São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2005

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Bairro de Botafogo ganha crônica cinematográfica

DA REPORTAGEM LOCAL

Tendo as casas e ruas de Botafogo como personagem (não apenas cenário), o cineasta Sergio Goldenberg construiu a comédia "Bendito Fruto", que estréia hoje no Rio de Janeiro e em São Paulo, como "a crônica de um bairro".
A gente do lugar circula por ali a partir do salão de beleza de Edgar (Otávio Augusto). Mas o foco de Goldenberg se fecha no mal disfarçado casamento do cabeleireiro branco com a negra Maria (Zezeh Barbosa), que oficialmente é apenas a empregada de sua casa.
Pontuar sua crônica cinematográfica com "as questões do preconceito racial e dos direitos civis", sem no entanto cair num tom ideologizante, foi o objetivo que o diretor perseguiu.
Por serem questões delicadas quando abordadas individualmente, Goldenberg optou por ficcionalizar sua história, abandonando o terreno do documentário, do qual é íntimo.
"Tenho muita consciência dos limites éticos do documentário. Existem histórias trágicas de documentaristas que cruzaram essa linha", diz.
Fazer com que os personagens vivam os conflitos das relações inter-raciais e homossexuais, mas não os discutam de uma perspectiva analítica foi a maneira que o diretor encontrou de expressar "essa característica tão carioca de as pessoas serem muito puras e despolitizadas, mas nem por isso deixarem de viver situações significativas ideologicamente".
No caldo da despolitização e da desideologização Goldenberg acrescentou um papel para a telenovela brasileira, que se incorpora à rotina de quase todos os personagens, como formadora de seus sonhos de amor e substituta de suas emoções românticas.
"A novela está tão enfronhada na nossa vida que acho que algumas pessoas passam a viver seus conflitos psicológicos e resolvê-los a partir dela", diz o cineasta.
A crítica subjacente à trama de "Bendito Fruto", no entanto, não impede o filme de desaguar num final feliz, como o das novelas.
"Acho o final otimista, mas não hollywoodiano", diz o cineasta, que aponta a "peculiaridade" da família retratada até o fim do filme como sinal da distância dos padrões de Hollywood. Goldenberg defende seu otimismo como bandeira de quem "acredita na relação inter-racial e na identidade que ela dá ao Brasil". (SA)


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