|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Roma - 1ª Temporada"
Série usa dose certa de rigor histórico e tom folhetinesco
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Roma não foi construída
em um dia. A frase foi
cunhada lá atrás, mas,
cheia de sabedoria, já indicava
que aquele que quisesse contar
a história da cidade ia precisar
de vários capítulos. E por que
não um seriado?
Pois os 12 episódios da primeira temporada de "Roma"
provam que, saído dos velhos
manuais e entregue às mãos da
HBO e da BBC, o enredo cheio
de disputas de poder, sexo e
violência que compõe a história
de Roma ainda é muito atual.
A minissérie -cuja segunda
temporada começou no último
domingo nos EUA- tem início
no ano 52 a.C., quando César se
prepara para voltar da Gália e
tomar as rédeas da cidade. Termina no ano de 44 a.C., no sangrento episódio da morte do líder por seus próprios pares.
Num dos focos do drama, estão as disputas de poder entre
César, Pompeu, Marco Antonio
e, de modo ainda incipiente, o
adolescente Octaviano, filho
adotivo de César que se tornará
o imperador Augustus.
Nesse cenário atuam as mulheres da nobreza local, Servilia, ex-amante de César que se transforma em sua inimiga, e
Atia, sobrinha do ditador. Manipuladoras, elas fazem do sexo
uma arma para direcionar os
rumos da República. O clima
meio lésbico, de "catfight", das
cenas de embate entre ambas
dificilmente terá sido pensado
por outra razão que não a de seduzir o público masculino.
Num segundo foco, tenta-se
retratar uma Roma diferente
da imagem romantizada que se
fixou no imaginário: a de uma
cidade asséptica, em que os habitantes têm traços e comportamento delicado e estão cientes de que vivem em um centro
"civilizado", num planeta em
que ainda reina a "barbárie".
Em "Roma", as ruas são sujas. Mercadores, escravos e ex-soldados se misturam num ambiente também marcado por
disputas. Só que, ali, estas visam a sobrevivência e a ascensão social. Como disse um roteirista, era aí que se lutava pelo
"sonho romano" -analogia ao
célebre "sonho americano".
As questões que dialogam
com os dias de hoje são muitas.
A principal delas diz respeito às
conseqüências do fortalecimento desproporcional de uma
potência com relação aos outros povos da época.
A primeira temporada mistura a dose certa entre o rigor
histórico e o tom folhetinesco.
Na segunda temporada, entretanto, a série pode escorregar
se, impulsada pelo sucesso, errar na mistura para forjar uma
trama ainda mais atraente.
Algumas imprecisões foram
cometidas (e estão reunidas no
verbete http://en.wikipedia.org/wiki/Rome-(TV- series)#Historical-deviations. Até aqui, são detalhes e não comprometem a
obra. Mas qualquer abuso no
uso de ingredientes ficcionais
pode entornar o caldo -e derrubar Roma antes do seu verdadeiro declínio.
ROMA - 1ª TEMPORADA
Distribuidora: Warner (R$ 140, em
média)
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Bia Abramo: A peleja da bispa e do apóstolo contra o diabo Índice
|