São Paulo, Quarta-feira, 21 de Abril de 1999
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BIENAL
Empréstimo é dado como inédito, mas há registro da passagem do manuscrito pelo país
Carta de Pero Vaz já veio ao Brasil

CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

Uma divergência histórica marcará a vinda ao Brasil, no próximo ano, da carta de Pero Vaz de Caminha, primeiro registro feito sobre o descobrimento.
A vinda da carta vem sendo apresentada como um fato inédito -ela jamais teria deixado Lisboa, onde está guardada no arquivo da Torre do Tombo.
Documento existente na Biblioteca Nacional (no centro do Rio) mostra, no entanto, que ela já esteve no Brasil.
O empréstimo da carta foi acertado semana passada em Lisboa pelos ministros da Cultura do Brasil, Francisco Weffort, e de Portugal, Manuel Maria Carrilho.
A exposição da carta, em local ainda não definido, seria uma das atividades programadas para a comemoração dos 500 anos da descoberta do Brasil.
Carrilho, que chegou ao Rio na segunda-feira pela manhã para participar da inauguração da Bienal do Livro, disse à Folha que é a primeira vez que a carta deixa seu país.
"É um documento muito raro e jamais foi emprestado, apesar de já termos recebido vários pedidos de instituições brasileiras. Acho que o guardamos para um momento especial como a comemoração dos 500 anos", disse o ministro da Cultura de Portugal.

Catálogo
Mas um catálogo guardado na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio, datado de 1812, lista a carta de Pero Vaz de Caminha entre os manuscritos que haviam sido trazidos ao Brasil com a biblioteca da Academia Real dos Guardas-Marinhas -mais tarde, rebatizada de Escola Naval.
"Quando a família real veio para o Brasil, trouxe a Academia Real com todos os seus alunos e com sua biblioteca. A carta fazia parte deste acervo", afirmou o historiador Antonio Luiz Porto e Albuquerque, especialista em história naval.
Porto e Albuquerque descobriu que a carta de Pero Vaz de Caminha já havia estado no Brasil ao fazer uma pesquisa sobre os 200 anos de fundação da Escola Naval -criada em Lisboa em 1782.
Na Biblioteca Nacional, encontrou o catálogo, feito em 1812 a pedido do então príncipe regente D. João 6º -mais tarde, D. João 6º-, que queria um inventário dos bens trazidos com a biblioteca da Academia Real dos Guardas-Marinhas.
A referência à carta de Pero Vaz de Caminha está na página 17 do inventário solicitado pelo príncipe regente, datado de 24 de julho de 1812.

Volta para Portugal
De acordo com o historiador, a biblioteca teria chegado ao Brasil em 1810, na embarcação São João Magnânimo, que trouxe ainda outros pertences da escola naval.
À época, a então Academia Real dos Guardas-Marinhas estava alojada no Mosteiro de São Bento, convento de monges beneditinos que até hoje funciona no centro do Rio.
Os documentos pesquisados pelo historiador, no entanto, não registram quando a carta escrita por Pero Vaz de Caminha teria voltado para Portugal.
"Imagina-se que ela tenha saído do Brasil em 1821, quando D. João 6º voltou para Portugal, mas há dúvidas", afirmou.

Data não definida
O ministro da Cultura de Portugal disse que a data da vinda da carta ao Brasil ainda não está definida.
Carrilho disse ainda que caberá ao ministro Francisco Weffort decidir em qual instituição ela ficará exposta.


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