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BIENAL
Empréstimo é dado como inédito, mas há registro da passagem do manuscrito pelo país
Carta de Pero Vaz já veio ao Brasil
CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio
Uma divergência histórica marcará a vinda ao Brasil, no próximo
ano, da carta de Pero Vaz de Caminha, primeiro registro feito sobre o
descobrimento.
A vinda da carta vem sendo apresentada como um fato inédito
-ela jamais teria deixado Lisboa,
onde está guardada no arquivo da
Torre do Tombo.
Documento existente na Biblioteca Nacional (no centro do Rio)
mostra, no entanto, que ela já esteve no Brasil.
O empréstimo da carta foi acertado semana passada em Lisboa
pelos ministros da Cultura do Brasil, Francisco Weffort, e de Portugal, Manuel Maria Carrilho.
A exposição da carta, em local
ainda não definido, seria uma das
atividades programadas para a comemoração dos 500 anos da descoberta do Brasil.
Carrilho, que chegou ao Rio na
segunda-feira pela manhã para
participar da inauguração da Bienal do Livro, disse à Folha que é a
primeira vez que a carta deixa seu
país.
"É um documento muito raro e
jamais foi emprestado, apesar de já
termos recebido vários pedidos de
instituições brasileiras. Acho que o
guardamos para um momento especial como a comemoração dos
500 anos", disse o ministro da Cultura de Portugal.
Catálogo
Mas um catálogo guardado na
seção de manuscritos da Biblioteca
Nacional do Rio, datado de 1812,
lista a carta de Pero Vaz de Caminha entre os manuscritos que haviam sido trazidos ao Brasil com a
biblioteca da Academia Real dos
Guardas-Marinhas -mais tarde,
rebatizada de Escola Naval.
"Quando a família real veio para
o Brasil, trouxe a Academia Real
com todos os seus alunos e com
sua biblioteca. A carta fazia parte
deste acervo", afirmou o historiador Antonio Luiz Porto e Albuquerque, especialista em história
naval.
Porto e Albuquerque descobriu
que a carta de Pero Vaz de Caminha já havia estado no Brasil ao fazer uma pesquisa sobre os 200
anos de fundação da Escola Naval
-criada em Lisboa em 1782.
Na Biblioteca Nacional, encontrou o catálogo, feito em 1812 a pedido do então príncipe regente D.
João 6º -mais tarde, D. João 6º-,
que queria um inventário dos bens
trazidos com a biblioteca da Academia Real dos Guardas-Marinhas.
A referência à carta de Pero Vaz
de Caminha está na página 17 do
inventário solicitado pelo príncipe
regente, datado de 24 de julho de
1812.
Volta para Portugal
De acordo com o historiador, a
biblioteca teria chegado ao Brasil
em 1810, na embarcação São João
Magnânimo, que trouxe ainda outros pertences da escola naval.
À época, a então Academia Real
dos Guardas-Marinhas estava alojada no Mosteiro de São Bento,
convento de monges beneditinos
que até hoje funciona no centro do
Rio.
Os documentos pesquisados pelo historiador, no entanto, não registram quando a carta escrita por
Pero Vaz de Caminha teria voltado
para Portugal.
"Imagina-se que ela tenha saído
do Brasil em 1821, quando D. João
6º voltou para Portugal, mas há
dúvidas", afirmou.
Data não definida
O ministro da Cultura de Portugal disse que a data da vinda da
carta ao Brasil ainda não está definida.
Carrilho disse ainda que caberá
ao ministro Francisco Weffort decidir em qual instituição ela ficará
exposta.
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