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Livro reúne rappers e uma mulher
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem são os autores que constituem essa "Literatura Marginal"? Em se tratando de um movimento que, como tantos outros,
se vê às margens dos círculos literários convencionais, seria quase
um contra-senso que seus nomes
estivessem difundidos.
Entretanto um olhar mais atento e abrangente ao cenário do rap
nacional pode apresentar ao menos uma parte deles. Nomes como Eduardo Dum-dum, do grupo Facção Central, do bairro do
Grajaú, de São Paulo; Gato Preto,
do grupo GOG, de Ilhéus (BA);
Preto Ghóez, do Maranhão, que
era vocalista do grupo Clã Nordestino quando morreu em um
acidente de carro, em 2004.
Como poetas urbanos diretamente relacionados ao universo
das favelas, outros nomes se juntam aos deles: Alessandro Buzo,
do Itaim Paulista; Ridson, da favela do Jacqueline, também em São
Paulo. Não há de surpreender que
seus textos tragam sobremaneira
a marca dessa origem, mas, sim,
que retratem um mundo que vai
muito além da violência e do tráfico de drogas. Um povo constituído pela ampla maioria, aqueles
que todas as manhãs tomam o
ônibus para ir ao trabalho.
A coletânea, ainda, não se resume ao perfil dos autores mencionados acima. Sobra espaço para
vozes destoantes, mais distantes
dos grandes centros da marginalidade, se é possível tal formulação.
Como exemplo principal, pode-se destacar a presença de Laura
Matheus, a Dona Laura, única
mulher da antologia. Dona Laura
é porta-voz de uma comunidade
de pescadores de Pelotas, no RS.
De seu texto, rico e poético,
emerge uma acidez até mais pungente do que a dos outros: "Potira, moça inculta, de origem índia,
órfã de pai. Sua morada é um casebre de um só cômodo, no infecto barraco onde passou a infância,
sobreviveu ao sarampo, à leptospirose e à pneumonia. Hoje sobrevive à fome e à miséria moral".
(JULIÁN FUKS)
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