOLHA
Nick Cave clama "Do You
Love Me" no clipe gravado
no Love Story, Tom Waits recita
"Rain Dogs" na praça Roosevelt,
uma canção brega no rádio do táxi, tire o seu sorriso do caminho,
suba a Consolação comigo, que
eu vou chorar com Wander.
Derramo lágrimas de vinho barato, choro as dores novas e faço
iê-iê-iê do amor que perdeu o prazo de validade. Flâneur ordinário,
sigo o caminho do cemitério e
imito de forma caricata os passos
dos vagabundos que sofrem nos
romances russos. Até que me deparo com o trovador punk, que
canta no porão da rua Piauí as
desventuras de ratos e homens.
"Estoy subindo las montanhas
da guarda/.../ y tiengo um páraquedas para te salvar/ porque trago um pára-quedas em mi corazón", manda Wander Wildner.
Mesmo os que não derramam
lágrimas alcoolizadas, choram de
alguma forma no show. De lá não
se sai ileso, mesmo o mais empedernido dos machões. W.W. nos
faz lembrar, com o seu punk brega, que somos caras carentes, desajustados habitantes da imensa
Carençolândia que é a existência;
nos faz rir das nossas assombrações, da nossa tara pela vizinha,
da empregada de Guadalajara que
um dia trabalhou para Elvis nos
seus tempos de seresteiro.
O show deixa patente que a vida
não é mesmo bossa nova. A vida
ou é punk ou é brega. E W.W., como poucos, sabe fazer labaredas
ao juntar essas duas correntes.
Um show para quem não tem medo de cair, para quem domina a
arte de nadar no seco.
(XS)
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