São Paulo, domingo, 21 de agosto de 2005

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Compêndio é útil, mas sofre com viés ideológico, dizem lingüistas

DA REPORTAGEM LOCAL

Ambrangente, útil, mas falho. Dois lingüistas ouvidos pela Folha concordam que o "Ethnologue" é o mais amplo estudo do gênero existente, mas apontam deficiências. Para o professor Aryon Rodrigues, 80, da Universidade de Brasília, o catálogo é "o maior inventário de línguas do mundo, o que não se pode desprezar". Mas tem equívocos, como incluir o cafundó como língua, sendo este um código que mistura português e quimbundo, idioma africano, em comunidades quilombolas remanescentes.
O lingüista Eduardo Ribeiro lembra que, até a edição anterior do "Ethnologue", o ofaié era listado como fala já extinta.
"Isto porque a lingüista Sarah Gudschinsky esteve lá nos anos 50 e achou que havia entrevistado o último falante de ofaié", conta.
Segundo Ribeiro, outra língua indígena brasileira, o caingangue, do interior de São Paulo, também é dada como extinta, embora não esteja. Para ele, o "Ethnologue" sofre com a falta de diálogo com a comunidade acadêmica local, e, sobretudo, com o viés ideológico.
"A maioria dos lingüistas da América do Sul acha que não é uma fonte confiável pois se trata justamente de uma instituição de missionários, que não está interessada na diversidade cultural, mas sim em que todos tenham uma mesma crença. E os ritos religiosos estão intimamente ligados às falas", diz Ribeiro. (ES)


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