São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003 |
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TEATRO ARTES CÊNICAS Evento do Sesc apresenta espetáculos de 11 grupos, como o peruano Yuyachkani e o argentino El Rayo Misterioso Temática política visita o palco de Latinidades
VALMIR SANTOS DA REPORTAGEM LOCAL Num ano que vai se desenhando como excepcional na recepção ao fazer teatral dos países vizinhos, a Mostra Sesc de Artes - Latinidades contribui para conjugar as fronteiras do palco. Após espetáculos de grupos como o Malayerba, do Equador, e El Periférico de Objetos, da Argentina, ambos destaques da recente edição do Festival de São José do Rio Preto (a 451 km de SP), é a vez de conferir o trabalho de mais 11 cias. vindas de países diversos. O segmento teatral do Latinidades contempla grupos "veteranos", como o peruano Yuyachkani, 31, e o uruguaio El Galpón, 54, cujas trajetórias estão intrinsecamente ligadas aos contextos políticos dos regimes militares na região nas décadas de 60, 70 e 80. Radicado em Lima, o Grupo Cultural Yuyachkani traz "Los Musicos Ambulantes" (1983), adaptação do conto clássico "Os Músicos de Bremen", dos Jacob e Wilhelm Grimm, mais conhecido por aqui como "Os Saltimbancos", versão de Chico Buarque. A história dos animais (burro, gato, cão e galo) que caem na estrada em busca de liberdade, tocando e cantando, é espelhada nas lutas sociais das populações negra e indígena do Peru. A direção é de Miguel Rubio Zapata. No elenco, uma das mais respeitadas atrizes daquele país, Teresa Ralli. O El Galpón, sediado em Montevidéu, apresenta duas peças. "Cuentos de Hadas", texto de Raquel Diana, narra sonhos e desilusões de três mulheres durante o regime militar. A direção é de Juan Carlos Moretti. Em "El Lazarillo de Tormes", peça anônima do século 16, El Galpón associa as desventuras do personagem à miséria atual. Entre os destaques da cena contemporânea em Latinidades está o grupo argentino El Rayo Misterioso, 9, que apresenta "MUZ". Para o diretor Aldo El-Jatib Amato, a expressão artística é uma forma de "quebrar o muro da incomunicabilidade" entre os países da região. "A estética do grupo é uma constante intenção de romper, desconstruir e construir uma estrutura cênica que inverta o conceito de "colocar em cena" pelo de "extrair da cena"." Ele explica: "Quando se fala em colocar, há uma intenção, consciente ou não, de encenar "o que eu creio que necessito expressar". E tudo o que se "colocará" em cena será o conhecido, o cultural, o clichê, então não há criação. Nossa luta é contra a intelectualidade, a favor de uma simbiose produtiva entre o sensorial e o emocional". Amato fala sobre o nome da peça e a impossibilidade da concretização do desejo, um dos temas do espetáculo: "Tem um significado que parte do som, da emissão da palavra "MUZ". As sociedades contemporâneas se deixam seduzir por Tanatos, o espírito da autodestruição, em vez de fazer amor com Eros. Por isso não realizam seus desejos, tampouco são felizes. Pode-se ver o resultado desse romance perverso na maioria dos governantes, o pior exemplo de pessoas quanto a instabilidade, mediocridade e violência". Texto Anterior: Mundo gourmet: Villa Amalfi abraça fórmula simples de pizza e grelhados Próximo Texto: Com atores e bonecos, Sobrevento foca o Terceiro Mundo Índice |
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