São Paulo, domingo, 21 de maio de 2006

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MÔNICA BERGAMO

Ana Ottoni/Folha Imagem
É UM ASTRONAUTA? É UM MARCIANO? Não, é a roupa anti-bomba que Willian Cadman tenta emplacar no Brasil, que considera um bom mercado

Cada um por si e Deus por todos: na semana em que os paulistanos se sentiram em uma guerra, empresários do ramo de segurança se reuniam na Exposec - International Security Fair, em SP, para conhecer as novidades do setor. São armas que disparam eletricidade, portas blindadas e até colete à prova de balas para cachorro. É a maior feira do ramo do Brasil, com previsão de negócios de R$ 90 milhões. Novidade: o que era objeto de desejo de milionários já é consumido pela classe média.

Uma guerra particular

Portas blindadas para apartamentos de classe média que podem ser pagas em até três prestações de R$ 1.200? A opção estava entre os serviços de uma das empresas de segurança com estande na ExpoSec, que SP sediou entre terça e quinta-feira."Já blindamos apartamentos de bairros como Aclimação e Santana. Temos portas de todos os tipos: das mais simples a outras com revestimento em madeira, que custam R$ 8 mil", diz o empresário Cristiano Vargas.

 

Do lado de fora da exposição, o pânico causado pelos ataques do PCC esquentava os negócios dos expositores."Nossa demanda é de 40 portas por mês mas, nesta semana, estamos blindando cinco por dia. Nunca vi tanta procura", relata Vargas.
 

Se a blindagem já está chegando até a classe média, o mercado de novidades para segurança de casas de alto padrão ferveu."Vem cá ver esse aparelho", convida o consultor Dênis Frate, apontando para uma máquina de fumaça."Funciona assim: o ladrão chega ao ambiente, o alarme dispara e, em 15 segundos, a fumaça toma conta de toda a sala. O sujeito não consegue enxergar nada." Será perfeito se o dono da casa puder instalar, para se refugiar (do bandido e da fumaça), um"quarto do pânico" com paredes blindadas na residência. Dênis explica que a máquina"é muito usada em joalherias", mas que também já foi vendida para cerca de 30 casas de bairros como a Granja Viana, onde são usadas para separar o bunker [o"quarto do pânico" blindado] e o resto da casa.
 

Em outro estande, a poucos metros dali, outra novidade: a pistola Taser que, em vez de projéteis, dispara carga elétrica."Não, ela não mata o bandido!", explica Misael Antônio de Sousa, sócio da distribuidora do produto. É, digamos assim, uma espécie de humanização do bang-bang."O bandido ouve, respira, pensa, mas cai durinho no chão, sem conseguir mexer os músculos durante 30 segundos", conta.
 

Outro sucesso da feira: o estande do Centro de Treinamento e Formação de Vigilantes Uzil. Entre os cursos da escola,"Anti-seqüestro" e"Tiro tático", por até R$ 2.600."O curso é para seguranças privados. Mas empresários também freqüentam", diz Eli Rahamim. Ele conta que é ex-soldado do exército de Israel. Veio ao Brasil há dez anos trabalhar com um empresário."O país tem bom mercado. Resolvi ficar."
 

O sul-africano Willian Cadman, representante da Ballistic Body Armour, da África do Sul, busca parceria no país."Procuro um distribuidor dos produtos da empresa." Seu negócio: roupas blindadas, que vão de coletes à prova de balas para cães a trajes refrigerados para sobreviver à explosão de bombas."O terrorismo é mundial", diz ele, para quem o fenômeno"está chegando" ao Brasil.
 

A caminhada de mais alguns passos leva o visitante ao estande da empresa Missão Impossível. De cachimbo na mão, o dono se apresenta:"Eu sou o Kid Marlom Pareja Jr." Pareja não se deixa fotografar."Tenho medo, é perigoso", diz ele. Nas prateleiras, peças com microcâmeras camufladas: um ursinho de pelúcia (para vigiar babás), uma caixa de Marlboro Light, um porta-guardanapo da Pepsi, um capacete de motociclista.
 

Os especialistas exploram um outro nicho: além do pânico de assaltos e seqüestros, empresários têm medo de furtos promovidos por seus próprios funcionários. O consultor Roberto Godoy diz que, em SP, prédios já instalaram tapetes com sensores que"pesam" o funcionário na entrada e na saída."É para saber se ele está levando algo que não deve", afirma Godoy.
 

A invasão de privacidade nas empresas, conta Jae Chung, da Tecvoz, é mais comum do que se pensa. O uso de microcâmeras com captação de áudio aumentou."Há chefes que colocam o microfone embaixo da mesa do funcionário e ficam ouvindo a conversa pelo notebook ligado a ele", revela.
 

A feira atrai donos e funcionários de empresas de segurança. Marcos Kahn é um deles. Consultor de indústrias e condomínios de luxo, ele passou por lá na quarta."Sabe o maior problema da segurança em condomínio?", pergunta."É fácil convencer [o síndico] a gastar R$ 200 mil em recursos eletrônicos e blindagem. Mas ninguém quer pagar bons salários e treinar os funcionários, o que evitaria grande parte dos assaltos."

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