São Paulo, Sexta-feira, 21 de Maio de 1999
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CINEMA - NAS PROFUNDEZAS DO MAR SEM FIM
Tornei-me mais protetora, diz Pfeiffer

CLAUDIO CASTILHO
em Los Angeles

Considerada, aos 41 anos, a mulher mais bonita do showbiz pela revista "People", Michelle Pfeiffer interpreta uma fotógrafa em "Nas Profundezas do Mar sem Fim", que, durante uma reunião com ex-colegas de escola, enfrenta um dos maiores pesadelos de uma mãe: o desaparecimento de um filho.
Leia a seguir trechos de sua entrevista.

Folha - Você declarou no passado que em cada filme que faz há pelo menos uma ou duas cenas que a deixam ansiosa. Nesta produção, qual foi a cena mais difícil?
Michelle Pfeiffer -
Sem dúvida a de quando Beth se dá conta de que seu filho havia desaparecido. O desespero vivido por minha personagem no saguão do hotel me trouxe muita angústia. Fiquei apavorada somente em pensar na possibilidade de que aqueles sentimentos tão fortes de tristeza, tormento e impotência fossem me acompanhar durante toda a fase de gravação. Felizmente isso não ocorreu.
Folha - O assunto do filme chegou a afetar de alguma maneira a relação que tem com seus filhos?
Pfeiffer -
Acredito que me tornei ainda mais protetora de meus filhos. Não me lembro de ter tido pesadelos ou coisa desse tipo, mas passei a refletir sobre uma situação que jamais havia pensado em passar um dia.
Folha - Ao desenvolver sua personagem, você se baseou em casos verídicos?
Pfeiffer -
Não fiz qualquer tipo de pesquisa. Aprendi um pouco de fotografia e sempre que precisava de auxílio recorria à novela, que é extremamente bem escrita e detalhista. O fato de eu ser mãe parece também ter ajudado. Todas as mães têm um sentimento e força comum que parece universal.
Concordo quando dizem que, quando uma mulher se torna mãe, ela passa a ser mãe de todas as crianças. Eu mesma me sinto como se fosse mãe de todas as crianças. Quando escuto histórias tristes e dolorosas como a desse filme, me ponho a imaginar a reação dessas mães em tais circunstâncias.
Folha - Como você reagiria em uma situação semelhante?
Pfeiffer -
Certamente eu chegaria mais próximo da loucura do que a minha personagem. Acho que não teria o controle de Beth. A única coisa que eu tentaria fazer diferente dela seria dar mais atenção ao que meu filho tinha para contar sobre sua própria experiência após o nosso reencontro.
Folha - Como você concilia o papel de mãe, dona-de-casa e sua carreira de atriz?
Pfeiffer -
Sinto-me às vezes culpada por não poder passar o tempo que necessito e gostaria com os meus filhos. Ser mãe é uma constante corrida pelo equilíbrio, as mudanças ocorrem a cada dia e você tem que estar sempre preparada para tomar decisões.
Para mim controle sempre foi algo muito importante. Antes de ter filhos eu praticamente controlava tudo em minha vida. Já após ser mãe as coisas mudaram, já que as crianças são tão imprevisíveis.
Folha - Você leva seus filhos para ver os filmes que faz?
Pfeiffer -
Nem todos. Não quero, por exemplo, que eles me vejam no cinema beijando um outro homem. Certamente, eles, na idade que estão, não vão entender bem o que estou fazendo, que tudo não passa de uma mentira. Admito que os meus filhos me influenciam na escolha de meus projetos.
Folha - No filme, ao contrário de outros papéis de sua carreira, você aparece com uma clara pitada a menos de glamour, mais como uma pessoa de verdade.
Pfeiffer -
Essa é aparência de minha personagem e não a minha. É ela quem não tem glamour algum. Eu sou mais bela pessoalmente que ela, não acha? (risos).
Folha - Como é ser considerada um exemplo de beleza após os 40?
Pfeiffer -
Não me preocupo com a imagem que as pessoas fazem de mim, em especial de meu corpo e exterior. Procuro no momento fazer filmes que me tragam algo novo e que divirtam e orientem as pessoas. Sei que a idade pesa em Hollywood, onde as atrizes têm sempre que aparentar 25 anos.
Acho, no entanto, que essa mentalidade está mudando. Nos últimos dez anos essa mudança passou a ser ainda mais aparente não somente no mundo do cinema americano como na sociedade.
Tenho a sorte de poder continuar minha carreira até quando eu quiser. Se hoje faço o papel de mãe nesse filme, amanhã poderei estar interpretando a avó, e assim por diante. Não vejo problema algum nisso. O importante é fazer sempre aquilo que você ama.


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