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CINEMA
Documentário sobre síndrome de Down bate concorrentes de peso e conquista o maior número de prêmios do festival
"Do Luto à Luta" se consagra no Cine-PE
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE
"Do Luto à Luta", documentário sobre portadores da síndrome
de Down realizado por Evaldo
Mocarzel, foi o grande vencedor
do Cine-PE 2005 - Festival do Audiovisual.
Além dos troféus Calunga de
melhor longa-metragem pelos júris oficial, popular e da crítica,
"Do Luto à Luta" conquistou
também os prêmios de melhor
documentário, direção, fotografia
e montagem. Um triunfo arrasador, em suma.
O prêmio do público era considerado uma barbada desde a consagradora exibição do filme de
Mocarzel na noite da última quinta. A platéia de quase 3.000 pessoas que superlotou o teatro Guararapes aplaudiu o documentário
em cena aberta inúmeras vezes.
O que foi um tanto surpreendente foi a concentração avassaladora de prêmios num único documentário, num festival em que
o gênero esteve bem representado
também pelos concorrentes
"Aboio", de Marília Rocha, e "Soy
Cuba - O Mamute Siberiano", de
Vicente Ferraz.
"Aboio", vencedor do último
festival de documentários "É Tudo Verdade", busca uma imersão
estética no universo dos vaqueiros do sertão de Minas, Bahia e
Pernambuco, e em sua comunicação peculiar com o gado. É um
lindo filme, mas pouco indicado
para uma platéia tão agitada e carente de emoções fortes.
"Soy Cuba - O Mamute Siberiano" é uma experiência singular de
investigação histórico-cultural
em torno de um filme "maldito",
a co-produção cubano-soviética
"Soy Cuba", realizada em 1963 pelo russo Mikhail Kalatazov.
Projetado para ser um épico de
propaganda da revolução de Fidel
Castro, "Soy Cuba" acabou, por
motivos políticos, desagradando
cubanos e soviéticos. "O Mamute
Siberiano" rastreia a história desse esplendoroso mal-entendido
(o filme original, verdadeira obra-prima, está disponível em DVD)
por meio de depoimentos de cubanos e russos que participaram
da aventura.
Em face dos concorrentes, "Do
Luto à Luta" era, de certa forma, o
documentário mais convencional, baseando-se em depoimentos de portadores da síndrome e
de seus parentes. Mas esses depoimentos são fortíssimos, e o filme
se enriquece com cenas de jovens
Down fazendo de tudo: surfando,
dirigindo automóvel, dançando e
até dirigindo uma seqüência de
cinema.
O resultado é uma obra arrebatadora, que mescla informação e
celebração. Em tempo: Mocarzel,
que realizou anteriormente "À
Margem da Imagem" e "Mensageiras da Luz", tem uma filha com
síndrome de Down.
Diante da força dos documentários, não admira que os longas de
ficção tenham ficado em segundo
plano. Entre eles, "Bens Confiscados" foi de fato o mais relevante,
ao narrar, no melhor registro lírico-político de Carlos Reichenbach, o relacionamento entre
uma enfermeira madura (Betty
Faria) e um adolescente seqüestrado pelo próprio pai, um senador corrupto.
Só o primeiro e magnífico plano
-uma mulher no alto de um prédio, prestes a se jogar- bastaria
para situar o filme de Reichenbach num patamar acima dos
concorrentes.
O colunista José Geraldo Couto viajou
a convite da organização do Cine-PE
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