São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004 |
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TEATRO Diretor e ator anunciam parceria inédita em peça escrita pelo primeiro, que cita a elaboração de cenas "viscerais" Thomas e Nanini movem rins e fígados
VALMIR SANTOS O NAMORO
Marco Nanini - A gente vive esse
namoro de uns tempos para cá.
Ele vai me ver, eu vou ver as coisas
dele. Nem sempre calha de a gente
se encontrar, como quando eu fui
assistir a "Ventriloquist" [2000],
no Rio. Ele me ligou para fazer
uma peça, há cerca de dois meses.
Essa oportunidade foi ficando
mais forte, até que resolveu escrever a peça. Mandava as partes por
e-mail, a gente conversava também por telefone. Tudo apareceu
tão rápido, com imagens tão bonitas. Gerald criou um libreto saboroso de falar. Gerald Thomas - Eu considero
Nanini essencialmente um ator
de teatro. Eu sempre estou a par
de suas parcerias com João Falcão
["Quem Tem Medo de Virginia
Woolf?"], com Guel Arraes ["O
Burguês Ridículo"] etc. Eu trabalhei com o Ney Latorraca, com
quem ele fez dupla em "O Mistério de Irma Vap" por mais de uma
década. O Ney me contava muitas
histórias sobre o Nanini. A PEÇA Thomas - Não chega a ser um
monólogo, mas é quase. Há interferências mínimas dos demais
atores. Tudo está nas mãos do Nanini. São 20 cenas tecidas para ele.
É uma comédia que, no final, fica
séria. João Paradeiro tem um colapso nervoso, uma crise de identidade que lembra um pouco o
"Zelig" do Woody Allen [filme de
1982 em que o cineasta interpreta
um personagem camaleônico]. Nanini - Gostei muito do título,
mexe com as entranhas. Tem a
ver com esse vômito do personagem que está em situações-limite.
Tudo isso com muita crítica ao
modo de vida contemporâneo, e
muita poesia também. O PERSONAGEM Nanini - Vejo este João Paradeiro
como um dínamo. A cabeça desse
homem como que explode por
causa da opressão, da beleza, do
amor, enfim, das emoções contraditórias. Ele está abaladíssimo. Será um desafio interpretá-lo, como
se o chão fosse uma corda esticadíssima. A AUTO-IMAGEM Nanini - Não fico preocupado
com o que o público vai pensar
sobre determinado personagem.
[Em "Os Solitários", dirigido por
Felipe Hirsch, ele contracenou
com Marieta Severo numa cena
de incesto]. Minha função é atuar.
Se o público percebe isso, tudo
bem. Que parte do público não
perceba e se confunda também
não é desprezível. De alguma maneira, as pessoas saborearam,
amando ou odiando. A raiva
diante de um personagem é uma
reação que faz parte, tudo bem. O
chato é quando há somente o tédio, o nosso inimigo. Thomas - É uma época nova que
se abre na minha vida. Estou
completando o livro "Notas de
Suicídio", que devo lançar em
breve. Vou completar 50 anos em
1º de julho e é bom viver essa ruptura, livrar-se dessa pele e me
reinventar. O FIM DA ÓPERA SECA Thomas - Eu dissolvi a Ópera Seca, logo depois da temporada do
"Anchor Pectoris". Agora, a companhia se chama Palco do Terceiro Trilho. A Ópera Seca deu o que
tinha que dar. Não adianta manter uma companhia simbólica,
que só existe por nome. Ao mesmo tempo, pegar esses atores novos de Nova York e usar o nome
de uma antiga companhia seria
injusto. A Ópera Seca foi batizada
assim pela Ellen Stewart [diretora
artística do La MaMa], em 1988. |
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