São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2010

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MÚSICA

Carlos Núñez faz diário de viagem pelo Brasil

Músico galego, que veio ao país em busca do avô, cruza MPB e música celta em CD

Álbum tem produção de Alê Siqueira e Mário Caldato Jr. e participações de Fernanda Takai, Adriana Calcanhotto, Lenine e Carlinhos Brown


MARCUS PRETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele não veio ao Brasil a passeio -muito menos tinha intenção de gravar um disco por aqui. Quando chegou ao país, em 2007, o gaitista galego Carlos Núñez só pensava em encontrar rastros do avô, o também músico Albino Núñez, que imigrou da Galícia na virada do século passado e nunca mais deu qualquer notícia à família.
Desde a infância, Carlos ouvia dos pais que o avô havia sido assassinado por um músico brasileiro, em crime passional, e, por isso, não voltaria mais. Conforme foi crescendo, começou a questionar essa versão.
"Passei a suspeitar de que ele se apaixonara no Brasil e pelo Brasil, então decidiu nunca mais retornar à vida passada", diz. "Quando decidi partir na viagem, senti que estava passando pelo mesmo processo de descoberta que ele havia vivido, só que 100 anos depois."
A aventura, ele diz, foi como uma predestinação, "um caminho de Santiago". E, no fim das contas, ainda gerou um álbum, quase um diário de viagem.
"Alborada do Brasil", que agora ganha edição nacional pela Sony, tem produção dos brasileiros Alê Siqueira e Mário Caldato Jr. e participações de Fernanda Takai, Adriana Calcanhotto, Lenine, Carlinhos Brown, Dominguinhos, Wilson das Neves, Luisa Maita, Marcelo Jeneci, André Mehmari, entre outros músicos daqui.
"Cheguei ao Brasil trazendo minha gaita e a música celta e comecei a conhecer artistas incríveis, que tinham grande curiosidade por mim", conta. "[O músico] Elomar abriu as portas da casa dele, numa generosidade enorme. O mesmo posso dizer de [Ariano] Suassuna, [José Ramos] Tinhorão, de [José] Miguel Wisnik, e de outros."
São Paulo, ele diz, foi "o coração do disco". Morou perto da avenida Paulista durante quase todo o período de gravação, que aconteceu em estúdio na Serra da Cantareira.
Em seu percurso pelo país, Núñez se deparou com gaiteiros negros e indígenas, encontrando raízes da música celta na tradição brasileira. A pesquisa o levou a uma carta de Pero Vaz de Caminha, que dizia ser a gaita o primeiro instrumento a chegar ao Brasil.
"Ela seria depois substituída pela sanfona -daí as semelhanças entre o forró e a música irlandesa", diz. "E mesmo o axé tem melodias de gaita."
Recentemente, a polícia veio confirmar, por análises grafológicas, que as suspeitas de Núñez, o neto, estavam certas: seu avô viveu mesmo no Brasil por um longo período, podendo ter constituído família por aqui.
"Queria aproveitar essa entrevista para fazer um chamado: quem souber de alguém que possa ser descendente de Albino Núñez, que mande um recado para mim no www.carlosnunez.com."


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