DA REPORTAGEM LOCAL

Autor de livros grotescos, violentos e repulsivos, Bret Easton Ellis lançou sua última obra na defensiva e com muita cautela, depois de sete anos sem publicar. "Lunar Park" (parque lunar) faz uma espécie de desmanche da própria figura do escritor. Ele mesmo aparece no livro, com o seu próprio nome. É o personagem principal, um escritor que teve o seu primeiro best-seller publicado antes mesmo de terminar a faculdade.
Ellis, o autor que "todos adoram odiar", ficou famoso ao lançar nos anos 80 livros repletos de sexo e drogas. "Abaixo de Zero" (lançado aqui pela editora Rocco) foi publicado nos EUA quando tinha 21 anos. O livro fez sucesso e foi interpretado como um retrato cruel da era Reagan. "O Psicopata Americano" (Rocco), que acompanha os crimes de um yuppie, foi inicialmente rejeitado por uma editora. Depois, virou um grande sucesso publicado pela ed. Knopf (a mesma de "Lunar Park") e provocou uma campanha de boicote no seu lançamento, acusado de misoginia e de glorificar o materialismo.
Seu livro "Regras da Atração" foi adaptado para o cinema e já foi lançado no Brasil em DVD pela LK-Tel, dirigido por Roger Avary (co-roteirista de "Pulp Fiction", de Quentin Tarantino), em 2002. Também nesse livro traz o mundo de sexo, drogas e rock and roll da geração dos anos 80.
Em "Lunar Park", Ellis mistura crítica literária com fofocas em revistas de moda. Assim como em "Glamorama" (Rocco"), aparecem personagens como Madonna, Keith Haring e Bono. No livro, Ellis descreve a vida pessoal desregrada de um personagem neurótico, que enfrenta excessos químicos e sexuais e assiste compulsivamente a filmes pornográficos. Ele fica sozinho na cama durante dias, assistindo a DVDs pornográficos com o som abaixado, consumindo heroína, com um balde de plástico ao lado onde vomita continuamente. E culpa os críticos pelos problemas que o afligem. No livro, precisava se drogar para fugir da dor.
Ellis tenta digerir em "Lunar Park" sua difícil posição de celebridade, mantendo uma atitude ambivalente com o sucesso. É uma trajetória que, antes dele, já foi experimentada por diversos nomes sagrados da literatura norte-americana.
Deixando Manhattan, Ellis foca agora os subúrbios americanos, o mundo da segurança. O personagem não é mais um garotão, casa com a atriz Jayne Dennise (fictícia) e muda-se para uma casa grande em uma cidade indefinida, fora de Nova York. Agora Ellis se depara com o universo da classe média, enfrenta materialismo e competição, lembrando um pouco o clima de "Beleza Americana" (1999), o filme de Sam Mendes que ganhou várias estatuetas do Oscar. Mas é perseguido por fantasmas, como o pai alcoólatra e o sucesso prematuro.