São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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Projeto ensina cinema em pequenos municípios

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Joaquim Paulo de Lima Kaxinawa foi um dos principais responsáveis pela criação de uma escrita para a língua hãtxa kui, antes apenas oral. Agora, seu filho José de Lima Kaxinawa dá um passo adiante: vai contar em vídeo a história de seu pai.
José, 23, é um dos 40 alunos da segunda turma do Revelando os Brasis, projeto de R$ 1,6 milhão do Ministério da Cultura e do Instituto Marlin Azul, voltado para municípios com menos de 20 mil habitantes.
A turma está reunida desde segunda-feira no Rio para ter aulas de roteiro, edição e fotografia e aprender a mexer com a câmera de vídeo para realizar seus curtas-metragens.
"Essa aventura que vocês estão começando eu invejo", disse, na abertura do curso, Nelson Pereira dos Santos, padrinho dos alunos, selecionados por uma comissão dentre 870 que enviaram suas sinopses.
José já está acostumado a usar a câmera. Com uma que tem, fez um vídeo sobre o cotidiano do povo kaxinawa -chamado por eles de huni kui-, que vive na aldeia Mibãya, em Jordão, no Acre. Também filmou, no início de junho, a formatura do pai na Universidade de Mato Grosso. Joaquim é um dos poucos kaxinawas a conseguir diploma universitário.
"Meu pai trabalhava em seringal e foi alfabetizado pelos patrões, mas era proibido de falar a língua indígena. Com a demarcação das nossas terras nos anos 70, pôde voltar à aldeia e estudar para criar uma escrita para nossa língua. Já tenho imagens dele, mas falta uma entrevista", conta José, agente florestal que está se especializando em gestão territorial.

Diversidade
Na abertura do curso, o secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Orlando Senna, ressaltou a diversidade do grupo selecionado. O mais jovem é André da Costa Pinto, 21, de Barra de São Miguel (PB), e o decano, Luiz Ferreira da Silva, 67, de Piçarras (SC). Há estudantes, professores, agricultores, um motorista de ambulância e um médico.
As cidades contempladas vão de Ferreira Gomes (AP) ao Chuí (RS). Dois municípios paulistas estão na lista: Nova Europa e Santa Gertrudes.
"O programa não pretende descobrir cineastas, mas permitir a pessoas de municípios pequenos ter acesso à linguagem audiovisual. Felizmente, porém, grupos de cinema surgiram em cidades que tiveram pessoas na primeira edição", diz Orlando Senna.
Alguns alunos da turma do ano passado passaram a ganhar dinheiro filmando batizados e casamentos.
O curso acaba no dia 30. Em seguida, começam as filmagens. Cada participante terá sete dias com a câmera e outros sete para editar. Em novembro, os vídeos serão exibidos. Os da primeira turma vêm sendo mostrados no canal Futura.


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