DA REPORTAGEM LOCAL

Para o dramaturgo alemão Heiner Müller (1929-95), o romance "As Ligações Perigosas", que o francês Chordelos de Laclos escreveu no século 18, principia uma espécie de decadência da sociedade capitalista, sistema que, por ironia, os analistas dizem triunfar no século atual. Em 1981, ele adaptou o corrosivo jogo de manipulação daqueles amantes em "Quartett", sete anos antes de o inglês Stephen Frears filmar a história de Laclos.
Não por acaso, numa versão de Gerald Thomas, nos anos 90, a ação se passava num açougue.
Estão em pauta atitudes éticas e morais, crueldades e corrupções nos espaços público e privado. Na leitura do diretor Victor Peralta, que estréia amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, o embate circunscreve um casal em crise.
O "bunker, pós-terceira guerra" sinalizado na rubrica de Müller pode se converter num apartamento cujas janelas dão para a metrópole veloz e ansiosa por futuro.
"É como se o relacionamento estivesse desgastado e houvesse a necessidade do teatro e das máscaras para que os conspiradores pudessem se tocar e se surpreender de alguma maneira", afirma a atriz Beth Goulart, 47, que contracena com Guilherme Leme.
Os intérpretes vivem o casal Valmont e Merteuil, mas também se desdobram ou invertem os papéis, embaralhando gêneros, como estrutura o texto. São seres movidos por raiva e amor, ainda que refratário. "O amante ideal seria cego, surdo e mudo.
O amor das rochas", ouve-se numa cena.
Goulart, Leme e Peralta já haviam trabalhado no espetáculo "Decadência" (2000). Retomaram parceria em 2006, quando "Quartett" estreou no Rio, sob tradução e adaptação de João Gabriel Carneiro. (VS)

QUARTETT
Quando: estréia amanhã; qui. a sáb., às 19h30; dom., às 18h; até 20/4
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, tel. 0/xx/ 11/3113-3651)
Quanto: R$ 15

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