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MÚSICA
Carlos Núñez faz diário de viagem pelo Brasil
Músico galego, que veio ao país em busca do avô, cruza MPB e música celta em CD
Álbum tem produção de Alê Siqueira e Mário Caldato Jr. e participações de Fernanda Takai, Adriana Calcanhotto, Lenine e Carlinhos Brown
MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele não veio ao Brasil a passeio -muito menos tinha intenção de gravar um disco por
aqui. Quando chegou ao país,
em 2007, o gaitista galego Carlos Núñez só pensava em encontrar rastros do avô, o também músico Albino Núñez, que
imigrou da Galícia na virada do
século passado e nunca mais
deu qualquer notícia à família.
Desde a infância, Carlos ouvia dos pais que o avô havia sido
assassinado por um músico
brasileiro, em crime passional,
e, por isso, não voltaria mais.
Conforme foi crescendo, começou a questionar essa versão.
"Passei a suspeitar de que ele
se apaixonara no Brasil e pelo
Brasil, então decidiu nunca
mais retornar à vida passada",
diz. "Quando decidi partir na
viagem, senti que estava passando pelo mesmo processo de
descoberta que ele havia vivido,
só que 100 anos depois."
A aventura, ele diz, foi como
uma predestinação, "um caminho de Santiago". E, no fim das
contas, ainda gerou um álbum,
quase um diário de viagem.
"Alborada do Brasil", que
agora ganha edição nacional
pela Sony, tem produção dos
brasileiros Alê Siqueira e Mário
Caldato Jr. e participações de
Fernanda Takai, Adriana Calcanhotto, Lenine, Carlinhos
Brown, Dominguinhos, Wilson
das Neves, Luisa Maita, Marcelo Jeneci, André Mehmari, entre outros músicos daqui.
"Cheguei ao Brasil trazendo
minha gaita e a música celta e
comecei a conhecer artistas incríveis, que tinham grande curiosidade por mim", conta. "[O
músico] Elomar abriu as portas
da casa dele, numa generosidade enorme. O mesmo posso dizer de [Ariano] Suassuna, [José
Ramos] Tinhorão, de [José]
Miguel Wisnik, e de outros."
São Paulo, ele diz, foi "o coração do disco". Morou perto da
avenida Paulista durante quase
todo o período de gravação, que
aconteceu em estúdio na Serra
da Cantareira.
Em seu percurso pelo país,
Núñez se deparou com gaiteiros negros e indígenas, encontrando raízes da música celta
na tradição brasileira. A pesquisa o levou a uma carta de Pero Vaz de Caminha, que dizia
ser a gaita o primeiro instrumento a chegar ao Brasil.
"Ela seria depois substituída
pela sanfona -daí as semelhanças entre o forró e a música
irlandesa", diz. "E mesmo o axé
tem melodias de gaita."
Recentemente, a polícia veio
confirmar, por análises grafológicas, que as suspeitas de Núñez, o neto, estavam certas: seu
avô viveu mesmo no Brasil por
um longo período, podendo ter
constituído família por aqui.
"Queria aproveitar essa entrevista para fazer um chamado: quem souber de alguém que
possa ser descendente de Albino Núñez, que mande um recado para mim no www.carlosnunez.com."
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