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Crítica/Chuck Berry
Lenda viva decepciona em show previsível e burocrático
Chuck Berry deixa clássicos fora do repertório e demora para aquecer platéia
ANDRÉ BARCINSKI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quanto vale uma lenda?
Se depender da alegria
do público que lotou o
HSBC Brasil anteontem para
ver Chuck Berry, presenciar
uma lenda em ação não tem
preço.
E Chuck Berry, só para usar
um velho clichê, é mesmo uma
lenda viva. Impossível não se
arrepiar vendo o velhinho de pé
num palco, com 81 anos nas
costas, tocando sua tradicional
guitarra Gibson semi-acústica.
Daí você lembra que aquele sujeito criou o verdadeiro cânone
do rock'n'roll, com "Johnny B.
Goode", "Sweet Little Sixteen",
"School Day", "Rock and Roll
Music" e tantas outras músicas
clássicas.
Esse público não parece ter
se importado em pagar um ingresso mínimo de R$ 180 para
ver um show de 55 minutos,
com uma banda mediana e um
repertório que deixou de fora
"Roll Over Beethoven" e "Maybellene" -para citar as duas ausências mais sentidas da noite.
Claro que ninguém vai a um
show de Chuck Berry esperando novidades ou grandes surpresas. O sujeito é mais velho
do que qualquer um na platéia,
não grava nada inédito desde
antes da invenção do CD, e já
fez tanto pelo rock'n'roll nos
anos 50 que ganhou o direito de
passar os 50 anos seguintes repetindo as mesmas músicas.
Mesmo assim, um pouco mais
de capricho seria bem-vindo.
O show é previsível e burocrático. Chuck apresenta as
músicas com textos decorados
e sem inspiração. A banda erra
várias vezes -mais por culpa
do próprio Chuck, que freqüentemente perde o ritmo e esquece a letra ou a hora de entrar. Os
músicos, bem-humorados,
chegam a rir dos enganos do
chefe. A primeira meia hora é
muito fria, e a platéia, sentada,
não se empolga.
As coisas melhoram na segunda metade do show. A banda emenda "Nadine", "Rock
and Roll Music" e "Johnny B.
Goode". Chuck faz o "duckwalk", o "passo do pato", sua
marca registrada há meio século, e a platéia vibra. Um fã sobe
no palco, agarra o velhinho e é
prontamente arremessado de
volta à platéia por um segurança. Chuck ri e diz: "Tudo bem,
eu gostei disso!". Finalmente,
algo que saiu do script e que fez
aquilo parecer mais um show
de rock do que uma missa.
Chuck começa então a falar
mais com a platéia, e a espontaneidade aquece o show. Logo
depois, conclama: "Preciso de
seis mulheres aqui em cima do
palco!". Pelo menos 12 atenderam ao pedido, inclusive uma
menina que não aparentava
mais de seis anos e que ganhou
uma dancinha simpática ao lado do vovô octogenário.
Depois de ser beijado e abraçado por várias fãs, Chuck fez o
que menos se esperava: foi embora. Assim, sem bis, sem nada.
As luzes se acenderam e a reação foi de incredulidade. Nem
"Roll Over Beethoven", para
encerrar? Cadê "Maybellene"?
Não custava nada um esforço
a mais para presentear os fãs,
certo? Afinal, não é todo dia
que se vê uma lenda viva em
ação.
CHUCK BERRY
Quando: hoje, às 21h15, em Curitiba; amanhã, às 21h30, em Porto
Alegre
Onde: teatro Guaíra (r. Conselheiro
Laurindo, s/nº, Curitiba; tel. 0/xx/
41/3304-7982; 16 anos); Pepsi On
Stage (av. Severo Dullius, 1.995,
Porto Alegre; tel. 0/ xx/51/3371-1948; 16 anos)
Quanto: de R$ 180 a R$ 280 (Curitiba); de R$ 100 a R$ 1.200 (Porto
Alegre)
Avaliação: regular
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