São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2005

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FOTOGRAFIA

Ensaio do cearense vira tema de exposição do Ano do Brasil na França

Chico Albuquerque leva jangadeiros para Paris

Chico Albuquerque/Divulgação
Foto de jangadeiro feita pelo cearense Chico Albuquerque


KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A saga dos jangadeiros da praia do Mucuripe, em Fortaleza, retratada pelo cearense Chico Albuquerque (1917-2000), vira tema de uma exposição em Paris, no Museu da Marinha Nacional, que fica no Palais de Chaillot.
A exposição faz parte dos eventos do Ano do Brasil na França. Os organizadores ainda aproveitaram as fotos para uma homenagem ao centenário da morte do escritor Júlio Verne (1828-1905). O nome da mostra é "Da Jangada de Júlio Verne a Chico Albuquerque", em alusão ao livro do francês intitulado "La Jangada", de 1881, em que ele narra aventuras a bordo de uma enorme jangada que desce o rio Amazonas.
As fotos do ensaio "Mucuripe" foram tiradas em 1952, quando a região de beira-mar de Fortaleza era habitada por pescadores que usavam jangadas de piúba (um tipo de madeira) para enfrentar o mar, bem menos seguras que as jangadas de hoje, que utilizam isopor para poder flutuar.
Dez anos antes, em 1942, Albuquerque já tinha tido um contato muito próximo com os pescadores da região, ao participar das filmagens de "It's All True", obra inacabada do cineasta norte-americano Orson Welles (1915-1985), diretor de "Cidadão Kane" (1941).
Welles chegou ao Ceará para recriar a história de quatro pescadores que saíram de Fortaleza um ano antes, em uma jangada de piúba, e foram até o Rio de Janeiro, para falar com o então presidente Getúlio Vargas. Eles reivindicavam melhorias para as condições de trabalho dos jangadeiros. Albuquerque, com 25 anos, ajudou na fotografia do filme.
As imagens do longa e das fotos de Albuquerque no ensaio "Mucuripe" são bastante semelhantes. O fotógrafo não retratou apenas a luta dos jangadeiros contra as ondas e pela sobrevivência. Mostrou também o cotidiano de suas famílias, das mulheres em casas de palha à espera do retorno incerto dos maridos.
A exposição no Museu da Marinha Nacional da França reúne 30 painéis, de 90 cm por 120 cm, que poderão ser vistos pelo público até 25 de abril, data em que Albuquerque comemoraria 88 anos. Ele morreu em 2000, de infarto.


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