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MERCADO EDITORIAL
"O Historiador", romance que já vendeu 959 mil cópias nos EUA, evidencia a gênese dos best-sellers
Equação tem olheiro, timing e laboratório
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um novo fenômeno de vendas
no mercado americano tem evidenciado a equação mercadológica da gênese de um best-seller.
Lançado nos Estados Unidos em
junho, "O Historiador", de Elizabeth Kostova, já vendeu 959 mil
cópias e ocupa o segundo lugar na
lista de mais vendidos do jornal
"New York Times". A principal
variável da tal equação, a publicidade, foi logo comprada pelo jornal inglês "Guardian", que incensou o título como o novo "O Código Da Vinci".
Exagero ou não, o fato é que o título recebeu tratamento de campeão de vendas já na fonte: estreante, Kostova faturou um polpudo adiantamento de US$ 2 milhões (cerca de R$ 4,7 milhões).
"O Historiador" baseia-se na seguinte questão: como seria se o
Conde Drácula estivesse entre
nós? Pouco confiante no poder de
fogo de seu livro, Kostova acreditava que, depois de enviar o manuscrito a editores, receberia uma
recusa polida, do tipo "lamento,
mas este livro é tão estranho que
não saberíamos como colocá-lo
no mercado. Boa sorte".
Enganou-se. Em 48 horas seu
agente tinha uma proposta e 45
minutos para aceitar ou não.
Diante de tal prontidão, Kostova
foi aconselhada a negociar. Fez
um leilão, que durou seis dias, até
o livro ser arrematado pela Little,
Brown. O livro será lançado em 33
países, e a Sony comprou direitos
de filmagem por US$ 2 milhões.
No Brasil, ele chega às livrarias
nesta terça-feira. É o primeiro lançamento na América Latina do
selo Suma das Letras, do grupo
espanhol Santillana, via editora
Objetiva, de que é acionista majoritário. O tratamento é de candidato a best-seller também aqui. A
Objetiva já imprimiu 150 mil livretos com um trecho do primeiro capítulo, para promover o lançamento. A editora também está
negociando com redes de livrarias
um espaço privilegiado para exposição do título, cuja tiragem inicial será de 15 mil exemplares.
"Achei forte, bem escrito, com
personagens verossímeis e um
universo ficcional instigante, capazes de criar empatia com o leitor", defende o editor Roberto
Feith, que, no entanto, prefere
não comparar "O Historiador" a
"O Código", pressupondo aí uma
fórmula de sucesso, como a que
garantiu, no passado, boas vendas
para seguidores de sucessos como
"O Perfume", de Patrick Süskind.
"É um tanto forçado. Entendo
que tenha características parecidas, é romance histórico, com elementos de suspense e muita pesquisa. Mas não espero que venda
1 milhão de cópias no Brasil."
Gênese
Ouvidas pela Folha, Record,
Objetiva, Rocco e Nova Fronteira
dão pistas da gênese de um best-seller. Ressalvando que há surpreendentes sucessos espontâneos. A Sextante, que apostou e se
deu bem com "O Código Da Vinci", não quis se manifestar. Nem a
Companhia das Letras: "Para nós,
o best-seller é conseqüência de
um trabalho pelo livro de qualidade", diz Luiz Schwarcz, editor do
fenômeno "O Mundo de Sofia",
de Jostein Gaarder.
O processo inclui captação de
informações do mercado, filtragem do corpo editorial da casa e,
eventualmente, contratos de exclusividade, adiantamentos e
musculosos planejamentos de
marketing. No caso de um lançamento no exterior como "O Historiador", os primeiros sinais chegam às editoras nacionais através
dos "scouts" [algo como "olheiros"], escritórios que repassam
informações do mercado, das
contratações às publicações. A
Objetiva, por exemplo, tem
"scouts" em Nova York e Paris. A
Record também tem em Londres.
E cada escritório pode ter apenas
um cliente em cada país.
Feith cita a série de Eduardo
Bueno como caso de aposta no
potencial do autor, que recebeu
adiantamentos para escrever um
total de sete livros, dos quais três
já foram publicados.
"O adiantamento mostra uma
preocupação de dar continuidade
a um projeto com potencial", diz
Feith, que lançará o livro com tiragem inicial de 50 mil cópias.
Na Record, o recente sucesso de
"Perdas e Ganhos", de Lya Luft, é
exemplo de como um título pode
surpreender até mesmo o mais
experiente editor. Luciana Villas-Bôas conta que não dispunha de
boa verba de marketing e lançou o
livro com tímida tiragem inicial
de 3.000 cópias.
"O Rio do Meio", que foi um sucesso de crítica, vendeu normal.
No caso de "Perdas e Ganhos", eu
não tinha noção de que tinha um
best-seller nas mãos. Queria um
romance e fiquei até acabrunhada", diz a editora, que já vendeu
500 mil exemplares do livro, desde o lançamento, em abril de
2003.
Ao ver que a tiragem inicial caminhava para se esgotar, Villas-Bôas acionou a editora para não
deixar faltar exemplares nas mãos
dos livreiros, que, na sua opinião,
são alvo importante de uma estratégia de lançamento com grandes
expectativas.
Carlos Augusto Lacerda, da Nova Fronteira, que em setembro
lança "O Caçador de Pipas", do
afegão Khaled Hosseini, divulgado como o maior sucesso da literatura mundial depois de "O Código", sugere que os trabalhos de
Paulo Coelho posteriores a "O Alquimista" podem ser vistos como
exemplos de uma fórmula que
deu certo.
Para Vivian Wyler, gerente editorial da Rocco, que publica Coelho, há "estantes consagradas como fabricantes de best-sellers, ou
seja, auto-ajuda e espiritualidade,
romances de peripécias, aventuras, biografias etc".
"Hoje o mercado editorial internacional tende a comprar o livro
pela "voz" do autor ou pelo tema.
Se um editor identifica o nicho no
qual o livro pode render melhor, a
faixa de público na qual irá brilhar, ele é tratado "para render
mais". No Brasil, este processo
ainda engatinha. Mas a Rocco,
por acaso, está aprimorando mais
e mais seu laboratório. Por enquanto, sobretudo na não-ficção", diz Wyler.
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