São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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Zé Celso estréia épico musical "Os Sertões" em festival na Alemanha

MARCOS DÁVILA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Dentro de um galpão que no século passado servia para abrigar o maquinário de uma mineradora de carvão na Alemanha, uma estrutura metálica reproduz as arquibancadas e a passarela do teatro Oficina. É lá que José Celso Martinez Corrêa e o grupo Uzyna Uzona (com 60 integrantes, entre atores e técnicos) apresentam hoje "A Terra", a primeira parte do épico musical "Os Sertões", inspirado no romance homônimo de Euclydes da Cunha. Nas noites seguintes, a trupe encena "O Homem 1" e "O Homem 2", e, dia 23, estréia o primeiro episódio de "A Luta" -a última parte da saga, ainda inédita no Brasil.
O espetáculo é a atração principal do Ruhrfestspiele, um tradicional festival alemão de artes cênicas que acontece desde 1947 em Recklinghausen, uma pequena cidade no oeste do país.
"Vamos encenar a luta na mesma região onde se produziram os canhões que foram importados da Alemanha para o Brasil e usados na Guerra de Canudos. É significativo", disse Zé Celso à Folha, antes de partir para a Alemanha.
Uma cena de "Os Sertões" está estampada na capa da conceituada revista alemã "Theaterhause", que tem na edição deste mês uma grande reportagem sobre a peça. O repórter da revista conferiu a maratona de três espetáculos no teatro Oficina, em São Paulo, e ficou deslumbrado com a interatividade do grupo e a originalidade do projeto do teatro, descrito como "único no mundo".
A ida do grupo para a Alemanha deve-se à ousadia do diretor do festival, Frank Castorf, e do curador Matthias Pees. É a primeira vez que um diretor da Alemanha Oriental está à frente do evento, que ganhou o subtítulo de "No Fear" ("Sem Medo") e espetáculos mais alternativos, com mira apontada para a globalização e o consumismo exacerbado. "Temos comprado as mesmas coisas, mas estamos cada vez mais sozinhos", afirma o curador Matthias Pees. "O festival sempre teve uma tradição de teatro educativo. Agora queremos algo mais vital e coletivo. Quando assistimos a "Os Sertões", perdemos a distinção de realidade e arte", diz.

Outros destaques
Hoje, enquanto Zé Celso inicia sua saga, o dramaturgo e diretor nova-iorquino Richard Maxwell apresenta a peça "Caveman", com seu grupo The New York City Players, no mesmo festival. Além dessa, a companhia, apontada pela crítica como uma das revelações do teatro jovem norte-americano dos anos 90, vai mostrar "Joe" e "Showcase".
A programação também conta com duas peças do grupo espanhol La Carnicería. Com direção do argentino Rodrigo García, a companhia apresenta "Compré una Pala en Ikea para Cavar Mi Tumba" e "La Historia de Ronald el Payaso del McDonalds", que criticam a globalização.
Há ainda atrações musicais, como a dupla eletrônica Matmos, dos EUA, que mostra seu mais recente álbum, "The Civil War", uma estranha combinação de música folk, instrumentos medievais e batidas eletrônicas; e as bandas "irmãs" Lali Puna e Notwist, que, além de compartilhar o mesmo gosto de misturar rock com barulhinhos de computador, têm integrantes em comum.
E tem mais brasileiros na área: o coreógrafo e dançarino Bruno Beltrão e seu Grupo de Dança de Rua de Niterói exibem três coreografias no começo de junho.


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