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BIENAL DO LIVRO
A editora Liz Calder, da Bloomsbury, trará seus achados Julian Barnes e Michael Ondaatje ao festival de Parati
Estrela editorial inglesa fareja o Brasil
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Uma das principais estrelas do mercado editorial inglês, Liz Calder sempre acaba cruzando em sua Via Láctea com dois
fenômenos: jovens escritores que
farão sucesso mais adiante e o
Brasil.
Os primeiros, ela começou a conhecer nos anos 70, quando publicou o romance de estréia de um
rapaz de origem indiana chamado Salman Rushdie. O segundo,
ela descobriu uma década antes,
quando veio passar quatro anos
morando em São Paulo.
Esta semana, a editora inglesa
teve pela primeira vez a chance de
misturar efetivamente as duas
coisas. Não apenas porque ela encontrou no Rio seu velho amigo
Salman Rushdie, convidado da
Bienal. Calder aproveitou o megaevento carioca para anunciar
um velho sonho: está montando
um festival literário internacional
em Parati (RJ).
Na Flip (www.flip.org.br), apelido da Festa Literária de Parati, a
editora vai ter a oportunidade de
intensificar a troca entre seus dois
"companheiros".
Calder já confirmou para a primeira edição do evento brasileiro
um de seus grandes achados literários, o inglês Julian Barnes, e
outro a quem deu empurrão fundamental, o canadense Michael
Ondaatje.
Por pouco ela não trouxe o seu
melhor amigo de hoje, o mago-mirim Harry Potter, que a editora
que ela criou, em 1986, a Bloomsbury, descobriu quando outras
muitas casas inglesas não tinham
percebido o seu feitiço.
"Tentamos trazer J.K. Rowling,
mas ainda não foi desta vez", conta Calder, em conversa com a Folha, no hotel Copacabana Palace.
Ela ainda não desistiu de trazer a
"mãe" de Potter para outras edições do evento, que neste ano será
nos dias 1º, 2 e 3 de agosto na Casa
de Cultura de Parati.
Ali, nas mesas junto com outros
nomões internacionais, à Hobsbawm, a editora terá alguns autores a quem deu trajetória inversa.
É ela quem publica no Reino Unido escritores como Patrícia Melo,
Milton Hatoum, além de outros
que, por timidez, como Rubem
Fonseca, ou motivos transcendentais, como Machado de Assis,
não estarão na Flip. (Em tempo, a
editora Bloomsbury vai publicar
nova coletânea de contos do Machado de Assis traduzida para o
inglês pelo professor John Gledson.)
O autor de "Dom Casmurro",
"um dos meus cinco escritores
prediletos", foi apresentado a Calder por Rushdie, machadófilo de
boa cepa (leia ao lado). A editora
havia passado "batida" pelo bruxo do Cosme Velho quando morou no Brasil, de 1964 a 1968,
acompanhando o então marido,
engenheiro da Rolls-Royce.
"Na época não sabia nada de
português, então trabalhei como
modelo", lembra. Pouco depois
de voltar a Londres, a manequim
de revistas e passarelas brasileiras
logo começou a lidar com livros.
Seu primeiro sucesso foi a publicação de "O Mundo Segundo
Garp", de John Irving, "descoberta" que lhe rendeu convite para a
poderosa editora Jonathan Cape,
onde ficou até 1986.
Por lá, Calder acertou até nos erros. Certa vez, conheceu em um
evento a viúva do presidente chileno Salvador Allende, que lhe
contou que escreveria um livro.
Um ano depois, na Feira de
Frankfurt, ouviu falar em um livro de uma tal Allende. Comprou
sem ler. Quando recebeu os manuscritos, se deu conta que tinha
levado outra coisa, mas gostou e
publicou. Era "A Casa dos Espíritos", estréia de Isabel Allende, que
faria sucesso colossal na Inglaterra e resto do mundo.
E era o famoso "faro" de Liz Calder, que agora fareja mais que tudo o Brasil. "Que brasileiros eu
deveria publicar?", pergunta a
editora, na primeira brecha.
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