São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2010

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Saga cênica fica confusa se não for vista em ordem

Primeiro capítulo está em cartaz às terças e sextas; o segundo, às quartas e sábados; e o último, às quintas e domingos

Depois de terem divulgado independência entre episódios, autores voltam atrás e aconselham a assistir série na sequência correta


João Brito/Folha Imagem
Oator Fredy Allan em cena da peça "O Idiota - Uma Novela Teatral", em cartaz no Sesc Pompeia

GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para assistir do início ao fim ao espetáculo "O Idiota - Uma Novela Teatral", é preciso fazer três visitas ao Sesc Pompeia. Não chega a ser teatro feito para quem gosta de novelas. Mas a "saga cênica" dirigida por Cibele Forjaz, adaptação das 600 páginas do romance "O Idiota", de Dostoiévski, também é cheia de personagens e subtramas que se cruzam em pontos diferentes no tempo, formando uma espécie de quebra-cabeça.
Pode ser cansativo. Pode ser divertido também. Quem vê o espetáculo na ordem certa pode ter a agradável sensação de familiaridade com os personagens da peça, no último capítulo, exibido sempre às quintas e aos domingos. O primeiro está em cartaz às terças e às sextas. O segundo, às quartas e aos sábados (leia ao lado dicas para acompanhar a série).
O ator Aury Porto, que interpreta o príncipe Míchkin, acha que foi um erro ter divulgado as partes do espetáculo como peças independentes. "Alguns amigos que assistiram ao espetáculo em ordem inversa tiveram uma compreensão errada da história", diz. "Acho que o ideal é ver na ordem certa."
Na fila para a segunda parte, no sábado, havia gente trocando informações e impressões. A escritora Deborah Goldemberg, 35, entre amigos, comentava o terceiro episódio, que havia visto dias antes: "A hora do trepa-trepa foi para mim algo assim epifânico", relembrou, olhando para o nada.
Assistir à peça fora da ordem não fez muita diferença para ela. Deborah não só já havia lido o livro de Dostoiévski como participou, há dois anos, de um workshop que deu origem ao projeto cênico de Aury Porto, Luah Guimarãez e Cibele Forjaz (leia abaixo). Foi na Oficina Mário de Andrade que, com outros participantes, ela fez sugestões de adaptação para o texto. Na sua versão, a história aconteceria em Brasília. "Para mim, o Idiota seria uma espécie de Eduardo Suplicy", resume.
Na tentativa de explicar a referência, ela faz curta sinopse do livro: "O Idiota" fala de um sujeito "muito bonzinho e meio deslocado do ambiente em que vive". A Rússia ao fundo, no original, apresenta personagens de uma sociedade desamparada de sonhos e ideais. O Idiota, o príncipe Míchkin, é um contraponto ao rancor e desesperança que aflige seus pares. Seu caráter articula um imaginário contagiante. Ao fim do terceiro episódio, o bancário Yuri Capilé, 22, disse que ele próprio saiu "idiota" da peça. "Pelo amor de Deus, onde eu vejo outro deste?", perguntou, em referência ao tipo de espetáculo, em que os intérpretes atuam passando entre o público, tocando os espectadores sempre que podem.
O bancário perdeu o primeiro capítulo por falta de ingressos. Uma falha pessoal que, para ele sim, resultou na sensação de um ponto manco. O calço fica por conta das sinopses, lidas no início de cada um dos espetáculos.


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