São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2007

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Crítica/"Roma - 1ª Temporada"

Série usa dose certa de rigor histórico e tom folhetinesco

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Roma não foi construída em um dia. A frase foi cunhada lá atrás, mas, cheia de sabedoria, já indicava que aquele que quisesse contar a história da cidade ia precisar de vários capítulos. E por que não um seriado?
Pois os 12 episódios da primeira temporada de "Roma" provam que, saído dos velhos manuais e entregue às mãos da HBO e da BBC, o enredo cheio de disputas de poder, sexo e violência que compõe a história de Roma ainda é muito atual.
A minissérie -cuja segunda temporada começou no último domingo nos EUA- tem início no ano 52 a.C., quando César se prepara para voltar da Gália e tomar as rédeas da cidade. Termina no ano de 44 a.C., no sangrento episódio da morte do líder por seus próprios pares. Num dos focos do drama, estão as disputas de poder entre César, Pompeu, Marco Antonio e, de modo ainda incipiente, o adolescente Octaviano, filho adotivo de César que se tornará o imperador Augustus.
Nesse cenário atuam as mulheres da nobreza local, Servilia, ex-amante de César que se transforma em sua inimiga, e Atia, sobrinha do ditador. Manipuladoras, elas fazem do sexo uma arma para direcionar os rumos da República. O clima meio lésbico, de "catfight", das cenas de embate entre ambas dificilmente terá sido pensado por outra razão que não a de seduzir o público masculino.
Num segundo foco, tenta-se retratar uma Roma diferente da imagem romantizada que se fixou no imaginário: a de uma cidade asséptica, em que os habitantes têm traços e comportamento delicado e estão cientes de que vivem em um centro "civilizado", num planeta em que ainda reina a "barbárie".
Em "Roma", as ruas são sujas. Mercadores, escravos e ex-soldados se misturam num ambiente também marcado por disputas. Só que, ali, estas visam a sobrevivência e a ascensão social. Como disse um roteirista, era aí que se lutava pelo "sonho romano" -analogia ao célebre "sonho americano".
As questões que dialogam com os dias de hoje são muitas. A principal delas diz respeito às conseqüências do fortalecimento desproporcional de uma potência com relação aos outros povos da época.
A primeira temporada mistura a dose certa entre o rigor histórico e o tom folhetinesco.
Na segunda temporada, entretanto, a série pode escorregar se, impulsada pelo sucesso, errar na mistura para forjar uma trama ainda mais atraente.
Algumas imprecisões foram cometidas (e estão reunidas no verbete http://en.wikipedia.org/wiki/Rome-(TV- series)#Historical-deviations. Até aqui, são detalhes e não comprometem a obra. Mas qualquer abuso no uso de ingredientes ficcionais pode entornar o caldo -e derrubar Roma antes do seu verdadeiro declínio.


ROMA - 1ª TEMPORADA     
Distribuidora:
Warner (R$ 140, em média)


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