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1977-1997
Geração dos 70 comemora conquistas
especial para a Folha
"A maré estava boa para todos
nós", lembra o bancário Geraldo
Siqueira, à época liderança da Refazendo. "Carter tinha sido eleito
nos EUA, o MDB ganhou aqui, as
festas estavam ficando grandes, o
rock se consolidava na esquerda."
Liberdade e Luta, ou Libelu, era
trotskista. Enquanto se discutia o
que gritar em passeatas (algo que
unisse o povo, como: "Pelas liberdades democráticas"), a Libelu ia
na frente e, sem papas na língua,
gritava: "Abaixo a ditadura!".
"A Libelu era mais radical, mais
ousada, mais intolerante. Isso angariava simpatias. Se a juventude
era rebelde, nós éramos os mais",
lembra Ricardo Melo, hoje editor-sênior da TV Bandeirantes, à
época liderança da Libelu.
"Diziam que nós éramos os Beatles, e a Libelu, os Rolling Stones",
completa Siqueira.
"Era a época de fusão de várias
correntes culturais. Rock mais
MPB. O que importava era manter
a identidade como resistência",
diz Alon Feuerwerker, diretor de
desenvolvimento do Universo Online, à época da liderança da Caminhando.
"A música 'O Que Será' dizia:
'Estão acendendo velas nos becos,
e todos os meninos vão desembestar'. Foi isso que aconteceu. Desembestamos", diz Siqueira.
"Diferentemente da geração dos
anos 60, a nossa é vitoriosa. Todas
as bandeiras foram conquistadas", completa Feuerwerker.
"A geração anterior sofreu uma
derrota atrás da outra. A nossa,
não. Mas a responsabilidade não
era só nossa. Havia uma insatisfação generalizada. Logo depois vieram as greves do ABC. Pegamos
uma fase diferente", afirma Melo.
A linguagem de HQ invadia as
ruas. Na forma de grafites, nasciam os primeiros fanzines, e os
skates começaram a disputar espaço com os carros. 77 foi o ano do
fortalecimento da cultura urbana.
"O ano de 1977 marca a tomada
de consciência de um Brasil industrializado", diz Feuerwerker.
Havia dois tipos de festa, a dos
ortodoxos e a dos heterodoxos. Os
primeiros mantinham-se fiéis à
"revolução". O hit era "Caminhando e Cantando" (Vandré).
Os segundos preferiam "Expresso
2222" (Gil) e "Over the Hills and
Far Way" (Led Zeppelin).
A festa ganhava um duplo sentido. Era um ato de contestação; negava-se o som que tocava em discotecas. Era a maneira de reagir
contra o conformismo narcisista
proposto pela era "disco".
Era não pagar pela cultura oficial, mas criar espaços alternativos. Parte dos jovens se recusava a
pisar num shopping center: costurava sua própria roupa, comprava
acessórios em feiras hippies.
Pregava-se o fim da sociedade de
consumo. A filosofia: "Do it yourself" (faça você mesmo).
Palavras como "independente"
e "alternativo" ganharam relevância. Nascia o pólo de cinema
independente da Vila Madalena
(zona sudoeste paulistana). Uma
nova cultura disputava espaço
com os barões do sistema.
"Foi quando começou a se pensar na questão das drogas, no homossexualismo, na cultura de periferia", diz Marcos Caloy, ex-diretor da UEE, atual coordenador
do Escritório de Ação Cultural da
Unicamp.
Hoje, o que era independente virou oficial, o que era tendência é
partido, o rock e o skate foram industrializados, e os sinais de rebeldia podem ser comprados com
cheques pré-datados em qualquer
shopping center. O ano de 1977 fez
história.
(MARCELO RUBENS PAIVA)
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