|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Saga cênica fica confusa se não for vista em ordem
Primeiro capítulo está em cartaz às terças e sextas; o segundo, às quartas e sábados; e o último, às quintas e domingos
Depois de terem divulgado independência entre episódios, autores voltam atrás e aconselham a assistir série na sequência correta
João Brito/Folha Imagem
|
|
Oator Fredy Allan em cena da peça "O Idiota - Uma Novela Teatral", em cartaz no Sesc Pompeia
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para assistir do início ao fim
ao espetáculo "O Idiota - Uma
Novela Teatral", é preciso fazer
três visitas ao Sesc Pompeia.
Não chega a ser teatro feito para quem gosta de novelas. Mas a
"saga cênica" dirigida por Cibele Forjaz, adaptação das 600
páginas do romance "O Idiota",
de Dostoiévski, também é cheia
de personagens e subtramas
que se cruzam em pontos diferentes no tempo, formando
uma espécie de quebra-cabeça.
Pode ser cansativo. Pode ser
divertido também. Quem vê o
espetáculo na ordem certa pode ter a agradável sensação de
familiaridade com os personagens da peça, no último capítulo, exibido sempre às quintas e
aos domingos. O primeiro está
em cartaz às terças e às sextas.
O segundo, às quartas e aos sábados (leia ao lado dicas para
acompanhar a série).
O ator Aury Porto, que interpreta o príncipe Míchkin, acha
que foi um erro ter divulgado as
partes do espetáculo como peças independentes. "Alguns
amigos que assistiram ao espetáculo em ordem inversa tiveram uma compreensão errada
da história", diz. "Acho que o
ideal é ver na ordem certa."
Na fila para a segunda parte,
no sábado, havia gente trocando informações e impressões. A
escritora Deborah Goldemberg, 35, entre amigos, comentava o terceiro episódio, que
havia visto dias antes: "A hora
do trepa-trepa foi para mim algo assim epifânico", relembrou, olhando para o nada.
Assistir à peça fora da ordem
não fez muita diferença para
ela. Deborah não só já havia lido o livro de Dostoiévski como
participou, há dois anos, de um
workshop que deu origem ao
projeto cênico de Aury Porto,
Luah Guimarãez e Cibele Forjaz (leia abaixo). Foi na Oficina
Mário de Andrade que, com outros participantes, ela fez sugestões de adaptação para o
texto. Na sua versão, a história
aconteceria em Brasília. "Para
mim, o Idiota seria uma espécie
de Eduardo Suplicy", resume.
Na tentativa de explicar a referência, ela faz curta sinopse
do livro: "O Idiota" fala de um
sujeito "muito bonzinho e meio
deslocado do ambiente em que
vive". A Rússia ao fundo, no original, apresenta personagens
de uma sociedade desamparada de sonhos e ideais. O Idiota,
o príncipe Míchkin, é um contraponto ao rancor e desesperança que aflige seus pares. Seu
caráter articula um imaginário
contagiante. Ao fim do terceiro
episódio, o bancário Yuri Capilé, 22, disse que ele próprio saiu
"idiota" da peça. "Pelo amor de
Deus, onde eu vejo outro deste?", perguntou, em referência
ao tipo de espetáculo, em que
os intérpretes atuam passando
entre o público, tocando os espectadores sempre que podem.
O bancário perdeu o primeiro capítulo por falta de ingressos. Uma falha pessoal que, para ele sim, resultou na sensação
de um ponto manco. O calço fica por conta das sinopses, lidas
no início de cada um dos espetáculos.
Texto Anterior: Siga o idiota Próximo Texto: Adaptação foi feita sobre improvisos abertos a testes e opinião do público Índice
|