São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVROS

Crítico percorre a arte contemporânea do país

Paulo Sergio Duarte lista 77 artistas para dar "perspectiva histórica" à cena atual

Compilação, que traz DVD feito por Murilo Salles, reúne nomes consagrados e jovens que representam a formação da arte brasileira de hoje


Intervenção urbana "Cruzamento" (2003), realizada por Renata Lucas; artista brasileira estará na próxima Bienal de Veneza

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela fresta da porta, vazam os acordes de "uma música que ainda não está sendo tocada". Paulo Sergio Duarte compara sua lista de 77 artistas contemporâneos brasileiros a ouvir, sem compromisso, uma série de prelúdios: "Improvisações que um intérprete executava para afinar seu instrumento".
No livro que acaba de lançar, "Arte Brasileira Contemporânea - Um Prelúdio", o crítico radicado no Rio elenca os nomes que julga mais relevantes na arte contemporânea do país, entre consagrados e jovens em ascensão, num dicionário visual que inclui um bom DVD a cargo do cineasta Murilo Salles.
Estão lado a lado verbetes sobre os ditos seminais Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape, os colegas de geração do autor, como Carlos Vergara, Antonio Dias, José Resende, Carmela Gross e Tunga, além dos jovens Thiago Rocha Pitta, Marcelo Cidade, Laura Erber, Renata Lucas e Tatiana Blass.
"O recorte foi feito para fazer interagir uma produção mais jovem com outra historicamente situada", diz Duarte, 62.
"A ideia é dar perspectiva histórica à arte contemporânea." Um soco inglês duplicado e folheado a ouro, obra do jovem Marcelo Cidade reproduzida no livro, ilustra essa ideia. Chamado "Amor e Ódio a Lygia Clark", o trabalho atualiza o legado da estética relacional, moldado pela fricção entre histórico e contemporâneo, que Duarte, querendo ou não, imprime nas páginas do livro.
"O que se faz hoje não está dissociado de uma pequena, jovem, porém interessante, tradição", diz Duarte, que foi curador da Bienal do Mercosul, em 2005, e é professor da Universidade Candido Mendes, no Rio. Depois de reduzir uma lista de 300 nomes aos 77 finais, num recorte que, adverte, é "arbitrário e excludente", Duarte constatou que o que se faz hoje, apesar de marcado pela urgência urbana e por preocupações arquitetônicas, está mais leve.
"Digamos que há menos angústia", afirma Duarte. "O peso da angústia é menor do que na arte moderna, movida por ela." Dos "Penetráveis" de Oiticica às pesquisas arquitetônicas de Renata Lucas, Cidade e Joana Csekö, Duarte mostra a evolução de uma arte de carga político-visceral até a ironia atual, mais egocêntrica, mas nem por isso menos relevante.
E ele não está sozinho. Numa série de entrevistas ao crítico, a curadora Lisette Lagnado constata a "saída da menoridade da arte brasileira" e revela que a passividade do artista nunca lhe "caiu bem", enquanto Ivo Mesquita, curador da última Bienal de São Paulo, diz que "tudo ficou mais fácil".


ARTE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA - UM PRELÚDIO

Autor: Paulo Sergio Duarte
Editora: Silvia Roesler Edições de Arte
Onde comprar: disponível nas livrarias Travessa, no Rio, e, em breve, em livrarias de arte em SP
Quanto: R$ 150 (300 págs.)



Texto Anterior: Editor sugeriu a Tezza tomar "umas pingas"
Próximo Texto: Edição de fotos e ensaios avalia obra de Monteiro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.