São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Crítica/Chuck Berry

Lenda viva decepciona em show previsível e burocrático

Chuck Berry deixa clássicos fora do repertório e demora para aquecer platéia

ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quanto vale uma lenda?
Se depender da alegria do público que lotou o HSBC Brasil anteontem para ver Chuck Berry, presenciar uma lenda em ação não tem preço.
E Chuck Berry, só para usar um velho clichê, é mesmo uma lenda viva. Impossível não se arrepiar vendo o velhinho de pé num palco, com 81 anos nas costas, tocando sua tradicional guitarra Gibson semi-acústica.
Daí você lembra que aquele sujeito criou o verdadeiro cânone do rock'n'roll, com "Johnny B. Goode", "Sweet Little Sixteen", "School Day", "Rock and Roll Music" e tantas outras músicas clássicas.
Esse público não parece ter se importado em pagar um ingresso mínimo de R$ 180 para ver um show de 55 minutos, com uma banda mediana e um repertório que deixou de fora "Roll Over Beethoven" e "Maybellene" -para citar as duas ausências mais sentidas da noite.
Claro que ninguém vai a um show de Chuck Berry esperando novidades ou grandes surpresas. O sujeito é mais velho do que qualquer um na platéia, não grava nada inédito desde antes da invenção do CD, e já fez tanto pelo rock'n'roll nos anos 50 que ganhou o direito de passar os 50 anos seguintes repetindo as mesmas músicas. Mesmo assim, um pouco mais de capricho seria bem-vindo.
O show é previsível e burocrático. Chuck apresenta as músicas com textos decorados e sem inspiração. A banda erra várias vezes -mais por culpa do próprio Chuck, que freqüentemente perde o ritmo e esquece a letra ou a hora de entrar. Os músicos, bem-humorados, chegam a rir dos enganos do chefe. A primeira meia hora é muito fria, e a platéia, sentada, não se empolga.
As coisas melhoram na segunda metade do show. A banda emenda "Nadine", "Rock and Roll Music" e "Johnny B. Goode". Chuck faz o "duckwalk", o "passo do pato", sua marca registrada há meio século, e a platéia vibra. Um fã sobe no palco, agarra o velhinho e é prontamente arremessado de volta à platéia por um segurança. Chuck ri e diz: "Tudo bem, eu gostei disso!". Finalmente, algo que saiu do script e que fez aquilo parecer mais um show de rock do que uma missa.
Chuck começa então a falar mais com a platéia, e a espontaneidade aquece o show. Logo depois, conclama: "Preciso de seis mulheres aqui em cima do palco!". Pelo menos 12 atenderam ao pedido, inclusive uma menina que não aparentava mais de seis anos e que ganhou uma dancinha simpática ao lado do vovô octogenário.
Depois de ser beijado e abraçado por várias fãs, Chuck fez o que menos se esperava: foi embora. Assim, sem bis, sem nada.
As luzes se acenderam e a reação foi de incredulidade. Nem "Roll Over Beethoven", para encerrar? Cadê "Maybellene"?
Não custava nada um esforço a mais para presentear os fãs, certo? Afinal, não é todo dia que se vê uma lenda viva em ação.


CHUCK BERRY
Quando:
hoje, às 21h15, em Curitiba; amanhã, às 21h30, em Porto Alegre
Onde: teatro Guaíra (r. Conselheiro Laurindo, s/nº, Curitiba; tel. 0/xx/ 41/3304-7982; 16 anos); Pepsi On Stage (av. Severo Dullius, 1.995, Porto Alegre; tel. 0/ xx/51/3371-1948; 16 anos)
Quanto: de R$ 180 a R$ 280 (Curitiba); de R$ 100 a R$ 1.200 (Porto Alegre)
Avaliação: regular


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