São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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CANNES 2004

"Diários de Motocicleta" foi aplaudido duas vezes em sessão para a imprensa; diretor anuncia filme sobre futebol

Longa de Salles é recebido com "bravo!"

Associated Press
Da esq. para a dir., Alberto Granado, o diretor Walter Salles e Gael García Bernal, durante sessão de fotos no Festival de Cannes


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Walter Salles, que não estava entre os favoritos no começo do festival, começou a virar o jogo a seu favor ao longo do dia de ontem.
"Diários de Motocicleta", seu "road-movie" que concorre à Palma de Ouro, foi aplaudido por duas vezes durante a sessão para a imprensa internacional pela manhã, feito inédito até agora. Da segunda vez, recebeu gritos de "Bravo!" de uma platéia que, formada na maioria por jornalistas e críticos de cinema, é contida em suas manifestações -as mais comuns são o silêncio ou a vaia.
Além disso, outra regra não escrita foi quebrada: quatro dos nove membros do júri assistiram à apresentação de manhã, em vez de irem à sessão de gala da noite, como sempre, o que pode denotar interesse pelo filme. Eram eles a atriz Kathleen Turner, os diretores Jerry Schatzenberg e Tsui Hark e o crítico Peter von Bagh.
"Nunca se pode prever o que vai acontecer numa sessão só de jornalistas, então essa receptividade de certa forma é melhor do que eu poderia esperar", disse, comedido, o diretor à Folha, logo após a entrevista coletiva do filme, que reuniu na mesma sala Gael García Bernal (que interpreta Ernesto Guevara), Rodrigo de la Serna (Alberto Granado), o próprio Alberto Granado e Mía Maestro (Chichina), todos muito aplaudidos na entrada e na saída, dessa vez pelos entrevistadores.
"Diários" pode se beneficiar de um festival que, com só quatro dos 19 filmes ainda por serem exibidos, tem se mostrado fraco, muito pela decepção dos novos trabalhos de dois nomes consagrados em Cannes, Emir Kusturica (Palma de Ouro em 85 e 95) e Joel Coen (Palma em 91, prêmio em 96 e 2001), que trouxeram respectivamente "A Vida É um Milagre" e "Matadores de Velhinha".
Outro fator alheio à competição artística pode dar uma força extra: o festival cancelou as sessões da imprensa de hoje de "2046", o esperado novo longa de Wong Kar-wai, e até a noite de ontem não tinha reconfirmado a exibição de sua obra de temática futurista na sessão de gala das 19h30 -rumores dão conta de que o chinês ainda filmava na semana passada, totalizando três anos de produção.
Kar-wai, o favorito, já apresentou três títulos antes em Cannes, "As Tears Go By", "Felizes Juntos" e "Amor à Flor da Pele", recebendo o prêmio de direção pelo segundo, mas nunca o prêmio máximo. Se vale alguma coisa, o precedente histórico o favorece: em 1997, o iraniano Abbas Kiarostami entregou na última hora seu "Gosto de Cereja", que levaria a Palma de Ouro naquele ano.
Premiado ou não na cerimônia de depois de amanhã, o fato é que Walter Salles viveu seu "momentum" ontem. A revista especializada "Variety" definiu "Diários" como o melhor filme do diretor, por ter sido "feito de maneira inteligente, artístico, mas não "de arte", político sem ser didático" e que conta sua história "de maneira direta, sem o exibicionismo visual que apequenava seu filme anterior" ("Abril Despedaçado").
O brasileiro sofreu um assédio extra da imprensa internacional pelo fato de "Diários" estar para estrear em diversos países da Europa. O primeiro é a Itália, amanhã, que, com a repercussão do filme em Cannes, resolveu aumentar o número de cópias da estréia para 200. Depois vem a Inglaterra, no dia 27 de agosto.
Na França, "Diários de Motocicleta" chega às telas no dia 8 de setembro. Fora do continente, Cuba recebe o filme no dia do aniversário de Che Guevara, em 14 de junho, e os Estados Unidos, no dia 8 de outubro.
Ontem ainda Salles anunciou que, após seu próximo longa, "Dark Water", uma refilmagem do terror japonês, voltará a um tema mais brasileiro -no caso, o futebol. Será "Linha de Passe", sobre quatro irmãos que tentam virar jogadores profissionais de futebol, que vai misturar ficção a técnicas de documentário.
Ele fechou com a nova empresa de Donald K. Ranvaud, a Buena Onda Films, criada no ano passado em Cannes e baseada em Londres, a mesma que já está produzindo filmes de outros diretores latinos, como o brasileiro Fernando Meirelles, que lança com eles seu "Intolerância", e os próximos projetos do mexicano Guillermo del Toro ("Hellboy") e do equatoriano Sebastian Cordero, cujo "Crónicas" concorre na mostra paralela Un Certain Regard.


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