São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2006

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POR QUE UM HOMEM CHORA NO SHOW DE WANDER?

Ele nos lembra que somos carentes

COLUNISTA DA FOLHA

Nick Cave clama "Do You Love Me" no clipe gravado no Love Story, Tom Waits recita "Rain Dogs" na praça Roosevelt, uma canção brega no rádio do táxi, tire o seu sorriso do caminho, suba a Consolação comigo, que eu vou chorar com Wander.
Derramo lágrimas de vinho barato, choro as dores novas e faço iê-iê-iê do amor que perdeu o prazo de validade. Flâneur ordinário, sigo o caminho do cemitério e imito de forma caricata os passos dos vagabundos que sofrem nos romances russos. Até que me deparo com o trovador punk, que canta no porão da rua Piauí as desventuras de ratos e homens.
"Estoy subindo las montanhas da guarda/.../ y tiengo um páraquedas para te salvar/ porque trago um pára-quedas em mi corazón", manda Wander Wildner.
Mesmo os que não derramam lágrimas alcoolizadas, choram de alguma forma no show. De lá não se sai ileso, mesmo o mais empedernido dos machões. W.W. nos faz lembrar, com o seu punk brega, que somos caras carentes, desajustados habitantes da imensa Carençolândia que é a existência; nos faz rir das nossas assombrações, da nossa tara pela vizinha, da empregada de Guadalajara que um dia trabalhou para Elvis nos seus tempos de seresteiro.
O show deixa patente que a vida não é mesmo bossa nova. A vida ou é punk ou é brega. E W.W., como poucos, sabe fazer labaredas ao juntar essas duas correntes. Um show para quem não tem medo de cair, para quem domina a arte de nadar no seco. (XS)

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