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MÚSICA BIZARRA
Gênero filk, que pega inspiração em jedis e no espaço, cresce com troca de arquivos digitais e cria rádio na web
Nerds espalham canções sci-fi pela internet
FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL
O que acontece quando um fã
de ficção científica, desses que se
vestem de Darth Vader para a estréia do último "Guerra nas Estrelas", arranha também um violão?
A resposta chama-se filk, movimento nerd-musical que, apesar
de existir há várias décadas, se espalha por causa da internet, onde
já ganhou até uma rádio.
A origem do termo é uma derivação de folk e, acredita-se, surgiu
por um deslize de digitação no título de um artigo sobre ficção
científica escrito ainda nos anos
1950. O erro virou fato, e hoje há
centenas de compositores e milhares de músicas sob o guarda-chuva filk, cujos versos são cantados em vários gêneros, do rock à
música eletrônica.
"As músicas falam sobre espaço, real e fantasia; tópicos científicos, como computadores e a vida
no futuro; temas de fantasia, como dragões, vampiros e mágica;
todos os gêneros de livro, filme ou
programa de TV de que você já
ouviu falar (e muitos que não conhece); gatos; e combinações de
tudo o que citei", explica à Folha
Mary Creasey, compositora, dona
de loja filk na internet, organizadora de festivais na Califórnia e,
na vida terráquea, técnica eletrônica dos Correios dos EUA.
"Você quer jovens na Lua que
precisam de um sindicato? Temos
músicas sobre isso. Quer caminhoneiros carregados de asteróides com problemas mecânicos?
Temos músicas sobre isso. Se você quiser gatos no espaço, também temos", diz ela, que é casada
com outro ativista filker, John.
A imensa maioria das músicas
filk são paródias. Como "Lola", o
clássico dos Kinks que virou "Yoda" na versão do "filk-star" Weird
al Yankovic. O mestre jedi também foi homenageado numa versão de "YMCA", do Village People. "Há um compositor para cada dez letristas", diz Mary. "Alguns fazem ambos. Alguns escrevem, mas não cantam. Eu faço os
três, mas na maioria das vezes escrevo apenas as letras", explica.
A pedido da reportagem, ela enviou duas músicas de sua autoria,
uma sobre o telescópio Hubble e
outra sobre "Harry Potter".
Sendo o filk um movimento
nerd, não é nada estranho que a
internet tenha dado um novo impulso à maluquice. Das fitas caseiras gravadas e trocadas em eventos, os filkers agora utilizam a rede mundial para trocar músicas e
organizar eventos. O melhor site
para iniciantes é o www.filk.com,
onde é possível ouvir a rádio e conhecer a história do movimento.
A intensa troca de informações
fez com que os filkers se dividissem em subgêneros: há, por
exemplo os "Holmes filks", dedicados ao detetive mais famoso do
mundo, e os compositores-fãs da
Sociedade do Anacronismo Criativo, sobre a Europa pré-século 17.
Há ainda músicas incorporadas
pelos filkers, como "Space Oddity", de David Bowie, sobre as
desventuras do major Tom.
Mas nem é tudo o que é verde e
vive no espaço é filk. Caretas, os
filkers descartam músicas com
inspiração lisérgica. "Drug songs
não são filk songs", ensina o
filk.com. "Músicas como "White
Rabbit", de Jefferson Airplane,
tem várias referências sobre o espaço e fantasia, mas são referências de pessoas que precisam tomar drogas para experimentar
vôos espaciais. Nós lemos ficção
científica."
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