São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2010

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"Precisamos regenerar áreas centrais"

Norman Foster defende prédio na região da Luz, em SP, para evitar que a cidade expanda mais seus limites

Arquiteto comenta em entrevista inspiração de Oscar Niemeyer: "A energia e criatividade dele são infinitas"

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na segunda parte da entrevista, Norman Foster fala da influência que Oscar Niemeyer exerce sobre ele, se diz entusiasmado com projetos na China e comenta como a arquitetura pode ajudar a regenerar as cidades.
(GUSTAVO FIORATTI)

 

Folha - Você publicou recentemente um artigo sobre Oscar Niemeyer. Que influência ele exerce no seu trabalho?
Norman Foster - Oscar Niemeyer é um fenômeno. Ele foi uma inspiração para mim quando eu ainda era estudante. E ele ainda é. A energia e a criatividade dele são infinitas, sua arquitetura é espantosamente escultórica e sensível.

Você acha que a frase "a forma segue a função", espécie de mandamento entre arquitetos, perdeu sentido nos dias de hoje?
Eu acho que em geral a forma ainda é um desdobramento da função, mas eu talvez tentasse redefinir o entendimento do que é essa função, incluindo aí uma dimensão espiritual. Prédios hoje têm mais encargos do que tinham antes.
Hoje eles devem ser ativos em reduzir uso de energia e, num mundo ideal, até mesmo serem capazes de armazenar energia. Isso hoje também é função.

A intervenção no Reichstag, o Parlamento germânico, em Berlim, é seu projeto mais verde?
Ele é extremamente verde, não sei se é o mais verde. A energia usada para seu funcionamento é tão pequena que ele chega a produzir mais energia do que consome. Acaba funcionando como uma estação de força na nova sede do governo.
Queima combustível reciclável -óleo vegetal refinado- para produzir a energia. O resultado é a redução de 94% na emissão de carbono.

Como o projeto se relaciona com a história daquele lugar?
Em alguns pontos, as camadas nas paredes foram descascadas para revelar impressões escavadas no passado. Em outros aspectos, houve uma mudança radical; a construção de uma cobertura com estrutura pesada, mas com visual leve e transparente.

A China é hoje um tipo de laboratório para arquitetos?
A China é um lugar excitante para trabalhar. Em razão das grandes mudanças políticas no país, está crescendo o apetite por experimentação, ainda que esse exercício deva ocorrer por meio do reconhecimento e da força da cultura chinesa. Eles têm uma arquitetura que funciona em parceria com a natureza, com o uso de ventilação natural e com métodos para reter calor.

O governo do Estado de São Paulo contratou o escritório suíço Herzog & de Meuron para projetar um dos prédios mais caros do país [deve custar R$ 600 milhões], em uma área degradada da capital paulista. Como a arquitetura pode ajudar nesse caso?
Investir na regeneração de áreas centrais é importante para melhorar as condições da comunidade. Projetos como esse atraem moradores para a região, evitam que os limites das cidades expandam ainda mais, sem controle. Áreas como a Nova Luz, que está sendo criada nos arredores desse teatro, são oportunidades para uma urbanização sustentável.

Você já projetou prédios com esses mesmos fins?
O nosso Carré d'Art é exemplo disso. Transformou um quarteirão inteiro na cidade de Nîmes, na França.
O nosso projeto para o sistema de metrô de Bilbao é parte de uma iniciativa mais ampla de regeneração. Os objetivos do governo eram muito claros: facilitar a circulação pela cidade e reduzir o uso de veículos.
E, depois, incentivar investimentos privados, por meio de um projeto público de alta qualidade.


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