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Em "Um Merlin", Antônio Petrin
faz reflexão sobre a maturidade
DA REPORTAGEM LOCAL
O mito do velho sábio Merlin,
visitado com mais frequência no
cinema e na literatura, raramente
chega ao palco. Em 1995, a dupla
Ricardo Karman e Otávio Donasci criou "A Grande Viagem de
Merlin", espetáculo no qual o público era deslocado em caminhão
para acompanhá-lo.
Agora, Merlin está de volta ao
palco, propriamente dito, em texto de Luís Alberto de Abreu escrito especialmente para Antônio
Petrin, com encenação de Roberto Lage. Aos 65 anos, 37 deles dedicados ao teatro, Petrin vê no
personagem cindido entre o amor
por uma jovem e a construção de
uma nação um exercício de reflexão sobre a maturidade.
"Esse herói sábio é pego de surpresa. Ele luta até o último momento, antes de se entregar ao
amor, mas, quando aceita, aceita
na sua totalidade, se apaixona
mesmo", diz Petrin.
O ator faz uma analogia: o mito,
na peça de Abreu, é humanizado
na medida em que se deixa levar
pela jovem Niniane (interpretada
por Cristiane Lima), personagem
carregada de ambiguidades, pois
ela personifica também a morte.
"Tenho a impressão que Merlin
demonstra arrogância por ter
pensado construir uma nação
sem máculas, mas depois percebe
que o país idealizado ainda precisa de uma contribuição ao ser humano", diz o ator.
Como nos textos concebidos
para a Fraternal Companhia de
Artes e Malas-Artes, Abreu explora na dramaturgia de "Um Merlin" a estrutura narrativa na qual o
ator ora distancia-se do personagem, ora volta a ele.
É assim que, logo no prólogo, o
velho peregrino Merlin discorre
sobre si. "Não sou profeta, mas
talvez eu seja um errante e, com
certeza, vocês saíram de casa animados por essa fé", dirige-se à
platéia. "A fé que este desconhecido, este velho ator, este fingidor,
que erra pelos palcos possa tocar
com dedos leves a corda mais viva
de seus corações. A fé que este velho ator possa, sobre este tablado,
desfigurar-se em risos, em gestos
e em dores da alma, tão fundas,
que lhes faça acreditar, por momentos, que vida é o que acontece
dentro dos limites deste palco."
Com "Um Merlin", Petrin assume a trilogia de personagens mais
velhos que ele abriu com "A Última Gravação de Krapp" (2002),
dirigido por Francisco Medeiros.
O próximo passo é interpretar
uma peça sobre Gepeto, o avô de
Pinóquio, homem que desfruta
de mais maturidade.
"O Krapp me chamou atenção
para o homem decadente, sem esperanças, conformado, que armazena memórias distantes. Precisava de um texto que desse mais
perspectiva, como a de "Merlin",
sobre um homem movido pela
missão de construir uma nação,
sobretudo num país tão carente e
necessário de mudanças como o
Brasil de hoje", diz Petrin.
UM MERLIN - de: Luís Alberto de Abreu.
Direção: Roberto Lage. Cenário e
figurinos: Márcio Medina. Com: Antônio
Petrin e Cristiane Lima. Onde: teatro
Aliança Francesa (r. General Jardim, 182,
Vila Buarque, SP, tel. 0/xx/11/3123-1753). Quando: estréia amanhã, às
21h30; sáb., às 21h, e dom., às 19h.
Quanto: R$ 30. Até 26/10.
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