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MODERNISMO DE MASSA
Caracterização de modernistas em "Um Só Coração" é aprovada por pesquisadores de suas obras
Série tem "ibope" com familiares e na USP
DA REPORTAGEM LOCAL
"Uma vez liguei a TV e vi o Mário de Andrade na minha frente",
diz Antonio Candido.
A frase do principal crítico literário do país não foi pinçada dos
fundos empoeirados de algum arquivo. Candido se referia, em
conversa com a Folha, na quinta,
à minissérie "Um Só Coração".
O autor de "Formação da Literatura Brasileira" conta que não
tem visto o programa, exibido em
horário ingrato à sua rotina, mas
que num dos poucos fragmentos
que assistiu se impressionou com
a caracterização do escritor.
"O ator que faz o Mário de Andrade é impressionantemente parecido. Só que o Mário era um
palmo mais alto, tinha de 1m86
para mais", lembra Candido.
O crítico, de 85 anos, não sabia
ainda com detalhes, mas ele mesmo vai virar personagem, na série
que termina 8 de abril (tendo como pano de fundo final o 4º Centenário de São Paulo, em 1954).
Será vivido pelo jovem ator Ricca
Barros. "Queria que fosse Robert
Taylor, Laurence Olivier, Fredric
March, Gary Cooper", brinca.
Mesmo sem esses astros do passado, o corpo dramático de "Um
Só Coração" vem passando pelos
crivos mais exigentes.
Além de impressionar a Candido, o "Mário" da minissérie surpreendeu também a maior especialista do Mário real, que viveu
entre 1893 e 1945.
"O Pascoal da Conceição [o ator
em questão] veio conversar comigo antes de começar a novela", diz
a maior especialista no escritor,
Telê Ancona Lopez.
"Passei a ele a fotobiografia "A
Imagem de Mário", respondi o
que me perguntou e me diverti
muito com o espanto das pessoas
na USP ao me verem andar por lá
acompanhada de... Mário de Andrade. Ele é realmente parecido."
Hoje o ator Pascoal da Conceição já seria reconhecido como
Pascoal da Conceição interpretando Mário, dentro da USP. A
julgar pelo depoimento de um
dos principais especialistas em
modernismo do país, "Um Só Coração" tem bom ibope também
na universidade.
"Em 43 anos de Brasil nunca assisti a uma telenovela. Agora estou encantado", afirma Jorge
Schwartz. O professor da USP diz
que, considerando-se que a minissérie não é feita "para os cem
especialistas em modernismo,
mas para um enorme público",
tem "um sabor de época esplêndido, enorme cuidado histórico".
Familiares dos modernistas ouvidos pela Folha também subscrevem. Guilherme Augusto do
Amaral, sobrinho de Tarsila, diz:
"De modo geral, tudo o que está
posto sobre ela é muito coerente".
Adelaide Guerrini de Andrade,
cunhada de Oswald, qualifica a
interpretação dele por José Rubens Chachá de "extraordinária".
Dos personagens principais,
um dos poucos que têm a caracterização criticada, por pesquisadores e familiares, é Pagu. "Está exagerada, caricatural, com um exibicionismo excessivo", afirma a
destacada oswaldóloga Maria Eugenia Boaventura, da Unicamp.
(CASSIANO ELEK MACHADO)
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