UOL


São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em "Um Merlin", Antônio Petrin faz reflexão sobre a maturidade

DA REPORTAGEM LOCAL

O mito do velho sábio Merlin, visitado com mais frequência no cinema e na literatura, raramente chega ao palco. Em 1995, a dupla Ricardo Karman e Otávio Donasci criou "A Grande Viagem de Merlin", espetáculo no qual o público era deslocado em caminhão para acompanhá-lo.
Agora, Merlin está de volta ao palco, propriamente dito, em texto de Luís Alberto de Abreu escrito especialmente para Antônio Petrin, com encenação de Roberto Lage. Aos 65 anos, 37 deles dedicados ao teatro, Petrin vê no personagem cindido entre o amor por uma jovem e a construção de uma nação um exercício de reflexão sobre a maturidade.
"Esse herói sábio é pego de surpresa. Ele luta até o último momento, antes de se entregar ao amor, mas, quando aceita, aceita na sua totalidade, se apaixona mesmo", diz Petrin.
O ator faz uma analogia: o mito, na peça de Abreu, é humanizado na medida em que se deixa levar pela jovem Niniane (interpretada por Cristiane Lima), personagem carregada de ambiguidades, pois ela personifica também a morte.
"Tenho a impressão que Merlin demonstra arrogância por ter pensado construir uma nação sem máculas, mas depois percebe que o país idealizado ainda precisa de uma contribuição ao ser humano", diz o ator.
Como nos textos concebidos para a Fraternal Companhia de Artes e Malas-Artes, Abreu explora na dramaturgia de "Um Merlin" a estrutura narrativa na qual o ator ora distancia-se do personagem, ora volta a ele.
É assim que, logo no prólogo, o velho peregrino Merlin discorre sobre si. "Não sou profeta, mas talvez eu seja um errante e, com certeza, vocês saíram de casa animados por essa fé", dirige-se à platéia. "A fé que este desconhecido, este velho ator, este fingidor, que erra pelos palcos possa tocar com dedos leves a corda mais viva de seus corações. A fé que este velho ator possa, sobre este tablado, desfigurar-se em risos, em gestos e em dores da alma, tão fundas, que lhes faça acreditar, por momentos, que vida é o que acontece dentro dos limites deste palco."
Com "Um Merlin", Petrin assume a trilogia de personagens mais velhos que ele abriu com "A Última Gravação de Krapp" (2002), dirigido por Francisco Medeiros. O próximo passo é interpretar uma peça sobre Gepeto, o avô de Pinóquio, homem que desfruta de mais maturidade.
"O Krapp me chamou atenção para o homem decadente, sem esperanças, conformado, que armazena memórias distantes. Precisava de um texto que desse mais perspectiva, como a de "Merlin", sobre um homem movido pela missão de construir uma nação, sobretudo num país tão carente e necessário de mudanças como o Brasil de hoje", diz Petrin.


UM MERLIN - de: Luís Alberto de Abreu. Direção: Roberto Lage. Cenário e figurinos: Márcio Medina. Com: Antônio Petrin e Cristiane Lima. Onde: teatro Aliança Francesa (r. General Jardim, 182, Vila Buarque, SP, tel. 0/xx/11/3123-1753). Quando: estréia amanhã, às 21h30; sáb., às 21h, e dom., às 19h. Quanto: R$ 30. Até 26/10.


Texto Anterior: Com atores e bonecos, Sobrevento foca o Terceiro Mundo
Próximo Texto: Documentário: TV expõe as mil e uma faces de Ziraldo
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.