São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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MODERNISMO DE MASSA

Caracterização de modernistas em "Um Só Coração" é aprovada por pesquisadores de suas obras

Série tem "ibope" com familiares e na USP

DA REPORTAGEM LOCAL

"Uma vez liguei a TV e vi o Mário de Andrade na minha frente", diz Antonio Candido.
A frase do principal crítico literário do país não foi pinçada dos fundos empoeirados de algum arquivo. Candido se referia, em conversa com a Folha, na quinta, à minissérie "Um Só Coração".
O autor de "Formação da Literatura Brasileira" conta que não tem visto o programa, exibido em horário ingrato à sua rotina, mas que num dos poucos fragmentos que assistiu se impressionou com a caracterização do escritor.
"O ator que faz o Mário de Andrade é impressionantemente parecido. Só que o Mário era um palmo mais alto, tinha de 1m86 para mais", lembra Candido.
O crítico, de 85 anos, não sabia ainda com detalhes, mas ele mesmo vai virar personagem, na série que termina 8 de abril (tendo como pano de fundo final o 4º Centenário de São Paulo, em 1954). Será vivido pelo jovem ator Ricca Barros. "Queria que fosse Robert Taylor, Laurence Olivier, Fredric March, Gary Cooper", brinca.
Mesmo sem esses astros do passado, o corpo dramático de "Um Só Coração" vem passando pelos crivos mais exigentes.
Além de impressionar a Candido, o "Mário" da minissérie surpreendeu também a maior especialista do Mário real, que viveu entre 1893 e 1945.
"O Pascoal da Conceição [o ator em questão] veio conversar comigo antes de começar a novela", diz a maior especialista no escritor, Telê Ancona Lopez.
"Passei a ele a fotobiografia "A Imagem de Mário", respondi o que me perguntou e me diverti muito com o espanto das pessoas na USP ao me verem andar por lá acompanhada de... Mário de Andrade. Ele é realmente parecido."
Hoje o ator Pascoal da Conceição já seria reconhecido como Pascoal da Conceição interpretando Mário, dentro da USP. A julgar pelo depoimento de um dos principais especialistas em modernismo do país, "Um Só Coração" tem bom ibope também na universidade.
"Em 43 anos de Brasil nunca assisti a uma telenovela. Agora estou encantado", afirma Jorge Schwartz. O professor da USP diz que, considerando-se que a minissérie não é feita "para os cem especialistas em modernismo, mas para um enorme público", tem "um sabor de época esplêndido, enorme cuidado histórico".
Familiares dos modernistas ouvidos pela Folha também subscrevem. Guilherme Augusto do Amaral, sobrinho de Tarsila, diz: "De modo geral, tudo o que está posto sobre ela é muito coerente". Adelaide Guerrini de Andrade, cunhada de Oswald, qualifica a interpretação dele por José Rubens Chachá de "extraordinária".
Dos personagens principais, um dos poucos que têm a caracterização criticada, por pesquisadores e familiares, é Pagu. "Está exagerada, caricatural, com um exibicionismo excessivo", afirma a destacada oswaldóloga Maria Eugenia Boaventura, da Unicamp.
(CASSIANO ELEK MACHADO)


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