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O PREÇO DO SUCESSO
Ex-executivo diz que pagamento para execução de músicas é suborno e defende a criminalização
Jabá incluía até drogas, diz André Midani
Flávio Florido - 3.dez.2001/Folha Imagem
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André Midani, 70, que atuou como presidente de gravadoras no Brasil entre as décadas de 60 e 90 e está aposentado há dois anos |
DA REPORTAGEM LOCAL
A seguir, André Midani fala sobre as formas de pagamento do
jabaculê e de esquemas envolvendo Chacrinha, a gravadora Abril
Music e a rádio Jovem Pan.
(PAS e LM)
Folha - Você quis resistir ao jabá?
Midani - Tive várias interferências no sentido de dizer "vamos
parar com esse negócio". Em 78,
na Warner, estava lançando Baby
e Pepeu, que, como integrantes
dos Novos Baianos, haviam sido
os protegidos do Chacrinha. De
repente, recebo a notícia de que,
se não pagássemos, eles não iam
aparecer em seu programa. Achei
por bem denunciar. Disse à imprensa que Chacrinha queria cobrar jabaculê. Isso me custou caro. Rádios e outros programas de
TV aderiram à causa e passaram a
cobrar também.
Folha - A geração dos anos 80, inclusive artistas seus, contou muito
com Chacrinha para fazer sucesso.
Como terminou sua briga com ele?
Midani - Recebi um recado de
que ele gostaria de se reconciliar.
Almoçamos e ficou aquela mútua
hipocrisia. Fizemos as pazes, sempre nos amamos muito. Chacrinha me convidou ao programa
para receber um prêmio. O filho
dele, Leleco, era quem fazia a programação e foi uma das pessoas
mais militantes [no esquema].
Folha - Os grandes nomes de sucesso pagam jabá?
Midani - Até hoje. No início do
governo FHC, se nos EUA o custo
de lançar uma música no rádio
era de US$ 300 mil por uma canção, no rádio brasileiro era de R$
80 mil a R$ 100 mil, na época em
que um dólar era um real.
Folha - Qual era o peso do orçamento para jabá numa gravadora?
Midani - Quando isso começou,
a verba publicitária era 5% das
vendas. Na época do Chacrinha,
era algo como 10%. Até o momento em que estava militando,
há dois anos, os orçamentos publicitários variavam entre 12% e
16%. Dessa verba, na última vez
que ouvi falar de números, a parte
do jabá podia chegar a 70%.
Folha - O esquema tinha a participação dos donos das emissoras?
Midani - No início, não. Os funcionários de rádio tinham salários
modestos e encontraram um
meio de ganhar mais. Os donos
das rádios ficavam contentes, pois
não tinham que aumentar os salários. Mas a soma de dinheiro foi
ficando maior e certos donos entraram em contato com as gravadoras e disseram: "A partir de
agora quem manda na programação sou eu". Aí era uma relação
profissional. Tutinha, da Jovem
Pan, gostava do disco ou não. Se
ele não gostasse, não pegava acordo financeiro com a companhia,
não havia jeito. Se gostava, ele se
sentava para negociar. E fazia isso
de uma forma profissional: "Vou
tocar tantas vezes por dia, vou fazer um especial". Armava quase
uma operação de marketing.
Folha - Por que as gravadoras não
se uniram para acabar com o jabá?
Midani - Isso foi tentado várias
vezes, mas sempre alguém roía a
corda. Quando a empresa está numa situação de fragilidade orçamentária, a tentação do diabo é
muito grande. A concorrência é
grande. Há, por exemplo, o caso
recente da Abril Music. A companhia entra no mercado e paga o
que tiver que pagar para poder tocar e desestabiliza as outras. O
prejuízo foi de milhões. A sede de
sucesso imediato fez com que a
companhia fosse uma catalisadora da tormenta jabazeira.
Folha - O que acha da proposta de
criminalização do jabá?
Midani - Acho que é indispensável. Se o nome é jabá, suborno ou
campanha promocional (ri), moralmente é um suborno.
Folha - Você pagaria jabá hoje?
Midani - Tudo depende do que
se faz com esse jabá. Vamos supor
que nos 70 a situação fosse como é
hoje. Teria botado jabá em cima
de Caetano, Gil, Chico, Raul Seixas. A coisa começa a ficar pior
quando você pega um artista que
não tenha nenhuma qualidade e
coloca dinheiro por cima.
Folha - Além de dinheiro vivo, jabá também incluía "mercadorias"?
Midani - O que for. Dinheiro,
drogas, prostitutas. Isso já não creio que exista hoje em dia.
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