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Projeto ensina cinema em pequenos municípios
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Joaquim Paulo de Lima Kaxinawa foi um dos principais
responsáveis pela criação de
uma escrita para a língua hãtxa
kui, antes apenas oral. Agora,
seu filho José de Lima Kaxinawa dá um passo adiante: vai
contar em vídeo a história de
seu pai.
José, 23, é um dos 40 alunos
da segunda turma do Revelando os Brasis, projeto de R$ 1,6
milhão do Ministério da Cultura e do Instituto Marlin Azul,
voltado para municípios com
menos de 20 mil habitantes.
A turma está reunida desde
segunda-feira no Rio para ter
aulas de roteiro, edição e fotografia e aprender a mexer com a
câmera de vídeo para realizar
seus curtas-metragens.
"Essa aventura que vocês estão começando eu invejo", disse, na abertura do curso, Nelson Pereira dos Santos, padrinho dos alunos, selecionados
por uma comissão dentre 870
que enviaram suas sinopses.
José já está acostumado a
usar a câmera. Com uma que
tem, fez um vídeo sobre o cotidiano do povo kaxinawa -chamado por eles de huni kui-,
que vive na aldeia Mibãya, em
Jordão, no Acre. Também filmou, no início de junho, a formatura do pai na Universidade
de Mato Grosso. Joaquim é um
dos poucos kaxinawas a conseguir diploma universitário.
"Meu pai trabalhava em seringal e foi alfabetizado pelos
patrões, mas era proibido de falar a língua indígena. Com a demarcação das nossas terras nos
anos 70, pôde voltar à aldeia e
estudar para criar uma escrita
para nossa língua. Já tenho
imagens dele, mas falta uma
entrevista", conta José, agente
florestal que está se especializando em gestão territorial.
Diversidade
Na abertura do curso, o secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Orlando
Senna, ressaltou a diversidade
do grupo selecionado. O mais
jovem é André da Costa Pinto,
21, de Barra de São Miguel (PB),
e o decano, Luiz Ferreira da Silva, 67, de Piçarras (SC). Há estudantes, professores, agricultores, um motorista de ambulância e um médico.
As cidades contempladas vão
de Ferreira Gomes (AP) ao
Chuí (RS). Dois municípios
paulistas estão na lista: Nova
Europa e Santa Gertrudes.
"O programa não pretende
descobrir cineastas, mas permitir a pessoas de municípios
pequenos ter acesso à linguagem audiovisual. Felizmente,
porém, grupos de cinema surgiram em cidades que tiveram
pessoas na primeira edição",
diz Orlando Senna.
Alguns alunos da turma do
ano passado passaram a ganhar
dinheiro filmando batizados e
casamentos.
O curso acaba no dia 30. Em
seguida, começam as filmagens. Cada participante terá sete dias com a câmera e outros
sete para editar. Em novembro,
os vídeos serão exibidos. Os da
primeira turma vêm sendo
mostrados no canal Futura.
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